Candidatos LGBT têm baixa votação; ‘vivemos estigma’, diz Jean Wyllys

Apenas 37 dos 270 candidatos que se declararam favoráveis aos direitos de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros conseguiram se eleger nestas eleições. O levantamento foi feito pela BBC Brasil a partir do cruzamento das candidaturas indicadas pelo movimento #voteLGBT – que mapeou políticos cuja campanha ou atuação parlamentar destacaram questões importantes para esta populaçã…

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Apenas 37 dos 270 candidatos que se declararam favoráveis aos direitos de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros conseguiram se eleger nestas eleições.

O levantamento foi feito pela BBC Brasil a partir do cruzamento das candidaturas indicadas pelo movimento #voteLGBT – que mapeou políticos cuja campanha ou atuação parlamentar destacaram questões importantes para esta população – com informações do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sobre os eleitos no último domingo.

Na lista #voteLGBT estão candidatos a senador, deputado federal e deputado estadual filiados a 17 partidos – num espectro que vai do PSDB ao PSTU – em todos os Estados brasileiros.

Proporcionalmente, o Piauí foi o Estado que mais elegeu estes candidatos: metade dos seis mapeados. O Rio de Janeiro vem em seguida, com 30,4% dos 23 candidatos que apoiam a causa LGBT eleitos. O Rio Grande do Norte ficou em terceiro lugar, com 28%.

Entre suas pautas estão a criminalização da homofobia, o direito ao casamento igualitário entre casais do mesmo sexo e o uso em documentos do nome social – e não do nome registrado em certidão de nascimento – por travestis e transexuais.

Mais da metade dos 26 Estados brasileiros, mais o Distrito Federal, não elegeu nenhum dos políticos ligados ao eleitorado homo ou transexual.

‘Estigma’

“Se houver um candidato hetero com as mesmas qualidades de um LGBT, as pessoas ainda optam pelo heterossexual. É um movimento até inconsciente”, disse à reportagem o deputado federal reeleito Jean Wyllys, do PSOL-RJ.

“Nós, homossexuais, crescemos muito em aceitação e visibilidade, mas ainda vivemos um estigma”, afirma. “Existe uma forte homofobia internalizada, que nos afeta diretamente, mesmo que o resto das pessoas nem perceba.”

Dos 37 eleitos, Wyllys é o único cuja principal bandeira e eixo de campanha são as pautas LGBT . Eleito com 144.770 votos, o ex-BBB se tornou o sétimo deputado federal mais votado do Rio de Janeiro em 2014.

“Se você considerar que pastor Everaldo (PSC) e Levy Fidelix (PRTB) tiveram menos da metade dos votos da Luciana (Genro – PSOL), podemos concluir que o campo progressista ainda é maior, mesmo que o conservadorismo venha ganhando expressão”, disse Wyllys.

Apesar de dizer que “é cedo para chegar a qualquer conclusão sobre estas eleições”, Wyllys sugere que os baixos índices de votação em candidatos LGBT podem ser relacionados a outras demandas desta população.

“Talvez a própria comunidade LGBT quisesse representantes que sejam mais plurais”, completou o deputado. “Na minha atuação como parlamentar, que foi 100% pró-LGBT e direitos humanos, sempre vimos o indivíduo como alguém plural: o gay negro, o gay pobre… Essas questões – gênero, identidade religiosa, raça – são indissociáveis.”

Pautas

Em todo o país, 14 Estados – Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Rondônia, Roraima, Santa Catarina e Tocantins – não elegeram candidatos que apoiam as causas LGBT.

São Paulo, principal colégio eleitoral do país, registrou recorde de candidatos declaradamente favoráveis aos direitos dos homo e transexuais – 59 no total.

Destes, quatro foram eleitos deputados federais – Paulo Teixeira (PT), Floriano Pesaro (PSDB), Ivan Valente (PSOL) e Orlando Silva (PCdoB) – e dois assumirão o cargo de deputados estaduais – Leci Brandão (PCdoB) e Carlos Giannazi (PSOL).

Entre os 53 não eleitos está o ativista LGBT Todd Tomorrow (PSOL), que obteve 19.313 votos. Ele ficou em terceiro lugar entre os deputados estaduais mais votados de sua legenda – que só conseguiu eleger os dois primeiros.

Para Tomorrow, o desempenho dos candidatos LGBT ao legislativo teria sido melhor se os partidos tivessem aproveitado as discussões sobre o tema entre os presidenciáveis.

“Acho que foi um erro de avaliação dos partidos. A pauta LGBT não costuma ser central, mas durante o debate eleitoral ganhou o centro. Naquele momento os partidos deveriam ter destacado suas candidaturas LGBT, mas preferiram não se expor para não perderem o voto conservador”, afirma.

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