Internos rebatem problemas apontados pelo MPE 

Depois das denúncias que resultaram em inspeção pela Promotoria de Direitos Humanos do MPE (Ministério Público Estadual), dependentes químicos internados na Chácara Clínica das Almas, região da saída para Três Lagoas, em , defendem o projeto tocado pelo pastor Milton Marques, responsável pelo local. Também negam acusações de que o gestor estaria promovendo trabalho escravo e impedindo os pacientes de irem embora; servindo comida vencida; dando remédio sem receita aos internos e oferecendo dormitórios em condições desumanas.

As defesas e justificativas foram dadas nesta quinta-feira (19) durante a visita de uma equipe de reportagem do Jornal Midiamax à Chácara, localizada próxima do Clube Atlântico.

O interno Guilherme Pedro, de 35 anos, disse que ninguém o prende no local, diferentemente do que tem sido dito. “Eu vim pra cá por conta própria, literalmente, andando. Aqui eu tenho tudo que preciso para largar as drogas, na rua eu não conseguiria”, relata.

O eletricista Felipe Santana, de 27 anos, ressalta que não paga nada para viver na clínica e trabalha só quando é necessário. “Não saio daqui porque acho que terei uma recaída. Hoje eu ajudo na organização, mas cheguei aqui como interno”, diz.

Durante uma convocação feita pelo pastor no local onde são realizados os cultos, os internos falavam, em grupo, para a reportagem os motivos pelos quais gostam de viver no local. “Todos querem ficar aqui, ninguém quer voltar para as ruas. Aqui nós comemos carne, macarrão, salada. Essa história de chamar a chácara de seita é conversa. Aqui é Jesus na veia”, falava em voz alta um interno.

Nesse momento, diversos internos levantavam as mãos pedindo a palavra. Todos defendem o pastor Milton e acentuam que podiam comer pelo menos quatro vezes por dia. “A maioria aqui engordou por ter tantas refeições e ficar longe das drogas. Eu mesmo engordei 10 quilos desde que cheguei”, dizia outro paciente

Acusações

O pastor Milton Marques também rebateu as acusações que vem sofrendo. Segundo ele, durante a inspeção do MPE, foi encontrada manteiga vencida. “Nós ganhamos de doadores. Era para ser usada para fazer sabão e falaram que estava vencida e que íamos dar para os internos”, justificou.

Quanto aos remédios, Milton frisa que só servem para doenças básicas. “Todo mundo tem uma caixinha de remédio em casa. Funciona da mesma forma aqui. Só temos dipirona, para dor; antiácido e antigripal”, diz.

O pastor também rebateu as acusações de que os dormitórios abrigam um número excessivo de internos, bem como de serem barracos com lonas. “Além da parte construída com alvenaria, temos três barracos, com beliches, que cabem cerca de 20 internos. Me falaram que não pode desse jeito, mas onde eu vou colocar esse pessoal que precisa, não temos dinheiro para uma estrutura melhor, vou negar abrigo?”, questiona.

Por fim, o pastor frisa que não recebe dinheiro público para abrigar 107 internos. “Tudo por aqui é mantido por doações dos fiéis da Igreja Tabernáculo da Glória. Não cobramos nada dos pacientes, tudo é gratuito. Mas mesmo assim tem gente falando que está tudo errado”, pontua.

Inspeção

O MPE vem inspecionando a Clínica das Almas desde 2014. Além do MPE, já foram ao local a Vigilância Sanitária, a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública), o CCZ (Coordenadoria de Controle de Zoonoses), a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano), o Cead (Conselho Estadual Antidrogas) e o Corpo de Bombeiros.

O MPE pretende fechar a clínica caso não sejam feitas as adequações. De acordo com o MPE, os internos deverão ser remanejados para outras casas de apoio a dependentes químicos.