Mulher baleada em tentativa de assalto no Comper ainda espera indenização
Dois anos após ser baleada durante tiroteio numa tentativa de assalto a um carro-forte no estacionamento do Comper em Campo Grande, família modificou toda a rotina e mudou o padrão de vida porque tem que pagar por remédios e tratamento.
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Dois anos após ser baleada durante tiroteio numa tentativa de assalto a um carro-forte no estacionamento do Comper em Campo Grande, família modificou toda a rotina e mudou o padrão de vida porque tem que pagar por remédios e tratamento.
Às vésperas de completar dois anos, a tentativa de assalto a um carro forte parado no estacionamento do Comper Ypê Center, em 3 de setembro de 2009, é um fato presente e marca de mudanças profundas na vida de Aurelina Fátima da Silva. Atingida por três tiros durante a ação, a funcionária pública de 57 anos, hoje aposentada por invalidez, ainda espera por uma decisão que possa oferecer a ela e à família alguma indenização.
Na tentativa de assalto houve troca de tiros entre vigilantes do carro forte, que usavam espingarda de calibre 12, e os ladrões, armados com revólveres. Dois seguranças foram baleados nos braços e pernas e dois dos bandidos foram capturados depois. Os tiros estilhaçaram os vidros do supermercado e também os da agência do Bradesco que existe no local. Aurelina estava dentro da agência bancária e foi ferida com tiros na coxa direita e nos dois tornozelos. Hoje, caminha com a ajuda de uma muleta, mas tem muitas dores e grande dificuldade para se locomover.
Em ação que corre na 6ª Vara Cível, iniciada em 2009, Aurelina pede R$ 152 mil, a título de indenização e pensão por incapacidade pelo tempo estimado de sobrevida. O supermercado Comper, o Banco Bradesco e a empresa Seven (que administra o condomínio onde estão localizados os estabelecimentos) aparecem como réus na ação, sendo que a Bradesco Seguros e Previdência (Bradesco Auto RE Cia de Seguros) é a responsável pelo pagamento da indenização.
De acordo com o advogado Lairson Palermo, que representa Aurelina, a apólice disponível cobriria até R$ 240 mil. Diante disso, na tentativa de agilizar um desfecho para o caso, Palermo afirma que apresentou uma proposta informal de acordo à seguradora há cerca de 45 dias.
A advogada Gaya Schneider, do escritório Ernesto Borges, que representa a Bradesco Seguros, informou que não recebeu qualquer proposta formal de acordo. A advogada, que é a responsável pelo caso, afirmou ainda que desconhece qualquer tipo de tentativa de acordo e que a posição da seguradora é aguardar a decisão da Justiça.
Para o advogado Lairson Palermo, essa atitude demonstra a má qualidade dos serviços prestados pelas seguradoras no Brasil. “É um descaso. Minha cliente tem documentação de tudo que foi solicitado e comprovação que alcança os R$ 152 mil. Entregamos os papéis ao escritório que representa a seguradora e a assistente da advogada responsável pelo caso disse que iriam consultar a matriz da Bradesco, afirmando que entraria em contato assim que houvesse uma resposta. Vamos aguardar, foi o que ela disse e eu tenho testemunha”, garante Lairson Palermo.
O advogado tinha a intenção de pedir que a ação na Justiça fosse extinta e disse que, para isso, aguardava apenas a resposta da seguradora à proposta de acordo. “Fui intimado a devolver os autos, mas eu estava esperando que houvesse uma resposta. Diante dessa nova situação, vou hoje mesmo devolver os autos e peticionar para que o juiz chame formalmente uma conciliação”, informou Palermo no final da manhã desta quarta-feira (10).
Mudança de vida
Mas enquanto advogados discutem e decisões são proteladas, a vida de Aurelina e da família segue de maneira cada vez mais complicada, por falta de dinheiro. O carro da família foi vendido e, de acordo com Luiz Carlos, marido de Aurelina, todo o dinheiro foi gasto com remédios. As contas bancárias estão descobertas, talões de cheques foram suspensos, e praticamente metade dos vencimentos das aposentadorias do casal ficam retidos para pagamento de empréstimos consignados.
O casal calcula que as dívidas acumuladas já somam cerca de R$ 15 mil. Dos R$ 1,2 mil da aposentadoria de Aurelina, R$ 560 ficam retidos para amortização dos empréstimos. Dos R$ 1,015 de Luiz Carlos, R$ 412 são descontados.
Como é funcionária pública estadual, Aurelina tem plano de saúde pela Cassems (Caixa de Assistência dos Servidores do Estado de mato Grosso do Sul), mas o ortopedista que a operou não é credenciado pelo convênio, de maneira que ela tem que pagar pela consulta particular. “Este ano ainda não fui ao médico nem um vez, e, pra falar a verdade, não tenho dinheiro nem pra pagar a taxa de R$ 15 que a Cassems está cobrando”, desabafa.
Entre remédios para pressão, bronquite, diabetes, além de remédios para dormir e para ajudar na reconstituição dos nervos rompidos pelos tiros, Aurelina precisaria tomar oito medicamentos diferentes por dia. Por falta de dinheiro prioriza alguns deles e outros simplesmente não compra. “Mas o que me deixa triste mesmo é o meu marido estar sem o remédio de pressão dele desde o começo do ano para poder comprar o meu”, diz ela.
Eles afirmam que têm comprado remédios com a ajuda de familiares e amigos, mas para prosseguir com o tratamento Aurelina precisa também de outros atendimentos, acompanhamento psiquiátrico e hidroterapia. “Não estamos mais suportando esta situação”, conta Aurelina.
(Matéria editada às 14h35 para correção de informações)
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