Há seis anos, Cachoeira era personagem da CPI dos Bingos, a ‘CPI do fim do mundo’

O bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso desde 29 de fevereiro, em conseqüência da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, não é um personagem novo na cena política brasileira. Acusado atualmente de comandar uma quadrilha que explora caça-níqueis, ligada inclusive a empresas contratadas pelo governo federal, foi, entre 2005 e 2006, […]

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O bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso desde 29 de fevereiro, em conseqüência da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, não é um personagem novo na cena política brasileira. Acusado atualmente de comandar uma quadrilha que explora caça-níqueis, ligada inclusive a empresas contratadas pelo governo federal, foi, entre 2005 e 2006, citado em três outras CPIs: a dos Bingos, no Senado, e as mistas dos Correios e da Compra de Votos (Mensalão).

Na CPI dos Bingos, Cachoeira acabou sendo um dos personagens mais investigados, ao lado de Waldomiro Diniz (ex-assessor do então ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu), e do então ministro da Fazenda Antonio Palocci.

Agora, em razão de escutas telefônicas que reforçaram as suspeitas sobre o esquema montado por cachoeira com a possível participação de políticos, uma comissão parlamentar mista de inquérito investigará “as práticas criminosas desvendadas pelas operações Vegas e Monte Carlo da Polícia Federal”. É a “CPI do Cachoeira”.

“Fim do mundo”

Apelidada há seis anos como “CPI do Fim do Mundo”, a CPI dos Bingos investigou ainda vários outros casos, como os assassinatos dos prefeitos petistas de Campinas, Toninho do PT, e de Santo André, Celso Daniel; a “máfia do lixo” em Ribeirão Preto; irregularidades e corrupção na Loterj; o esquema do mensalão; o caso da renovação do contrato entre a multinacional GTech e a Caixa Econômica Federal para o processamento de loterias; a suposta entrada de dólares cubanos para ajudar a campanha do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República e até a máfia do apito no Campeonato Brasileiro de Futebol, entre outros.

A CPI dos Bingos teve papel importante na queda do então ministro da Fazenda Antonio Palocci, acusado de envolvimento com a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa. O caseiro depôs na CPI e afirmou ter visto Palocci na “casa do lobby”, mansão situada no Lago Sul – bairro nobre de Brasília. Segundo denúncias, ex-assessores de Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto usavam a mansão para realizar festas e para firmar negócios com empresários, visando, entre outras coisas, ao tráfico de influência no governo federal.

Cachoeira indiciado

Depois de 356 dias de atividades, o relatório final do então senador Garibaldi Alves Filho (hoje ministro da Previdência Social), com mais de 1.300 páginas, sugeriu o indiciamento de 48 pessoas. Entre elas, o bicheiro Carlinhos Cachoeira, por formação de quadrilha, corrupção passiva, crime contra o procedimento licitatório e improbidade administrativa. As principais acusações contra Cachoeira se referem à sua atuação em irregularidades na renovação de contrato entre a empresa GTech e a CEF de gerenciamento de loterias estaduais.

O colegiado realizou 82 reuniões entre junho de 2005 e junho de 2006, colheu mais de 100 depoimentos e realizou uma acareação com cinco acusados, considerada a maior acareação da história das CPIs no Brasil.

Crime organizado

Foi o senador Magno Malta (PR-ES) que, em março de 2004, requereu a criação da CPI dos Bingos. Contrário à legalização de qualquer tipo de jogo no país, o senador dizia desconfiar que as casas de bingo funcionavam como um canal para a lavagem de dinheiro, além de manterem estreitas ligações com o crime organizado.

A intenção do senador de criar uma CPI para investigar as casas de bingo ficou parada por mais de um ano. A proposta de Magno Malta começou a decolar somente em meados de 2005, quando foi divulgado o teor do vídeo em que Waldomiro Diniz aparecia pedindo propina a Carlinhos Cachoeira.

Diante das denúncias, houve embate entre governistas e oposicionistas a respeitos da instalação da comissão. Coube ao Supremo Tribunal Federal (STF) bater o martelo e autorizar o funcionamento da nova CPI. No dia 29 de junho de 2005, o presidente eleito do colegiado, o então senador Efraim Morais, do DEM da Paraíba, realizou a primeira reunião. O relatório final da “CPI do Fim do Mundo” foi encaminhado ao Poder Judiciário e ao Ministério Público e Receita Federal, motivando a abertura de dezenas de processos contra os acusados.

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