Após um ano, ninguém sabe quem matou o jornalista Paulo Rocaro

Jornalistas se uniram nesta quarta-feira (13) para pedir respostas ao andamento das investigações que, ao que tudo indica, estão paradas.

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Jornalistas se uniram nesta quarta-feira (13) para pedir respostas ao andamento das investigações que, ao que tudo indica, estão paradas.

Há um ano, o jornalista Paulo Roberto Cardoso Rodrigues foi assassinado na avenida Brasil em frente ao Hotel Frontier, centro de Ponta Porã, com cinco tiros de pistola 9mm. Era o começo de uma história com várias linhas de investigação e nenhum sinal de solução.

Desde então, muitas hipóteses como crime com motivação política, denúncias sobre tráfico de drogas – que estavam no livro “A Tempestade” –  lançado em 2002 pelo jornalista e desafetos aleatórios com as matérias publicadas foram levadas em consideração, mas sem nenhum desfecho policial ou judiciário.

Mesmo com os simbólicos 8% dos crimes solucionados no Brasil, o que chama a atenção do filho do jornalista, Maycon Rodrigues, não é a característica impunidade brasileira, mas o pouco empenho nas investigações.

“Sempre que procuramos saber na delegacia, com o Secretário de Justiça e Segurança Pública, o Jacini, a resposta é a mesma. ‘Estamos investigando, em pouco tempo teremos novidade.’ Mas nós nunca ficamos sabendo desta novidade. Ninguém consegue ficar sem respostas para um crime brutal”, pondera.

Habituado com o clima tenso da região de fronteira, Maycon explicou que a rotina do pai era de abrir o jornal e publicar matérias fazendo denúncias. “Ninguém pode viver com medo. No dia do crime, meu pai passou o dia em uma reunião política na casa do Vagner Piantoni [ex-prefeito do PT na cidade]”.

“Fui almoçar com ele e ele estava rindo, muito feliz. Meu pai fazia o que gostava, conversava com os amigos, sentava na calçada para tomar tereré. Ele sempre fez denúncias à administração da cidade, tráfico, mas nunca imaginamos que essas denúncias pudessem tomar a proporção de um assassinato”, comentou Maycon em relação à coluna do jornal Mercosul News – Gaivota Pantaneira – , assinada por Paulo Rocaro.

Extrapolado

A coluna do jornalista trazia denúncias e fatos políticos comentados por Rocaro. Ele citava nomes e exercia toda a liberdade concedida pela imprensa para falar sobre o assunto da vez, os descarados e os que corriam nos bastidores.

O colega Edmondo Tazza avalia Rocaro como extrapolado. “Ele era extrapolado, acho que se envolvia demais. Trabalho na cidade há trinta anos e nunca tive problema nenhum, mas é preciso saber com quem vai mexer e sobre quem vai falar”.

Rocaro, nas palavras de Tazza, era um grande jornalista e investigador polêmico, ligando o ventilador e jogando coisas fedorentas na frente, sem nenhum critério.

Liberdade de imprensa

Em matéria publicada pelo jornalista Marcos Emílio Gomes na revista de Jornalismo da ESPM sobre assassinatos desses profissionais no Brasil, figura Paulo Rocaro, junto com Décio Sá, Mário Randolfo Marque Lopes e Laércio Souza.  “Quando nós estamos falando dessas mortes, falamos de crimes contra a liberdade de informação”, frisou, lembrando aos leitores que o problema não era pessoal.

 A discussão cai inevitavelmente na promessa de liberdade de imprensa e o confronto de dois direitos garantidos na Constituição, o 220 – sobre liberdade de expressão e o 5, de defesa da imagem, privacidade e honra.

O jornal The Guardian apresentou uma lista com 70 jornalistas mortos em 2012 e um ranking de países em situação preocupante: Síria, Nigéria, Brasil, Somália, Indonésia e México. Eugenio Bucci, diretor do curso de pós graduação da ESPM, defendeu a matéria do colega, argumentando que “para um jornalista, a liberdade de expressão é um dever.”

Segurança

Colocando o dedo no vespeiro ou não, o direito à Segurança Pública deveria ser garantido para quem quer que exerça qualquer profissão. É o que diz assegurar o Secretário de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul, Wantuir Jacini.

“A proteção, não só à imprensa, mas a toda a sociedade, é universal. Por isso existe a segurança pública, para proteger todos os cidadãos de toda a sociedade”. As explicações do Secretário tornam-se mais evasivas quanto o andamento das investigações sobre a morte de Rocaro.

“Por ser sigilosa, não podemos dizer quais diligências foram feitas sobre a investigação, nem quais restam fazer. Como é uma investigação complexa, é preciso toda a confidencialidade para que se chegue a determinar a autoria e mandantes do crime. Neste tempo, várias linhas de investigação apareceram, outras foram afastadas. Posso garantir que todo o esforço da segurança pública está sendo feito para se chegar aos mandantes”, declarou.

De outubro até o início de fevereiro, a base de inteligência da polícia em Ponta Porã esteve desativada. “Isso porque descobriram o local, que deveria ser sigiloso. Já encontramos outra sede e ela está agora em operação”, declarou Jacini.

O delegado da Polícia Civil responsável pela investigação, Odorico Mesquita, está afastado do cargo para acompanhamento do estado de saúde de sua filha. O delegado substituto, Clemir Vieira, disse não poder comentar sobre o andamento das investigações.

Outros crimes relacionados a jornais locais foram registrados, como a morte do proprietário do Jornal da Praça, também de Ponta Porã, Luiz Henrique Georges, em outubro do ano passado.

Em Campo Grande, o proprietário do jornal UH News, Eduardo Carvalho, foi morto em novembro com cinco tiros. Mesmo não sendo jornalistas, os crimes estariam ligados com o exercício da profissão, o que preocupa a todos. Nenhum deles teve a autoria revelada e continuam sem esclarecimento.

Enquanto isso, o filho de Rocaro continua a trabalhar no jornal Mercosul News. Ele faz parte da equipe administrativa e revela que a rotina deles não mudou. “O único jornalista de denúncias era meu pai, ele causou mudanças na cidade. Tentamos manter o perfil do jornal que ele criou. Mudou um pouco, mas não por medo e sim por serem outras pessoas trabalhando”.

Na manhã desta quarta-feira (13), jornalistas do Clube de Imprensa estiveram em Ponta Porã e manifestaram seu descontentamento com a falta de respostas para o crime em uma carta ao Secretário de Justiça e ao Governador do Estado, André Puccinelli.

No documento, eles citam que o governador declarou que o crime estava próximo de ser solucionado em maio de 2012 e que até o momento está sem respostas. “(…)vem através deste manifestar seu protesto contra a impunidade que reveste toda esta situação, onde a violência pura, bruta e injustificável fez calar, mais uma vez, um profissional de comunicação, um escritor, um membro da Academia Pontaporanense de Letras, extirpando um trabalho que combatia a corrupção, o crime organizado e as injustiças sociais.”

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