Aos 10 anos, menino junta moedas, compra o primeiro carro e dá aula de finanças

Os gurus de finanças pessoais costumam ganhar muito bem com palestras e venda de livros em que ensinam como o devedor pode se transformar em poupador ou como é possível administrar bem as contas e ter sobra de caixa para comprar um imóvel, fazer uma viagem, pagar o estudo dos filhos ou ainda adquirir um […]

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Os gurus de finanças pessoais costumam ganhar muito bem com palestras e venda de livros em que ensinam como o devedor pode se transformar em poupador ou como é possível administrar bem as contas e ter sobra de caixa para comprar um imóvel, fazer uma viagem, pagar o estudo dos filhos ou ainda adquirir um carro.

Mas uma criança de uma cidade do interior do Paraná mostrou que planejamento financeiro não tem idade. Desde os sete anos, Thiago Morales Berce juntou cada centavo para comprar, depois de três anos de economia, o primeiro carro.

Também foi ouvindo as histórias do pai, que teve uma vida difícil desde criança, que Thiago descobriu outra paixão: o Fusca. O pai gostava de contar que aos 13 anos – depois de trabalhar na roça e em uma mercearia – conseguiu ter dinheiro suficiente para comprar um Fusca.

Aos sete anos, Thiago decidiu que também começaria a economizar para comprar o modelo da Volkswagen. Determinado, o menino guardou moedas e o dinheirinho que ganhava em datas especiais, como aniversário e Natal. Uns 20 centavos que sobraram do troco do pão, R$ 10 de presente de algum parente – tudo era guardado na latinha que servia de cofre.

Como os pais têm um pequeno comércio, costumavam trocar o punhado de moedas guardadas por Thiago por cédulas. A mãe, Andréia Morales Berce, teve de abrir uma caderneta de poupança a pedido do menino para que o dinheiro se valorizasse. “No começo nós achávamos graça naquela persistência dele em guardar o dinheiro para comprar um carro, mas com o tempo vimos que a decisão era séria. Ele sempre fazia questão de perguntar quanto já tinha guardado e se sentia importante por ter uma conta no banco”, conta Andréia.

Foram três anos de economia. Até que recentemente Thiago chegou ao total de R$ 2,5 mil e comprou um Fusca ano 1976. Se tivesse guardado o dinheiro em casa, a criança precisaria ter economizado uma média de R$ 2,30 por dia. O valor é baixo e mostra como um menino que nunca ouviu falar de finanças pessoais conseguiu com determinação comprar um carro com apenas dez anos. Com um detalhe: sem financiamento, com pagamento à vista.

Dicas de quem entende:

Thiago deu algumas dicas para quem sonha ser um poupador – seja adulto ou criança.

1) “Só abandone um objetivo se você quiser comprar algo que precisa muito”, ensina. Quem pretende juntar um dinheiro para comprar algo não deve se desviar desse objetivo cada vez que vê na TV uma novidade – seja um brinquedo ou o brinco que faz sucesso na novela das oito.

2) “Não fique esperando, comece a poupar logo”, orienta. Para o garoto paranaense, um dos segredos para conseguir algo que depende de economia é começar logo, sem arranjar desculpa e deixar para amanhã.

3) “É mais seguro deixar o dinheiro no banco. O cofrinho é um bom começo, mas tem gente que pode sofrer a tentação de usar as moedas para alguma necessidade”, avisa Thiago. Depois de juntar as economias na latinha, agora o menino tem um cofre em formato de cofre, um presente do pai.

4) “É melhor não emprestar dinheiro”, diz o menino. “Só emprestava para o meu pai e a minha mãe porque sabia que eles devolveriam”.

A mãe Andréia já ouviu muitas queixas de outras mães que têm dificuldade em ensinar os filhos a economizar. “Nunca conversamos com o Thiago sobre ter de economizar, esse comportamento ele aprendeu sozinho. O que nós ensinamos aos nossos filhos é que nunca se deve dar tudo o que eles querem, que é preciso esperar a hora certa ou batalhar por algo que a gente quer muito”, explica.

Orgulhosa, Andréia comemora a conquista do filho caçula: “Fiquei muito emocionada com a história do meu filho. Ele começou desde cedo a realizar pequenos sonhos, a ser persistente.”

Próximo projeto: turbinar o fusquinha
Agora que cumpriu o primeiro desafio e comprou o Fusca 1976, Thiago traçou uma nova meta. Ele começou a economizar para customizar o carro. A previsão do menino é ter recursos para a reforma geral e personalização do veículo dentro de mais oito anos.

Depois que a história de Thiago começou a ser divulgada, ele passou a ser conhecido como “o menino do Fusca”. Já foi recebido pelo prefeito da cidade, de quem ganhou de presente um fusquinha de brinquedo, foi convidado a participar de alguns Clubes do Fusca do País e até já foi chamado para dar palestra.

Para evitar que a fama repentina atrapalhe a rotina do menino, Andréia costuma acompanhar de perto o assédio pelas redes sociais. “Me preocupo que ele continue a ter uma vida normal, jogando futebol todos os dias, andando de bicicleta e brincando com o tablet”, diz a mãe.

Na estrada com o Fusca

Thiago é o dono do Fusca, mas são os pais, que tem um outro veículo da família, que dirigem o carro. A mãe costuma levá-lo para a escola. Mas quando está ao lado do pai o garoto gosta de passar o dia em algum pesqueiro na zona rural de Assis Chateaubriand. Como as estradas são precárias, nada melhor que o Fusca 1976 para encarar os buracos. Com tanta novidade na vida do menino, até agora só deu tempo de levar a avó e uma prima para passear.

O menino também costuma ser levado de Fusca para o treino de futebol. O lateral direito do time, torcedor do Santos, sonha ser jogador de futebol, assim como os ídolos Neymar e Cristiano Ronaldo. Sobre o ex-craque do Santos, Thiago avalia: “Neymar não tem jeito de quem guarda muito dinheiro.”

Mas se a carreira em campo não der certo, Thiago – que adora estudar matemática e tem notas entre 95 e 100 no boletim – planeja se tornar arquiteto.

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