Retirada de cães de instituto afeta teste anticâncer, diz cientista

A retirada de 178 cães da raça beagle de um laboratório em São Roque (a 66 km de São Paulo) comprometeu experimentos avançados de um medicamento para tratamento contra câncer –além de fitoterápicos para usos diversos. A informação é do médico Marcelo Marcos Morales, um dos secretários da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência […]

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A retirada de 178 cães da raça beagle de um laboratório em São Roque (a 66 km de São Paulo) comprometeu experimentos avançados de um medicamento para tratamento contra câncer –além de fitoterápicos para usos diversos.

A informação é do médico Marcelo Marcos Morales, um dos secretários da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e coordenador do Concea (Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

“Um trabalho que demorou anos para ser produzido, que tinha resultados promissores para o desenvolvimento do país, foi jogado no lixo”, disse ele, em referência à invasão do Instituto Royal por ativistas na semana passada.

“O prejuízo é incalculável para a ciência e para o benefício das pessoas”, afirmou.

O cientista não revelou o nome do medicamento desenvolvido, que é protegido por contrato, nem para qual tipo de câncer ele seria usado. Mas informou que se tratava de um tipo de remédio produzido fora do país e que teve a patente quebrada.

O Royal também não detalha os experimentos alegando restrição contratual.

Os fitoterápicos eram baseados em plantas da flora nacional e poderiam ser usados, por exemplo, para combater dor e inflamações.

Ativistas dizem que os cães sofriam maus-tratos. O instituto nega. Ontem ele disse que, quando recuperados, receberão tratamento e podem “ser colocados para doação”.

Doutor em biofísica, Morales afirma que os cientistas “também não querem trabalhar com animais”, mas que o método é ainda o mais eficaz para testes de tratamentos médicos e vacinas.

“Seria possível não nos alimentarmos mais com carne? Com pesquisa é a mesma relação. Deixamos de usar animais e vamos testar vacinas em nossas crianças?”

Para Morales, as pessoas estão “confundindo” animais domésticos com cães que nasceram dentro de biotérios, sob condições controladas e rígidas para o uso científico.

“O apelo do cão é muito grande, tanto é que levaram todos os beagles, mas deixaram todos os ratos.”

A autoridade brasileira responsável por aprovar pesquisas com humanos, a Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa), não avaliza projetos de drogas que não tenham passado por testes de segurança em animais.

Cachorros estão em uma parcela pequena de experimentos científicos –nos quais os camundongos respondem por 74% dos animais. A maioria dos cães é usada para averiguar a toxicidade de medicamentos.

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