Greve de fome vira “moda” e levanta polêmicas no governo Lula

Encerrada há 15 dias, a greve de fome do deputado Domingos Dutra (PT-MA) e do líder camponês Manoel da Conceição, um dos fundadores do PT, teve efeito nulo no objetivo de impedir o apoio oficial do PT à candidatura de Roseana Sarney (PMDB) ao governo do Maranhão. Insensível com os petistas, a cúpula do partido […]

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Encerrada há 15 dias, a greve de fome do deputado Domingos Dutra (PT-MA) e do líder camponês Manoel da Conceição, um dos fundadores do PT, teve efeito nulo no objetivo de impedir o apoio oficial do PT à candidatura de Roseana Sarney (PMDB) ao governo do Maranhão. Insensível com os petistas, a cúpula do partido classificou como “questão pessoal” o protesto, e não como protesto pela aliança inédita.

Não é a primeira vez, porém, que o PT, o governo ou o próprio presidente Lula ignoram greves de fome, no Brasil e no exterior. Antes de Dutra e Conceição, Lula criticou o uso da greve de fome por dissidentes cubanos para protestar pelos direitos humanos.

A ironia é que, em 1980, o próprio Lula, ainda líder sindical, ficou sem comer durante quatro dos 31 dias que ficou na cadeia, preso pelo regime militar. O R7 levantou as greves de fome do governo de Lula e preparou uma galeria.

Maranhão

Durou uma semana a greve de fome do deputado federal Domingos Dutra (PT-MA) e do líder camponês e fundador do PT Manoel da Conceição, 75. Os dois permaneceram no plenário da Câmara, tomando apenas líquidos, em protesto contra a intervenção do Diretório Nacional do PT que impôs o apoio do partido à reeleição da governadora Roseana Sarney (PMDB) no Maranhão. Em março, os petistas do Estado haviam aprovado apoio à candidatura de Flávio Dino (PC do B). O jejum acabou depois de acordo em que o partido liberou que militantes apoiassem informalmente o comunista.

Cuba

Em março deste ano, em entrevista à agência Associated Press, Lula comparou dissidentes cubanos em greve de fome a presos comuns do Brasil.

– A greve de fome não pode ser utilizada como um pretexto de direitos humanos para liberar as pessoas. Imagine se todos os bandidos presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade.

Em 23 de fevereiro, na véspera de um encontro de Lula com Raúl e Fidel Castro em Cuba, o preso político Orlando Zapata Tamayo morreu após 85 dias em greve de fome. Em protesto, o jornalista Guilhermo Fariñas também aderiu ao jejum, que já dura mais quatro meses.

Brasília

Ex-militante de extrema esquerda, o italiano Cesare Battisti, radicado no Brasil desde 2004, passou 12 dias sem comer em novembro passado no presídio da Papuda, em Brasília. Protestava, porém, contra o governo italiano, que o considera terrorista e pede sua extradição para o país, onde foi condenado à prisão perpétua por assassinato. Ele terminou a greve declarando que confiava nas autoridades brasileiras. A extradição, evitada pelo governo, ainda depende do aval de Lula. À época, o presidente desaconselhou o jejum.

– Se eu fosse o Battisti, não faria greve de fome. Eu fiz por seis dias e é muito ruim.

Rio de Janeiro

No ano de 2006, Anthony Garotinho (PR) entrou em greve de fome ao ver definhar sua tentativa de concorrer à Presidência. Acuado por denúncias de corrupção, culpou Lula, a imprensa e os bancos de perseguição política.

– Quero deixar registrado que, se alguma coisa me acontecer, os responsáveis chamam-se Lula, Globo, Veja e bancos.

Para encerrar o protesto, exigiu que as eleições fossem monitoradas por organizações internacionais. À época, surgiram suspeitas de que empresas fantasmas, contratadas sem licitação pelo governo de sua mulher, Rosinha Garotinho, teriam doado R$ 450 mil à sua campanha.

Rio São Francisco

A transposição do rio São Francisco levou o bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, a fazer greve de fome duas vezes, em 2005 e 2007. Ele argumentava que o projeto do governo não revitaliza o rio e prejudica as populações ribeirinhas. Em visita às obras em outubro de 2009, Lula ironizou a atitude do clérigo.

– Teve um bispo que fez até greve de fome para que não se fizesse essa obra. De vez em quando aparece um movimento em São Paulo, Salvador, Rio de Janeiro, contra. Eles não têm conhecimento do bem que essa obra está fazendo. Não quero que a gente mate um passarinho, um calango, uma cobra, agora, não posso deixar o povo pobre morrer de sede e de fome”.

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