Chile: por redução de pena, repressores oferecem informações sobre crimes

Os militares chilenos condenados por violações aos direitos humanos ofereceram neste sábado entregar informação sobre seus crimes em troca de receber benefícios carcerários. A oferta foi feita ao canal CNN Chile pelo advogado René López, defensor do general Manuel Contreras, antigo chefe da Dina, a polícia secreta de Augusto Pinochet, condenado a mais de 300 […]

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Os militares chilenos condenados por violações aos direitos humanos ofereceram neste sábado entregar informação sobre seus crimes em troca de receber benefícios carcerários. A oferta foi feita ao canal CNN Chile pelo advogado René López, defensor do general Manuel Contreras, antigo chefe da Dina, a polícia secreta de Augusto Pinochet, condenado a mais de 300 anos de prisão em dezenas de ações por crimes de contra a humanidade.

A ideia foi rejeitada pela vice-presidente do Agrupamento de Familiares de Detidos Desaparecidos (AFDD), Mireya García, que a qualificou de “chantagem inaceitável”.

Durante a ditadura de Pinochet (1973-1990), cerca de 3,2 mil chilenos morreram nas mãos de agentes do Estado, dos quais 1.192 ainda estão desaparecidos, enquanto cerca de 34 mil foram presos e torturados por motivos políticos.

O advogado López, defensor também de outros oficiais, disse que os detentos da prisão de Punta Peuco, a 35 quilômetros de Santiago, pediram a troca de informação “porque é preciso sentar e conversar”. Ele acha que deve se formar “uma mesa de diálogo” entre os condenados e os familiares de detidos desaparecidos para materializar a iniciativa, e chamou o presidente Sebastián Piñera a respaldá-la.

“Se o presidente autorizar, podemos conversar, formar uma mesa de diálogo, checar antecedentes, buscar por aí e por lá”, explicou. “Está à disposição das Forças Armadas, de Carabineiros, de (a polícia de) Investigações, de todos que participaram desses feitos, de colaborar, de forma concreta e eficaz”, acrescentou.

Perguntado sobre o que pediriam os repressores em troca, disse que “isso é, justamente, o que é preciso sentar para conversar”. Sobre a redução de penas, López respondeu que “poderia ser uma possibilidade”.

A respeito do conteúdo da informação que entregariam os presos, relativizou que “não estou dizendo que todo o povo tem toda a informação, óbvio que sabem de algo, mas não tudo. A ideia é entregar a verdade”, sustentou. “O que estou dizendo é que as partes, conversando diretamente, possam chegar a um entendimento e isso ter resultados positivos”, argumentou.

Chantagem inaceitável

Em entrevista à edição eletrônica do jornal La Tercera, Mireya García disse que a proposta é “uma chantagem inaceitável”, que confirma algo que os familiares das vítimas sempre souberam: “a informação existe”.

“O que devem fazer (os presos) é entregá-la aos tribunais de Justiça e não chantagear com a informação”, disse, e ressaltou: “nós não estamos para mesas de diálogo que buscam na verdade é desculpar”. Para ela, René López “está absolutamente delirante, tudo o que diz é parte do delírio de um advogado que opina de uma óptica extremamente particular e estranha”.

“A mesa de diálogo já existiu (Governo-Forças Armadas, entre agosto de 1999 e junho de 2000) e os resultados foram extremamente negativos, tanto para as instituições (militares) como para as vítimas”, lembrou García. “Não significou mais verdade nem mais justiça, ao contrário, só significou mais angústia para os familiares”, concluiu.

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