A jornal, FHC diz que oposição ‘errou ao mistificar Lula’
Em entrevista ao jornal britânico “Financial Times”, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso critica a oposição por “mistificar” o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e admite que a candidata oficial, Dilma Rousseff, é a mais provável vencedora das eleições presidenciais do dia 3 de outubro. Em artigo de página inteira publicada na edição […]
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Em entrevista ao jornal britânico “Financial Times”, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso critica a oposição por “mistificar” o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e admite que a candidata oficial, Dilma Rousseff, é a mais provável vencedora das eleições presidenciais do dia 3 de outubro.
Em artigo de página inteira publicada na edição deste sábado do diário financeiro, FHC diz, entretanto, que “Lula não é nenhum revolucionário”.
“É um Lech Walesa que deu certo”, afirma, referindo-se ao sindicalista que presidiu a Polônia comunista durante a transição para o capitalismo, terminando seu governo com popularidade em baixa. “Eu fiz as reformas. Ele surfa na onda”, disse FHC.
O artigo é parte da seção “Um almoço com o FT”. O correspondente narra o encontro que teve com FHC a três semanas das eleições no restaurante Carlota, em Higienópolis, bairro onde vive o sociólogo.
Para o jornal, “embora tanto o mundo quanto o Brasil tenham se apaixonado por seu sucessor, o presidente Lula, Cardoso é o homem amplamente creditado, pelo menos no exterior, com o estabelecimento dos fundamentos do boom” que marcou os últimos anos da economia brasileira.
FHC, ministro da Fazenda durante o plano real, que pôs fim a décadas de hiperinflação no Brasil em meados dos anos 1990, é descrito pelo FT como o responsável por colocar o “B” na sigla Bric – cunhada pelo Banco Goldman Sachs em 2001 e hoje uma espécie de marca para se referir às principais potências emergentes (Brasil, Rússia, Índia e China).
Ao jornal britânico, FHC disse que conseguiu “fazer o Brasil avançar” durante sua gestão; já o governo Lula, opina, “anestesiou” o Brasil. O ex-presidente diz que durante sua gestão havia muita discussão sobre como levar as reformas adiante e reduzir o custo Brasil. “Depois elas (as discussões) pararam”, afirmou.
Quando a entrevista se encaminha para as eleições de 3 de outubro, relata o FT, o ex-presidente revela “frustração” em seu tom de voz.
“A oposição errou”, diz. “Permitimos a mistificação de Lula. Mas Lula não é nenhum revolucionário. Ele saiu da classe trabalhadora e se comporta como se fosse parte da velha elite conservadora.”
“Eu sugiro que nós já sabemos quem vai ganhar as eleições”, escreve o repórter do jornal. “‘Sim’, admite FHC – Dilma Rousseff, a candidata do Partido Trabalhista de Lula.”
Questionado sobre como crê que Lula será lembrado pela história, FHC responde: “Acho que será lembrado pelo crescimento e pela continuidade, e por colocar mais ênfase no gasto social”.
‘Herdeiro’
Em uma nota ilustrativa na mesma página, como parte da mesma reportagem, o criador da sigla Bric, o economista-chefe do Goldman Sachs, Jim O’Neill, se questiona se Lula poderia ser “um descendente de Cardoso em uma fantasia engenhosa”.
Ele argumenta que um dos méritos de Lula foi manter as políticas econômicas da era FHC, em especial as metas de inflação e o regime de flutuação do real.
“Lula quer ser visto como o líder mais bem sucedido do G20 na última década. Mas às vezes paro e me pergunto se ele não seria um descendente direto de Cardoso em uma fantasia engenhosa. Pois foi muito do que ele herdou de Cardoso que deu a Lula a plataforma de tal sucesso”, escreve O’Neill.
Para o economista, a inteligência de Lula foi “manter muito do que herdou”. “Outro fator de sucesso de Lula tem sido sua sintonia com as massas, o que lhe permitiu traduzir os benefícios da estabilidade para muitos”, escreveu O’Neill.
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