O Dia Nacional de Combate à Cefaleia, comemorado nesta sexta-feira (19), é uma data para chamar a atenção da população sobre a dor de cabeça e a importância de procurar um diagnóstico. Existem mais de 150 tipos diferentes de cefaleia, com a enxaqueca entre as principais causas de reclamação.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Cefaleia, 95% das pessoas têm dor de cabeça pelo menos uma vez na vida, mas quando esse incômodo se torna um problema? O neurologista e professor universitário Omar Gurrola explica que o paciente deve procurar um médico quando as dores começam a afetar a qualidade de vida. 

“Podemos saber que se está tornando um problema quando aumenta a frequência e intensidade e pode até mesmo causar incapacidade funcional, impedindo a pessoa de realizar suas atividades normais como trabalhar, estudar, cuidar da família ou participar de atividades sociais, o que pode causar grave impacto emocional nas pessoas”, explica o médico. 

Esse foi o caso do estudante Jaquison Vieira*, de 21 anos, que desde a adolescência sofria com dores de cabeça. O incômodo ficou insuportável durante a faculdade, o que impactou a vida acadêmica e o dia a dia. Entre os sintomas que se agravaram estão dor próximo aos olhos, pressão forte, tonturas e sensibilidade à luz e sons.

O jovem diz que suspeitou que fosse um problema de visão por causa do astigmatismo e procurou um oftalmologista, o que foi descartado pelo médico que recomendou que procurasse um neurologista. Depois que procurou o especialista e passou por vários exames, o diagnóstico foi de enxaqueca crônica.

“Atualmente, eu tenho tomado medicação controlada para enxaqueca, sob a recomendação do neurologista”, afirma Jaquison. 

Algumas especialidades médicas podem tratar a dor de cabeça, mas o neurologista é o mais recomendado por ter conhecimento aprofundado para tratar os diferentes tipos de cefaleia e identificar as causas da dor. 

Além disso, o neurologista também pode desenvolver um tratamento personalizado, já que precisa de uma abordagem abrangente, que envolva não apenas o alívio da dor aguda, mas também a prevenção das crises e a melhora da qualidade de vida do paciente. 

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Automedicação pode piorar sintomas da dor de cabeça. (Foto: Freepik)

A neurologista da Unimed Campo Grande, Dra. Aline Marques da Silva Braga, explica que existem diferentes classificação de dores de cabeça. “As mais comuns vistas nos consultórios são as enxaquecas e cefaleias tensional. Nesses dois casos, os pacientes têm crises frequentes de dores de cabeça, no caso da enxaqueca ela é uma dor de cabeça de um lado e tem um caráter latejante e são dores bastante intensas”, explica a médica.

Riscos da automedicação

O estudante Jaquison Vieira reconhece que, antes do diagnóstico da enxaqueca, tinha o hábito de se automedicar quando tinha dores intensas. Uma pesquisa da ABN (Academia Brasileira de Neurologia) apontou que 81% dos entrevistados se automedicaram para tratar da dor de cabeça e que 51% seguiram conselhos de remédios de não profissionais. 

O neurologista Omar explica que subestimar o problema associado ao uso de remédios pode levar o paciente a subestimar a gravidade da enxaqueca, o que pode piorar a qualidade de vida. 

“O uso indevido de medicamentos, como analgésicos, anti-inflamatórios ou triptanos, em doses inadequadas ou em excesso, pode levar ao agravamento dos sintomas da enxaqueca tornando as cefaleia mais frequentes, intensas e prolongadas, conhecidas como cefaleia por uso excessivo de medicamentos, além de que o paciente se expõe a efeitos colaterais indesejados como náuseas, sonolência, tonturas, alterações renais, úlceras gástricas, entre outros”, alerta o médico.

Como é feito o tratamento de dor de cabeça?

O tratamento para a dor de cabeça tem diferentes tipos de abordagens a depender do diagnóstico do paciente e da causa do problema como a cefaleia cervicogênica, estresse, sinusite, neuralgia do trigêmeo, tumor cerebral, trombose venosa cerebral, etc.

Conforme explica o neurologista Omar, a dor de cabeça pode ser desencadeada pelos “gatilhos migranosos” como:

  • Estresse;
  • Privação de sono ou dormir demais;
  • Altas temperaturas e desidratação;
  • Dor no pescoço, no ombro ou na articulação temporomandibular;
  • Jejum prolongado;
  • Mudanças hormonais como no período menstrual e alguns alimentos.

Já o tratamento pode ir desde a prescrição de remédios a mudanças de estilos de vida. “Para o tratamento da crise migranosa os médicos usualmente se auxiliam de analgésico, anti-inflamatório, triptanos, entre outros, assim, como o tratamento do gatilho desencadeante. Para o tratamento preventivo existem diferentes abordagens terapêuticas que podem ser adotadas, como algumas mudanças no estilo de vida”, explica o neurologista. 

Elaborado por Madu Livramento/Jornal Midiamax

Foi o que fez a engenheira elétrica Ana Paula Weber, de 24 anos, que desde a adolescência sofria com fortes dores de cabeça até descobrir após uma série de exames que se tratava de uma enxaqueca crônica. 

“Nesse período da adolescência eu tinha crises todos os dias, a sensação era muito ruim, uma dor latejante e eu sempre vomitava, além de não conseguir fazer mais nada. Também já precisei várias vezes ir ao Posto de Saúde tomar remédio na veia para controlar a crise”, se recorda. 

A mulher começou a perceber que alguns alimentos, bebidas e cheiros funcionam como gatilhos para a crise e começou a se monitorar para conviver com a dor. Ela confessa que até chegou a tomar remédios prescritos pelo médico aos 16 anos, mas abandonou o tratamento devido aos efeitos colaterais. 

“Depois do tratamento a frequência das crises diminuíram muito, hoje eu sei lidar com a dor, administro minha alimentação, perfumes e concílio com hábitos saudáveis para auxiliar no tratamento. As crises não são tão frequentes e tomo remédio apenas no momento de crise, além de me isolar em um ambiente escuro e climatizado”, ela diz. 

Alguns alimentos podem piorar a dor de cabeça. (Foto: Pexels)

Além da medicação, o neurologista Omar explica que hábitos como controle de peso, atividades físicas, alimentação saudável, estabilidade de distúrbios do sono e da ansiedade e evitar uso excessivo de analgésicos podem ajudar a evitar crises de dor de cabeça.

“O controle dos gatilhos alimentares têm sido controversos na literatura, porém os alimentos associados com mais frequência a dor de cabeça são chocolate, alimentos com alto teor de sal, queijos fermentados, embutidos como salsichas, presunto e outros alimentos”, afirma. 

Também entram na lista componentes que estão presentes em alimentos como shoyu, temperos industrializados, adoçantes, alimentos light, cafeína, álcool e frutas como amendoim e melancia. 

A neurologista Aline Marques da Silva Braga afirma que é preciso monitorar quais alimentos podem desencadear as dores. “A própria cerveja e o vinho no paciente que tem enxaqueca podem servir como gatilhos, não que vão estar associados a todas as crises. Então é bom que tenha o cuidado de perceber no dia-a-dia se esses alimentos e bebidas estão desencadeando as dores de cabeça no paciente”, afirma.

*Nome alterado porque a fonte preferiu não se identificar.