Assessor da Famasul diz que proposta do JBS é válida, mas produtores temem prejuízo

Os credores do frigorífico Independência convocaram nova assembleia para o dia 15 de maio para avaliar a proposta de compra de ativos feita pelo JBS, maior produtor de carne bovina do mundo. A assembleia realizada na segunda-feira (30/04) foi suspensa a pedido JP Morgan, um dos principais credores do Independência, em recuperação judicial desde 2009, com […]

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Os credores do frigorífico Independência convocaram nova assembleia para o dia 15 de maio para avaliar a proposta de compra de ativos feita pelo JBS, maior produtor de carne bovina do mundo.
 
A assembleia realizada na segunda-feira (30/04) foi suspensa a pedido JP Morgan, um dos principais credores do Independência, em recuperação judicial desde 2009, com o objetivo de analisar a proposta apresentada pelo JBS.
 
O JBS anunciou na semana passada proposta para comprar ativos do frigorífico Independência por R$ 268 milhões, em operação assessorada pelo BTG Pactual.
 
A dívida do Independência, que já foi o quarto maior frigorífico do país, é estimada em pouco mais de R$ 1,5 bilhão.
 
Mas se a proposta do JBS for aceita, o frigorífico leva o Independência livre dos débitos, com os credores recebendo montante menor do que esperavam receber.
 
O advogado do JBS Eduardo Munhoz, que apresentou a proposta durante assembleia, ressaltou que a companhia prevê a possibilidade de uma solução rápida e necessária para evitar uma deterioração maior dos ativos.
 
“Nossa visão, é que a proposta permite uma solução com a celeridade necessária para evitar a maior deterioração dos ativos”, disse Munhoz, do escritório Mattos Filhos.
 
Segundo a proposta não vinculante anunciada pelo JBS, o pagamento de R$ 135 milhões será feito com ações da própria companhia, no valor unitário por ação de R$ 7,91 por ação, que deve ser destinado aos “bondholders” de títulos de dívida com vencimento previsto para 2015.
 
O valor restante, R$ 133 milhões, será pago em dinheiro aos restante dos credores, tanto os de garantia real e os quirografários, que inclui pecuaristas e fornecedores.
 
Por volta das 13h50, as ações do JBS operavam em queda de 0,6%, enquanto o Ibovespa caía 0,4%.
 
O plano – “O plano de alienação dos ativos precisa ser aprovado em duas instâncias. “Primeiro, pelos credores em assembleia e depois pelos bondholders (de títulos que vencem em) 2015”, explicou o advogado do JBS.
 
Em uma terceira etapa, este plano também precisará ser aprovado pelos credores das linhas de Adiantamento de Contrato de Câmbio, que não foram originalmente incluídos no plano de recuperação proposto pelo Independência.
 
No caso dos credores quirografários, o plano contempla a transferência da dívida do Independência para o JBS, com deságio, ou seja, em valor inferior ao devido pelo frigorífico que passa pelo processo de recuperação judicial.
 
Segundo Munhoz, uma vez aceita a proposta de compra dos ativos do Independência, há a expectativa de fechar a compra em no máximo 60 dias.
 
“É mais longo do que se gostaria, mas é um prazo real, factível. A ideia é fazer tudo em 30 dias, no máximo”, acrescentou, referindo-se à possibilidade de completar a operação antes do prazo.
 
O diretor de Relações Institucionais do JBS, Francisco de Assis, afirmou que a companhia vê a compra dos ativos como um investimento.
 
“É como comprar um imóvel, um terreno, no qual é preciso investir”, explicou, sem dar detalhes de quanto capital de giro seria necessário para colocar as plantas, atualmente paradas, em operação novamente.
 
As unidades do Independência têm capacidade diária de abate de 3.500 animais, que poderiam acrescentar 1,75 bilhão de reais em faturamento por ano ao JBS.
 
Independência – O advogado do Independência, Pedro Paulo Gasparini, do escritório GCN Advogados, considera que a proposta feita pelo JBS representa uma boa oportunidade para a companhia.
 
“É a mais factível e real oportunidade que o Independência já teve agora. Vem de um grande player, respeitado no mercado”, afirmou.
 
Gasparini lembra que desde o pedido de recuperação já foram realizadas 14 assembleias, o que provocou um desgaste muito grande entre os participantes e até descrédito por parte dos credores.
 
“Na atual conjuntura do setor de carne, não há outro player como este. E para o JBS é um excelente negócio, porque leva ativos que estão em plena capacidade de geração de caixa”, acrescentou.
 
O assessor jurídico da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso do Sul (Famasul), Carlo Daniel Coldibelli Francisco, disse que a proposta será levada para avaliação dos pecuaristas, incluídos entre os credores quirografários.
 
“Aparentemente é uma proposta sólida. A gente agora vai fazer a análise, repassar aos credores e ver qual é a avaliação deles. Se vai ao encontro do que esperam os pecuaristas”, disse.
 
Contudo, o pecuarista Romão Ribeiro Flor, de Mato Grosso, presente na assembleia, afirmou que não está de acordo com a proposta. Segundo ele, o Independência lhe deve R$ 2 milhões.
 
“Meu voto será vencido, eu sei. Mas não gostei da proposta, vou ter prejuízo. Só o terreno vale mais do que isso”, afirmou.

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