Turismo espacial avança e pode virar realidade em 2014

Pouco tempo atrás, o turismo espacial ainda gerava grande desconfiança entre especialistas e curiosos. Nos últimos meses, porém, o cenário se modificou: novos testes bem-sucedidos, anúncios e parcerias levam a crer que, em um futuro bem próximo, seres humanos poderão deixar a Terra e voltar a salvo para contar a aventura espacial para amigos e […]

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Pouco tempo atrás, o turismo espacial ainda gerava grande desconfiança entre especialistas e curiosos. Nos últimos meses, porém, o cenário se modificou: novos testes bem-sucedidos, anúncios e parcerias levam a crer que, em um futuro bem próximo, seres humanos poderão deixar a Terra e voltar a salvo para contar a aventura espacial para amigos e familiares.

E talvez esse futuro esteja apenas oito meses distante. Ainda refém de possíveis atrasos técnicos, a viagem inaugural da Virgin Galactic, que promoverá um voo suborbital (altitude acima de 100km) com transmissão ao vivo pela televisão nos Estados Unidos, está prevista para agosto de 2014. Nesse primeiro voo, o dono da companhia, o empresário britânico Richard Branson, 63, será acompanhado por seus filhos, Holly, 31, e Sam, 28.

“Estamos vivendo um momento crucial da exploração espacial”, afirma Naelton Mendes de Araujo, Astrônomo da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro. “Este é o começo (meio timido, mas decidido) de uma transição do estatal para o comercial, do militar para o civil. Isso aconteceu com as grande navegações marítimas e as rotas aéreas de longa distância. Os primeiros jatos eram militares, e hoje temos linhas privadas cobrindo o mundo todo. O lucro espacial certamente vai alavancar avanços enormes e deixar os cofres públicos para fomentar missões de exploração e segurança”.

Dono do grupo Virgin, que vende de CDs a passagens de trem, Branson não é o único bilionário a mirar o espaço. O americano Jeff Bezos, dono da loja virtual Amazon e, mais recentemente, do Washington Post, fundou a empresa aeroespacial Blue Origin no ano 2000, mas manteve segredo sobre suas intenções até recentemente. Ele espera que a terceira versão de seu foguete, que se propõe a levar turistas em voos suborbitais, seja a definitiva. O foguete de Bezos se chama New Shepard, em homenagem ao primeiro americano a se aventurar no espaço, Alan Shepard, em 5 de maio de 1961. Outro bilionário da internet, Elon Musk é o responsável pela SpaceX, empresa que já presta serviço para transporte de carga para a Estação Espacial Internacional (ISS).

Apesar das intenções bilionárias, a projeção de se ter um voo turístico ao espaço no próximo ano ainda deve ser analisada com ressalva. A previsão inicial da Virgin era inaugurar essa era em 2013. “O entrave são os custos. Mandar um voo tripulado ao espaço é extremamente caro. O turismo espacial pode começar a decolar nos próximos anos, mas vai continuar sendo um luxo reservado a poucos, como foi na sua época o Concorde”, acredita Fernando Roig, doutor em astronomia e pesquisador do Observatório Nacional (ON).

Até setembro, a Virgin Galactic já havia recebido depósitos de 630 indivíduos ansiosos para viajar ao espaço, em um total de US$ 80 milhões. Atualmente, a companhia vende passagens por US$ 250 mil (aproximadamente R$ 590 mil). Entre os milionários que já teriam garantido sua passagem estão o casal Brad Pitt e Angelina Jolie, o também ator Ashton Kutcher, o piloto Rubens Barrichello, a socialite Paris Hilton e o físico Stephen Hawking.

Mesmo com tanto interesse e apoio financeiro, a iniciativa leva tempo, já que a tecnologia para voos assim precisa ser desenvolvida, testada, experimentada e lançada apenas quando atingir um elevado nível de segurança. Assim, Duilia Fernandes, pesquisadora associada do Goddard Space Flight Center, da Nasa, adverte: “O turista espacial precisa saber que existem riscos e ter consciência de que os riscos são maiores porque as empresas privadas não têm ainda domínio da tecnologia. Os vôos suborbitais são menos arriscados, pois a tecnologia necessária para fazer o voo é mais simples e exige foguetes de pouca potência para alcançar por volta de 100 km de altitude e retornar à Terra”.

De acordo com o astronauta brasileiro Marcos Pontes, o turismo espacial será uma realidade em breve, e será segura, embora ainda precise enfrentar aspectos da legislação e superar todos os testes finais dos foguetes e veículos. “Esses dois fatores podem ainda causar problemas para o cronograma 2014. De qualquer forma, o fato é o seguinte: em um a três anos haverá voos suborbitais acontecendo, levando centenas de turistas espaciais para ver a Terra da margem do espaço”, estima Pontes, que vende passagens da Virgin Galactic através de sua agência de turismo de aventuras. O astronauta considera, inclusive, retornar ao espaço como piloto contratado de uma empresa privada.

De olho na Lua, há companhias que vão além. A americana Golden Spike, por exemplo, quer mandar expedições turísticas de baixo custo ao satélite natural da Terra já na próxima década. Mas essa é outra história, segundo Duilia: “Uma ida à Lua significa escapar da gravidade da Terra, ou seja, o foguete necessita de mais energia para alcançar a velocidade de escape, e isso torna o voo mais arriscado”.

Conheça as duas empresas espaciais que já vendem passagens para voos turísticos:

Virgin Galactic:

A empresa do bilionário excêntrico Richard Branson se encaminha para se tornar a primeira a realizar voos turísticos suborbitais. A previsão atual é de que isso ocorra em agosto de 2014. Os veículos comportarão até seis turistas e dois pilotos e possibilitarão viagens de 60 a 90 minutos, com sete minutos no espaço, em ambiente de microgravidade, e a visão do nosso planeta. Até agora, os testes da VSS Enterprise e da VMS Eve foram bem-sucedidos. Cada passagem custa US$ 250 mil e mais de 630 já foram vendidas. A base de operações é a Spaceport America, no Novo México.

“O veículo da Virgin, o SpaceShipTwo, é mais seguro que um ônibus espacial pelo fato de decolar acoplado a um avião e só acionar seu motores foguetes bem alto quando se desacopla. Os propelentes usados são muito mais estáveis e usados em menor quantidade. Isso diminui a possibilidade de explosão no lançamento, um dos momentos de maior risco numa missão espacial”, explica o astrônomo Naelton Mendes de Araujo.

XCOR Aerospace:

Em 14 anos, a empresa desenvolveu e construiu 13 tipos diferentes de motores de foguetes, e desenvolve agora a sua próxima geração de veículos, o Lynx, do tipo reutilizável. Trata-se de uma espaçonave de dois lugares que deve levar humanos e cargas e voos suborbitais de meia hora a 100 km de altitude, com sete minutos no espaço. É nesse voo que devem ir para um passeio no espaço, entre o fim de 2014 e o começo de 2015, os 23 vencedores do concurso Axe Apollo Space Academy (AASA).

Como um avião, o Lynx tem um lançamento horizontal e uma aterrissagem horizontal, o que o diferencia dos demais veículos do tipo. Para isso, utiliza um sistema próprio de propulsão por foguete reutilizável. Segundo a companhia, esse sistema permite até quatro voos por dia, baixo custo e foco pleno em segurança. Até setembro, a XCOR, que não tem uma previsão de lançamento comercial, já havia vendido mais de 250 voos. Cada passagem custa hoje cerca de US$ 100 mil.

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