A preguiça está corroendo seu patrimônio?
Investir dá trabalho e consome tempo. Isso não é novidade, mas os brasileiros continuam deixando a preguiça afetar a vida financeira. Resultado: o planejamento para construir uma reserva e formar um patrimônio fica de lado. O educador financeiro Mauro Calil é enfático: “O brasileiro tem o DNA de Macunaíma: ‘ai, que preguiça!’”. Na visão do […]
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Investir dá trabalho e consome tempo. Isso não é novidade, mas os brasileiros continuam deixando a preguiça afetar a vida financeira. Resultado: o planejamento para construir uma reserva e formar um patrimônio fica de lado. O educador financeiro Mauro Calil é enfático: “O brasileiro tem o DNA de Macunaíma: ‘ai, que preguiça!’”.
Na visão do professor William Eid Jr., coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP), o comodismo explica os sucessivos recordes de aportes na caderneta de poupança, que em novembro registrou captação líquida de R$ 6,385 bilhões, o maior valor para o mês na série histórica, segundo dados divulgados pelo Banco Central.
Para Calil, a preguiça costuma atrapalhar a busca por conhecimento sobre os diferentes produtos de investimento. “Fazendo um paralelo com a gastronomia, uma pessoa pode preparar uma pizza em casa, o que dá mais trabalho, ou pedir para entregar em casa uma já pronta. No caso das finanças, é a mesma coisa. É preciso ter diligência e consciência de que existe um comportamento melhor”, exemplifica.
Na ponta do lápis, fica mais claro perceber como a preguiça pode afetar os investimentos. De acordo com cálculos feitos por Samy Dana, professor de Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), uma aplicação de R$ 10 mil na poupança, por um período de 12 meses, alcançará rendimento de R$ 616,78, somando R$ 10 616,78.
Com o mesmo valor aplicado, é possível acumular cerca de R$ 131 a mais em um CDB, R$ 145 em um fundo de renda fixa — com taxa de administração de 1,5% ao ano — ou até R$ 263 a mais em uma Letra Financeira do Tesouro (LFT), título pós-fixado do Tesouro Direto.
Status quo
Na área da psicologia econômica, um dos conceitos que explica esse comportamento preguiçoso é o chamado status quo. “Fazer análise é algo trabalhoso. Hoje, temos mais produtos à disposição e o investidor precisa sair do comum. Para quem tem preguiça, buscar novas alternativas é difícil”, explica a economista Maria Ângela Nunes Assumpção. Conservar essa postura é algo que atravessa gerações, de acordo com estudos de finanças comportamentais.
“Os estudiosos perceberam que muitos dos herdeiros mantinham o status de alocação de investimentos feita pelos pais”, complementa Aquiles Mosca, estrategista de investimentos pessoais da Santander Asset Management e autor do livro “Finanças Comportamentais”.
Outros aspectos prejudicam a tomada de iniciativa na hora de investir. Um deles é a “crença na capacidade futura”, segundo Maria Ângela. É a tradicional vontade de deixar para amanhã. “Costumamos pensar dessa forma ao começar um regime alimentar”, exemplifica. A convivência com pessoas que não têm uma boa relação com o dinheiro também atrapalha.
Em outras palavras, quem tem amigos ou familiares com esse perfil corre o risco de seguir o padrão. “A gente não tem essa racionalidade toda que imaginamos. Por isso, nos deixamos levar pelas emoções e nos ancoramos nos hábitos dos outros. O planejamento financeiro requer que a pessoa trabalhe com seu ‘eu frio’”, explica a economista.
Ação
Assim como em outras situações da vida, nas finanças pessoais, combater a preguiça requer esforço e disciplina. “É preciso ler sobre os ativos. As pessoas compram cotas de fundos e não sabem nem qual é a taxa de administração cobrada. Como existem muitas informações, as pessoas precisam se habituar a buscar mais, pesquisar”, reforça Maria Ângela. A falta de tempo não deve servir como desculpa, segundo o professor William Eid Jr.
“O brasileiro típico está preocupado com segurança e comodismo, ele se sente relativamente confortável. Para começar a investir, bastam 15 ou 20 minutos por dia ou por semana para pesquisar sobre as aplicações”, enfatiza.
Essa preocupação com segurança leva à formação de um portfólio que permanece a mesma por muito tempo. “Entra aí a questão do apego aos investimentos, que tem relação direta com a preguiça”, diz a economista. Para Maria Ângela, é importante pensar na longevidade, principalmente quando se fala no envelhecimento da população brasileira.
“Quem está se deixando levar pela manutenção do hábito da poupança, não consegue nem cobrir a inflação”, reforça Aquiles Mosca, do Santander.
Na visão dos especialistas, educação financeira é o ponto crucial desse combate à inércia e à preguiça. “Antigamente, as pessoas buscavam segurança e não havia diversidade no mercado. Hoje em dia, você tem ativos que apresentam uma possibilidade de ganho maior, mas é preciso conhecer direito os produtos”, reforça Maria Ângela.
O primeiro investimento é separar tempo para descobrir o que o mercado oferece. Para Mosca, o investidor precisa ser mais protagonista nessa história.
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