Da periferia a Amsterdã: jovem de MG ganha prêmio Anne Frank

“A viagem foi mais legal do que eu imaginava que seria. Fez mudar meu modo de pensar sobre muita coisa. Pretendo voltar lá um dia, quem sabe com meus filhos, contando para eles toda a história da Anne Frank, o sofrimento dela e também sobre a minha redação que me fez conhecer o país.” O […]

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“A viagem foi mais legal do que eu imaginava que seria. Fez mudar meu modo de pensar sobre muita coisa. Pretendo voltar lá um dia, quem sabe com meus filhos, contando para eles toda a história da Anne Frank, o sofrimento dela e também sobre a minha redação que me fez conhecer o país.” O relato é de Willian Junio Moreira de Souza, 15 anos, aluno do 9º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Anne Frank, que fica no bairro Confisco, na periferia de Belo Horizonte (MG).

A viagem a qual se refere o garoto tímido, porém sorridente e sonhador, aconteceu entre os dias 24 e 31 de agosto e teve como destino Amsterdã, na Holanda, cidade que a estudante alemã Anneliese Frank, chamada pelos pais apenas de Anne, morou com a família até todos serem presos e levados para campos de concentração nazistas na Polônia e na Alemanha. Anne relatou em um diário os momentos dramáticos vividos por ela, familiares e amigos entre junho de 1942 e agosto de 1944. Todos se esconderam em um abrigo secreto que ficava nos fundos de uma fábrica em Amsterdã, até que foram descobertos e detidos pelas tropas de Hitler.

Anne e a irmã, Margot, foram separadas dos pais e transferidas para um campo de concentração na Alemanha, onde morreram de tifo em 1945. Os pais das garotas, Otto Frank, foi libertado pelo exército russo e depois repatriado para Amsterdã recebeu o diário de Anne, que foi publicado em 1947.

Passados 67 anos, sentado no banco da escola que leva o nome de Anne, coube a Willian a tarefa de escrever uma redação escolar que trouxesse para os dias atuais uma análise do sofrimento extremo vivido e descrito pela garota durante a Segunda Guerra Mundial. A Alemanha nazista ficou para trás, os ideais doentios de Hitler na busca por uma raça pura, idem, mas a intolerância racial, religiosa e as diferenças sociais e de classes ainda persistem. Mais do que nunca na vida de Willian, jovem negro e de origem humilde que mora em uma casa simples construída em meio lote e que vê na na mãe, a diarista Aurenice Moreira da Cruz, o maior exemplo.

“Hoje, vejo a luta das pessoas por um mundo com igualdade, respeito e sem discriminação social. Vejo os negros lutando para conseguir seu espaço nas universidades, na política e nas empresas públicas; os indígenas lutando para preservar a sua cultura e até para não serem queimados em praça pública; as pessoas despertando e acordando para lutar pelos seus direitos. No período da segunda guerra mundial, as pessoas não tinham nem direito de lutar ou de reivindicar. Acredito que isso é pior: não poder lutar, não ter voz e não ter vez. Hoje, vejo que as pessoas têm mais oportunidades de lutar pelos seus direitos e liberdade de ir e vir. Nisso, vejo que a luta de Anne Frank não foi em vão, pois devido ao seu exemplo, muitas pessoas entendem que reivindicar os seus direitos é uma ação e não o parar e esperar. (…) Anne Frank nunca deve ser esquecida, pois uma simples história muda vidas. Não vamos deixar que esta história de crueldade se repita por meio do bullying, do preconceito, da discriminação, do racismo e muito mais. Todos querem mudar o mundo, o universo, mas ninguém dá o primeiro passo mudando a si mesmo. Mas, apesar disso tudo, eu ainda acredito na bondade humana,” escreveu Willian.

Pela capacidade de percepção e expressão, o rapaz foi o vencedor do concurso nacional de redação promovido pela Confederação Israelita do Brasil (Conib) . O tema deste ano foi “Anne Frank e a Preservação da Memória”. Participaram alunos do 5º ao 9º ano do ensino fundamental da rede de escolas públicas Anne Frank de Belo Horizonte, Palmas, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo. A escola onde Willian estuda teve também a vencedora da categoria para alunos do 6º ao 9º ano. Lídia Helen Oliveira Lopes ganhou um tablet. Alunos das escolas de Palmas e Porto Alegre também foram premiados. No ano passado a instituição de ensino também já havia tido a vencedora nacional, a estudante Lívia Fernanda, 15 anos, colega do atual vencedor.

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