Acrissul não cumprirá exigências legais, mas insiste em shows na Expogrande
Entidade foi notificada sobre irregularidades em 2004, mas nada foi feito desde então. Acrissul fica com até 20% das bilheterias e alega não ter dinheiro para adequar Parque à Lei.
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Entidade foi notificada sobre irregularidades em 2004, mas nada foi feito desde então. Acrissul fica com até 20% das bilheterias e alega não ter dinheiro para adequar Parque à Lei.
Um dia antes do “prazo” que os empresários teriam para confirmar a realização de shows musicais durante a Expogrande 2011, a situação do Parque de Exposições Laucídio Coelho continua a mesma. O local não cumpre as regras para obter uma licença ambiental e o próprio presidente da Acrissul, Chico Maia, admite que a entidade não cumprirá as exigências rapidamente.
“Não temos como fazer as alterações de ruído. Vão milhões lá, e mesmo que se invistam esses milhões, não se resolve o limite do ruído”, confessa. Porém, segundo o diretor-presidente da Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano), Marcos Cristaldo, os problemas no Parque de Exposições não são recentes e nem se restringem ao som.
“A Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul) teve o parque notificado desde 2004 pelos problemas ambientais e acústicos. Pela Semadur, não são os shows que estão proibidos, e sim o Parque que está irregular”, explica Cristaldo.
O presidente da entidade, Chico Maia, confirma que os problemas são conhecidos há anos e confessa que não foram tratados como prioridade. “Quando assumi e o promotor nos chamou, eu disse que nossa prioridade era resolver os problemas financeiros da entidade”, conta. Apesar disso, ele conta que os shows da Expogrande, atualmente proibidos pela justiça pelo descumprimento das exigências ambientais, chegam a envolver R$ 2,5 milhões de investimento.
Lucro sem custo
Maia confirma que a entidade fica com um percentual do total arrecadado na bilheteria dos shows promovidos. “A Acrissul tem sim uma participação que fica aí entre 18 e 20% da arrecadação”. Além disso, ele admite que todo o custo é bancado pelos empresários que promovem os espetáculos, ou seja, a Associação não se envolve no investimento. “Todo o custo é deles porque não podemos envolver riscos para a Acrissul”, justifica.
“Se ele não sancionar, a Câmara sanciona”
Mesmo com o faturamento que tem sobre os eventos realizados, Maia diz que faltariam recursos para modernizar o Parque e sugere “boa vontade” para resolver a situação dos shows na próxima Expogrande.
“Se o prefeito sancionar, acabou o problema. E se ele não sancionar, a Câmara sanciona, afinal a mudança foi aprovada por unanimidade”, desafia se referindo a uma emenda à Lei do Silêncio aprovada pelos vereadores de Campo Grande no último dia 13 para excluir a Expogrande dos limites legais sobre ruídos.
Mas nem toda “boa vontade” cobrada pelo presidente da Acrissul deve resolver a questão imediatamente. A mudança na Lei do Silêncio, aprovada na Câmara Municipal, não tem poder para anular a decisão judicial que proíbe a realização de shows e eventos musicais no Parque Laucídio Coelho, segundo o promotor Alexandre Lima Raslan, da 34ª Promotoria de Justiça.
“Tecnicamente, uma decisão judicial só pode ser reformada pelo próprio tribunal ou por um tribunal superior”, explicou. Caso isso venha a acontecer, o promotor garantiu que não irá desistir do caso. “O MP vai continuar atuando contra a poluição sonora”, avisou Raslan.
Ainda assim, Maia diz que mantém expectativas porque tem uma reunião marcada com o prefeito de Campo Grande, Nelsinho Trad, para a próxima segunda-feira (21).
Desgaste interno
Empenhada no debate que acabou politizando uma questão técnica, a Acrissul começa a ser questionada também internamente. “Sou produtor, sou associado, mas não estou muito de acordo com esse rolo todo por causa de show. A feira tradicional que é a Expogrande não depende de música, e a classe acaba se desgastando sem saber ao certo pelo que estamos brigando”, comenta um pecuarista que participa há mais de 25 anos das exposições.
“Se tem uma lei, todo mundo tem que cumprir. Fica até feio para gente ficar nesse embate todo ai por uma coisa que, pelo que parece, é pelo bem da vizinhança lá. Eu tenho orgulho de participar da Expogrande. Sou do tempo que a gente colocava um adesivo de expositor na camionete e rodava com ele o ano todo, com orgulho de ser produtor, e isso está se perdendo”, analisa.
Segundo o associado, a diretoria deve ser questionada internamente. “A gente vai ter que ver de alguma forma porque esse interesse quase insano pelos shows musicais. Quem gosta de música, vai assistir em qualquer lugar. Se realizar o show no Morenão, ou em outro lugar qualquer, acho que isso não deveria importar para a Acrissul. A não ser que tenha algum outro interesse aí”, pondera.
Opções
Enquanto o debate não se encerra, a cidade naturalmente se adapta às opções de espaço para shows. Além do estádio Morenão, no campus da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, o Parque das Nações Indígenas e a área no entorno da Praça do Papa são apontados como alternativas para realização de eventos de grande porte.
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