Brasil também tem adeptos do movimento antivacina que temem possíveis efeitos colaterais

Se nos Estados Unidos, pais que são contra vacinas fazem até festa para as crianças pegarem catapora, aqui no Brasil esse movimento é mais tímido, e o debate se dá muitas vezes em grupos de discussão online. Excesso de vacinas, desconfiança com suas possíveis reações colaterais e pressão da indústria farmacêutica são alguns dos motivos […]

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar

Se nos Estados Unidos, pais que são contra vacinas fazem até festa para as crianças pegarem catapora, aqui no Brasil esse movimento é mais tímido, e o debate se dá muitas vezes em grupos de discussão online.

Excesso de vacinas, desconfiança com suas possíveis reações colaterais e pressão da indústria farmacêutica são alguns dos motivos que levam muitos pais e mães no país a decidirem não vacinar o filho.

Esse movimento antivacina entrou no radar do governo, quando uma pesquisa encomendada pelo ministério da Saúde detectou que a média da vacinação no Brasil era de 81,4%, enquanto que na classe A era de 76,3%.

“Essa queda no estrato mais alto se dá justamente porque alguns pais não vacinam, o que é um problema grave”, disse à BBC Brasil Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.

Ele cita casos de sarampo que surgiram em 2011, na Vila Madalena (zona oeste de São Paulo), que começaram com uma criança não vacinada por opção da família e que atingiram bebê menores de um ano, já que somente após essa idade é indicada a vacina.

“É preciso pensar na imunidade coletiva ou doenças já erradicas podem voltar”, diz Barbosa. “A criança bem nutrida pode não sofrer com a doença, mas, sim, ser a ponte para que o filho da doméstica ou do porteiro sofra com ela.”

Consequências

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) vê como “irresponsável” essa decisão de não dar as doses às crianças, segundo um de seus membros, o infectologista e pediatra Arondo Prohmann de Carvalho.

“Orientados de maneira errônea, esses pais põem em risco não apenas a própria criança, mas toda a população”, diz, lembrando que mesmo doenças consideradas simples, como catapora e sarampo, podem ter consequências graves em crianças que já sofrem com problemas como doenças pulmonares.

No entanto, para o pediatra e neonatologista Carlos Eduardo Corrêa, “é preciso não tornar o consultório uma questão de saúde pública.”

“Sarampo, em criança bem nutrida, não fica grave. Há o pacto social, mas isso é um elemento a mais na discussão, não te obriga a dar todas as vacinas”, diz o médico, que defende que sejam dadas as vacinas do calendário do governo.

‘Pressão mercantil’

Para a terapeuta floral V., que tem dois filhos, a decisão de aplicar ou não as injeções acabou pendendo que fica longe das vacinas. “Meus filhos só tomaram as primeiras doses, depois decidimos não dar mais”, conta.

“Já fui muito criticada, principalmente quando eles eram menores, mas ignoro. Nem conto para a minha família. Acredito que com tantas vacinas, estamos criando gerações de imunidade cada vez pior, criando um sistema imunológico burro.”

Segundo a terapeuta, a decisão vai na linha do princípio de vida da família. “Eu e meu marido temos como princípio não ter medo de doença. Acreditamos que ao ter uma alimentação adequada, hábitos mais saudáveis, estamos promovendo a saúde, que é o contrário da doença.”

“E nunca tivemos provas do contrário. Meus filhos são saudáveis e lidam tranquilamente com as gripes e viroses eventuais.”

Ela diz não ser contra a vacina, mas, sim, contra a obrigatoriedade de se vacinar e critica o que chama de “pressão mercantil”, que faz com que pais deem cada vez mais vacinas e reforços nos filhos.

Se informar

A profissional do turismo P., de São Paulo, diz que mudou de opinião sobre as vacinas à medida que a segunda filha foi crescendo e que foi obtendo mais informações sobre o tema, especialmente na internet.

“Comecei a questionar tantas vacinas quando a pediatra disse para eu não dar a vacina de rotavírus, porque ela era um medicamento muito recente, que ainda não havia sido muito estudado.”

Ela defende pesquisar sobre vacinação ao invés de apenas acatar as determinações dos órgãos de saúde pública. “É preciso pesquisar os elementos das vacinas, esclarecer os prós e contras. O bom de viver na nossa época é justamente encontrar muita informação disponível”, conta P., que deu as vacinas obrigatórias iniciais nas filhas, mas que não dá mais os reforços, a de gripe (influenza) e não pretende dar na filha a vacina de HPV, que o governo faz campanha atualmente.

Vacinas espaçadas

A opção de não dar as vacinas que não são obrigatórias pelo calendário do governo – caso da varicela (catapora) e da gripe, encontra respaldo na visão de alguns pediatras.

“Creio que o programa de vacinação da Secretaria da Saúde é correto e suficiente. Mas tenho restrições contra as vacinas fora do calendário”, diz o pediatra e geneticista Jordão Corrêa.
“Tenho horror à vacina da gripe, vejo muita pneumonia depois de pacientes serem vacinados.

 Também acho um problema a contra catapora, que pode dar reação, produzindo a mesma bolha da doença só que menos intensidade.”

O pediatra, que recomenda que seus pacientes sejam vacinados com as doses obrigatórias, conta que já teve pacientes contrários a todos os tipos de vacinas. “Não concordo. Acho que essas pessoas deviam, por exemplo, ver os pacientes de pólio internados. É uma doença horrível.”
No entanto, ele vê problemas na concentração de muitas vacinas nos três primeiros meses da criança.

“É muita vacina para um bebê. São muitos elementos agressores de uma vez só. Prefiro espaçar um pouco essas doses ao longo dos meses. Se for criança saudável, sem doença crônica, não tem problema. É só não ficar indo em shopping, supermercado, igreja lotada.”

Últimas Notícias

Conteúdos relacionados