Patrimônio imaterial, Sobá é herança japonesa que desperta saudade em quem mora fora
De origem japonesa, o sobá tornou-se a cara de Campo Grande
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De origem japonesa, o sobá tornou-se a cara de Campo Grande
Não tem concorrência: o prato mais típico de Campo Grande é o sobá, a sopa de macarrão com carne de porco, que de tão marcante tornou-se patrimônio cultural imaterial da cidade desde 2006. É, possivelmente, a principal herança da imigração japonesa na Capital sul-mato-grossense que enraizou-se na ‘identidade’ campo-grandense, até porque agrada todas as tribos da cidade.
Prova disso é o número de sobarias espalhadas pelos bairros – pelo menos 80 restaurantes servem sobá, conforme um levantamento de 2011. É o carro chefe, por exemplo, da Feira Central, local que concentra restaurantes de cozinha oriental e um dos principais pontos turísticos da cidade, no cerca de 30 ‘barracas’ têm o prato no cardápio. O mesmo levantamento também indica que cerca de outras 60 feiras urbanas dispõem da sopa. Na cidade, há até um festival anual em homenagem à iguaria, realizado na Feira Central.
A receita não muda muito: macarrão cozido no tutano do boi, que dá o gosto e o caldo característico. Para completar, carne de porco fritinha, assim como o ovo picado, com salsinha, cebolinha, shoyu e gengibre à gosto. É servido quente, o que acalenta o estômago no inverno, mas igualmente indispensável quando a temperatura máxima chega aos 35º.
A história do sobá confunde-se com a instalação da cultura japonesa da cidade. A sopa, cujo nome original é toshikoshi-soba, é nativo de Okinawa, o arquipélago japonês de onde vieram boa parte dos imigrantes atualmente em Mato Grosso do Sul. Vale lembrar, também, que por aqui a receita ganhou toques que o diferenciam em parte da original. Por esta especificidade, logo, é raro ver a iguaria em outros lugares do Brasil e até do mundo.
Temperado com saudade e nostalgia
É bem provável que se houvesse uma pesquisa sobre as comidas mais postadas nas redes sociais pelos campo-grandenses, sobá estaria nas primeiras posições. Além disso, o que mais se observam são os comentários de quem mora longe ‘passando vontade’ do prato tipico.
Radicada na Austrália desde 2008, a psicóloga Cristina Mássia, 37, tem na vinda ao Brasil dois significados: matar a saudade da família e amigos e matar a vontade de saborear as comidas favoritas, dentre elas, o sobá. “A saudade aperta, a gente não sente saudade só do gosto, mas de todo o movimento que é sair pra comer um sobá com a turma, geralmente em um lugar aberto, clima ameno, sem formalidades. A gente avisa os amigos e sempre aparece uma turma pra bater papo. Toda essa atmosfera faz falta. O sobá vira nostalgia, lembrança de bons tempos”, aponta.
Para não passar vontade, o jeito que Cristina encontrou foi colocar a mão na massa. Literalmente. “Nem sempre dá pra vir [ao Brasil], então eu tive que aprender a fazer meu próprio sobá”, brinca. para ela, a exclusividade do prato é um dos fatores que o torna especial. “Sobá é algo único da nossa região e tem uma história. Mesmo no Japão não se acha sobá igual, esse faz parte da história da chegada do povo japonês por aqui e a tentava de adaptação e resgate da cultura de um povo, ou seja, no fim das contas sobá nasceu mesmo da saudade”.
Sobá Brasil a fora
Uma busca rápida no Google comprova que já existem sobarias em São Paulo, a megalópole brasileira. Mas o pioneiro em deslocar o prato foi o campo-grandense Jean Rodrigo Haddad, 41, proprietário da Sobaria, um point da culinária sul-mato-grossense na Vila Mariana. “Saí de Campo Grande com 20 anos e vim direto para a Vila Mariana. Sentia falta dos pratos típicos, como a carne bovina na brasa, e resolvi trazer essa cultura para os vizinhos do pedaço”.
No fim das contas, a Sobaria também tornou-se ponto de encontro dos campo-grandenses desgarrados pela Paulicéia. “Já fui várias vezes. Como a especialidade lá é o sobá, é um lugar para matar a vontade de saborear um prato. Mas a gente também mata a saudade da cultura da cidade, das músicas, enfim. O sobá é japonês, mas nos apropriamos dele. Faz parte da gente, independente da origem”, diz o campo-grandense Tiago Oliveira, 29, publicitário.
Em 2011, a Prefeitura de Campo Grande lançou, juntamente com o Sebrae e a ABF (Associação Brasileira de Franchising) a ideia de ampliar os horizontes do prato japonês que representa a diversidade cultural de Campo Grande. Foi daí que surgiu a Hemmtap, a empresa em sociedade com empreendedores do ramo alimentício da cidade. Um dos resultado é a ‘Sobá de Campo Grande’, loja em processo de expansão que oferece o prato até em shopping centers.
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