#CGR115:Larga e sinuosa, Avenida Fernando Corrêa da Costa cobriu o Prosa e tirou moradores da lama

O leito poético do córrego Prosa, marcado por ser o berço de Campo Grande deu prejuízos para muitos campo-grandenses. Hoje parte dele esconde-se debaixo do asfalto, mas antes era ‘feio’ de se ver. Moradores da Avenida Fernando Correa da Costa lembram-se muito bem das lembranças que essas águas fizeram questão de deixar. Há 19 anos […]

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O leito poético do córrego Prosa, marcado por ser o berço de Campo Grande deu prejuízos para muitos campo-grandenses. Hoje parte dele esconde-se debaixo do asfalto, mas antes era ‘feio’ de se ver. Moradores da Avenida Fernando Correa da Costa lembram-se muito bem das lembranças que essas águas fizeram questão de deixar.

Há 19 anos Maurício D’ávila, 44, administra uma lanchonete na Avenida Fernando Corrêa da Costa perto da Rua 14 de julho. Ele batizou o próprio negócio com o nome “Alagados”, além de pintar um sapo na parede da lanchonete.

Tudo muito bem sincronizado, sapo é o apelido que Maurício ganhou e alagados surgiu por conta das inundações causadas pelo Prosa, registradas até a década de 90, antes de o trecho do córrego entre a Avenida entre a Rua Pedro Celestino até o Horto Florestal ser canalizado, conforme informações do Arca (Arquivo Histórico de Campo Grande).

“Naquela época estavam construindo o Parque das Nações Indígenas e descia muito barro de lá. Era tudo mato e barranco, quando chovia tudo ficava alagado e carros caiam no córrego. O negócio era feio”, conta.

Maurício relembra que os veículos precisam até ser amarrados às árvores para não serem levados pela enxurrada. No leito do córrego descia de tudo, até botijões de gás rolavam.

“No posto de gasolina aqui perto tinha uma grade com botijões de quando o córrego enchia soltava tudo. Era guri e cheguei a colecionar uns oito, mas ai minha mãe devolvia tudo para o dono. No prédio do antigo Fórum os carros na garagem também se batiam por causa da água, dava dó”, relembra.

Para Maurício, o dono do Alagados, a pior enchente do Prosa aconteceu no ano de 1992. E se ele vivia alagado, o comerciante que prefere ser chamado de Dias foi um guerreiro, pois segundo ele foi necessário reconstruir sua loja de tintas ao menos duas vezes por causa das inundações do Prosa.

“Perdi minha loja completamente e depois montei novamente. Na época da canalização a rua ficou fechada e precisei mudar de endereço por causa da queda nas vendas, mas depois voltei. Hoje vivemos no céu”, diz. Dias relata ainda que as caixas de tintas, pincéis e tantas outras mercadorias iam parar na lama, mas dias depois por incrível que pareça ressurgiam.

“Uns guris do Guanandi chegavam com pincéis e perguntavam se era meu. A água era tanta que os bombeiros precisam amarrar cordas nos postes para a gente passar. Os carros também eram enlaçados para a água não carregar”, observa.

O comerciante rememora que o mês de fevereiro era o pior para todos da região. Antes de se tornar uma das avenidas mais bonitas de Campo Grande, a Avenida Fernando Corrêa da Costa era limitada até à Calógeras, onde existia um ‘buracão’, como retrata o Maurício, do Alagados.

Informações colhidas no Arca dizem que em 1962, Antônio Mendes Canale, que foi prefeito de Campo Grande relatou o cenário às margens do Prosa.

“Sou apaixonado por essas linhas dos córregos! Como nós lutamos por suas margens! (…) Não se chegava à beirada, era tudo fechado. (…) Havia os terrenos, depois vinha uma faixa enorme desse aguapé, dessa folhagem, aí vinha o córrego. (…) Até a Rui Barbosa a gente conseguia chegar na margem, tinha uma pontezinha lá embaixo (…). Daí para cima, quase não se via água, era tudo fechado pelo mato” (Buainain, 2006). Canale foi quem ‘abriu’ a marginal do córrego Prosa, hoje chama de Avenida Fernando Corrêa da Costa.

Que cenário diferente do de hoje, onde para muitos que passam pela Avenida nem sabem que o leito, ali escondido deu muita dor de cabeça para prefeitos e moradores da cidade Morena.

#CGR115: Aniversário de Campo Grande

Em comemoração do aniversário dos 115 anos de Campo Grande, o jornal Midiamax realizou uma série de reportagens sobre as grandes mudanças urbanas que transformaram a cidade.

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