Aos 79 anos, ela venceu o câncer e hoje ensina que sorrir também é remédio

Iracy Chiad ensinou à família e para si própria lição de otimismo

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Iracy Chiad ensinou à família e para si própria lição de otimismo

Sentada na sala de casa, Iracy Chiad observa pela janela o movimento dos netos que brincam na varanda e pensa como a vida, mesmo com seus altos e baixos, é bela. Ela pensa nas dificuldades que já enfrentou e, escutando as risadas das crianças, entende o que demoramos uma vida para descobrir: somos formados por uma sucessão de aprendizados. E não existe prazo ou tempo certo para isso. Há um ano, ela mesma passou por uma grande lição, que se estendeu a todos os membros da família.

Além de ensinar, a vida surpreende. Quando jovem, Iracy jamais pensou que completaria 80 anos de vida – a serem comemorados em dezembro deste ano. Da mesma forma, ela jamais pensou que enfrentaria um câncer de mama aos 78 e que passaria pelos dramas e dores do tratamento agressivo. E enquanto todos a seu redor lutavam para segurar o choro, ela sorria, serena, mesmo com o risco que a expunha. O segredo de tanto otimismo é o que busquei desvendar.

Conhecida de conhecidos, a história que ela guardava me interessou. “Se for para ajudar as outras pessoas, eu falo com o jornalista, sim”, disse à família após o contato. Assim, fui recebido por ela – Iracy Cardoso Chiad, viúva e mãe de cinco – em sua residência, uma versão mais moderna das “casas de avó”, mas que ainda reúne algumas molduras, móveis e fotos antigas, além das flores no jardim. Intencionalmente, ela trajava rosa e um sorriso de ternura, porque os sorrisos também são de vestir. Parecia ansiosa, mas foi gentil, perdoando meu atraso. E depois da primeira pergunta, não parou mais de falar.

Descoberta

Para poder contar sua história com mansidão no rosto, Iracy precisou vencer a teimosia da médica que insistira em lhe negar uma mamografia. “Quando percebi o caroço fazendo o autoexame, falei pra minha médica que queria fazer a mamografia. Mas ela disse que eu não tinha mais idade para isso. Só quando eu insisti muito é que ela concordou”.

O resultado não trouxe tranquilidade e assustou até a médica: um câncer mamário em 4º estágio, bastante agressivo. A família precisou, em tempo recorde, digerir a ideia de submeter uma mulher quase octogenária à hostilidade de um tratamento daquele porte. Naquele momento, diante da pior notícia inesperada, não havia chão ou sossego.

Mas foi nessa etapa que a grande lição aconteceu.

“Do câncer? Não, eu nunca tive medo, eu fiquei tranquila. Você sabe o que eu pensava? Que Deus foi muito bom comigo, que eu já tinha quase 80 anos, que meus filhos já estavam todos criados e bem encaminhados. Eu tive coisa mais difícil na vida, vou te falar…”, disse, em tom sereno, manifestando a confiança que, tempos depois, percebi que lhe é peculiar.

“Para nós foi um baque. A gente nem sabia como proceder. Mas a mamãe foi surpreendente. É curioso, mas ela estava sempre alegre, otimista, dizendo coisas bonitas pra gente”, relata a filha caçula, Regiane. “Mesmo com o tratamento pesado, ela estava sempre alto-astral, nunca deixou a peteca cair. Acabou trazendo a gente para encarar o problema de frente, com otimismo”, afirma Marcia, outra filha de Iracy.

A cirurgia para retirada do câncer aconteceu há um ano, mas até janeiro passado foram realizadas 10 sessões de quimioterapia. A partir de março, por 45 dias, Iracy enfrentou a radioterapia, até ser considerada curada. “A quimioterapia foi a etapa mais difícil, mas eu nunca cheguei a chorar, nem quando o cabelo caiu. Na hora que a gente recebe a notícia da doença, a gente fica ‘meio assim’, é um baque. Mas na hora que cai todo o cabelo é que… né? Que cai a ficha”, diz. “Mas era bola pra frente, eu pensava nas dificuldades maiores que vivi, de ter me mudado da casa que meu marido fez com tanto carinho e de tê-lo perdido. Essas dores foram mais fortes na minha vida”.

Aos 79 anos, ela venceu o câncer e hoje ensina que sorrir também é remédio

Fonte de otimismo

Com recuperação quase estabelecida, Iracy já retomou boa parte da rotina de atividades que fazia antes do diagnóstico: acalentar pessoas amadas com sorrisos, brincadeiras com os netos, hidroginástica, tardes de longas conversas com a cunhada e as visitas diárias dos filhos que tanto lhe querem bem.

Um pouco mais íntimo de Iracy, finalmente faço as perguntas que me levaram até ela: de onde surgiu tanto otimismo e confiança de que as coisas vão ficar bem? “Você me pergunta isso e eu te digo que Deus não nos dá cruz mais pesada do que podemos carregar. Meu otimismo vem da minha fé nisso, vem de quando vejo meus filhos maravilhosos, que nunca me deram trabalho. E de Nossa Senhora Aparecida, de quem sou devota”, revelou.

Ou, talvez – penso eu – venha da experiência e da maturidade, dos altos e baixos da vida, quando finalmente se aprende que o que se leva dela são as lições que aprendemos.

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