Índio quer participar do agronegócio, afirma terena
O índio quer participar do agronegócio. E as tradições indígenas, como a dança e a religião, não são afetadas com a aquisição de conforto. Índios de todas as etnias querem satisfação pessoal, mas para isso é necessária a movimentação econômica e a ampliação de suas ideias e projetos. As afirmações que parecem originadas de quem […]
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O índio quer participar do agronegócio. E as tradições indígenas, como a dança e a religião, não são afetadas com a aquisição de conforto. Índios de todas as etnias querem satisfação pessoal, mas para isso é necessária a movimentação econômica e a ampliação de suas ideias e projetos. As afirmações que parecem originadas de quem não tem envolvimento com a cultura indígena são de um representante de diversas etnias de Mato Grosso do Sul.
O presidente da Associação Estadual dos Direitos das Comunidades Indígenas de Mato Grosso do Sul, índio terena Danilo de Oliveira, considera que ao mesmo tempo em que os indígenas precisam preservar sua cultura e tradição, também dependem de iniciativas que lhes dêem sustentabilidade econômica. Uma sustentabilidade que, segundo ele, o modelo da agricultura familiar não atende. “Agricultura familiar é um retrocesso para o indígena”, afirma o dirigente, defendendo que o índio deve se tornar um produtor agrícola.
Danilo defendeu seu ponto de vista na tribuna da Assembléia Legislativa de Mato Grosso do Sul e embasa suas declarações na experiência e convívio com integrantes de sete etnias: Guarani, Kaiowá, Terena, Ofaié, Guató, Kinikinawa e Kadiwéu. “Vivemos em uma época diferente dos nossos avós, e para isso é preciso poder econômico”, afirma o indígena, defendendo também a educação como caminho para o desenvolvimento das aldeias. “Não conseguiremos universidade para os nossos filhos, casas e carros, se continuarmos apenas com agricultura familiar. É preciso ampliar”.
O relato do terena retrata os números diagnosticados na pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha, encomendada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que traça o perfil da população indígena no Brasil. A pesquisa aponta que 99% das aldeias do Centro-Oeste praticam a agricultura e 29% se dedicam à criação de animais. Constatou-se também que um terço da população indígena exerce algum tipo de trabalho remunerado e que, além da agricultura, a caça e a pesca são as atividades mais praticadas. Os pesquisadores entrevistaram 337 indígenas na região, em junho e julho deste ano.
Na busca por informações econômicas da comunidade indígena, por meio da pesquisa, verifica-se que a quantidade de aparelhos eletrônicos e programas sociais do Governo Federal tem sido considerável nas comunidades indígenas. O Programa Bolsa Família beneficia atualmente 64% dos entrevistados no território nacional. Dados do Centro-Oeste demonstram que 58% dos indígenas já possuem TV em cores, 25% têm aparelho de DVD, e que a geladeira, o celular e os automóveis estão entre os bens do novo perfil indígena na região.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de MS (Famasul), Eduardo Riedel, sugere a criação de políticas públicas específicas para as comunidades indígenas. “Aumentar a área das aldeias não vai resolver as dificuldades das etnias que vivem em Mato Grosso do Sul. Já temos experiência da Reserva Kadwéu, uma vasta área de 373 mil hectares onde os indígenas vivem em condições precárias. É necessária a elaboração de projetos específicos, pensados para a realidade dessas comunidades, que garantam a viabilidade econômica e sustentável e, ao mesmo tempo, preservem a cultura e tradição desses povos”, afirma o dirigente.
Apesar de esperar o fortalecimento da Fundação Nacional do Índio (Funai), o terena classifica o órgão como “inoperante” e condena sua atuação apenas como instrumento político. “Os grupos de trabalho formados pela Funai (para demarcação de novas áreas indígenas) só servem para movimentar milhões de reais por meio da máfia da diária. Digo isso porque desconheço ações da Fundação que tenham beneficiado os nossos indígenas”, denuncia. Segundo pesquisa do Datafolha, a maioria dos entrevistados, ou 71%, deixa claro que a atuação da entidade está entre ruim, péssima ou regular.
Sobre as reivindicações de novas áreas, o índio terena ressaltou ser favorável ao entendimento pacífico e defendeu que a legalidade jurídica deve prevalecer. “Na história, sempre que o governo deu as costas para o índio, foi o produtor rural quem o apoiou. Não acho inteligente o que vejo, já ouvi falar em índio com armamentos pesados. É necessária a paz no campo, com o índio e produtor caminhando juntos”, finaliza.
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