Desde que o Governo de Mato Grosso do Sul lançou o projeto MS Saúde: Mais Saúde, Menos Fila, muito tem se discutido sobre cirurgias reparadoras que podem ser custeadas pelo Estado, especialmente para pré-adolescentes e adolescentes vítimas de bullying nas escolas. Apesar de ainda estar em fase inicial, necessitando da adesão das Secretarias Municipais, já acende a esperança de quem não tem condições de pagar por procedimentos.

As cirurgias reparadoras elencadas pelo Governo de Mato Grosso do Sul em edital, que podem ser realizadas em pré-adolescentes e adolescentes vítimas de bullying, por meio do MS Saúde: Mais Saúde, Menos Fila, são:

  • Cirurgia mamária feminina não estética;
  • Plástica mamária masculina;
  • Tratamento cirúrgico não estético da orelha.

Para se ter uma ideia, o incentivo para quem deseja fazer plástica mamária feminina é de R$ 1.542, enquanto para a masculina é de R$ 1.351,92. Por fim, o incentivo divulgado pelo Estado para cirurgia na orelha é de R$ 1.175,64. (veja todas as cirurgias e valores de incentivos aqui).

Nesse rol de cirurgias preventivas de bullying também serão incluídos 30 encaminhamentos para correção de estrabismo que estão na lista de espera da área oftalmológica. Diante dessa proposta, muitas pessoas já estão com a esperança de se beneficiarem com o projeto.  

Possibilidade para quem não pode bancar

Uma profissional do ramo da estética de , que preferiu não se identificar, nasceu com orelha de abano. A condição foi herdada pela sua filha, hoje com oito anos de idade. Ao Jornal Midiamax, a mãe afirma que o orçamento inicial de R$ 5 mil impediu que ela liberasse a cirurgia da filha por questões financeiras. Porém, alega ter intenção de seguir com o desejo da mais nova.  

“Ela já se incomoda, pois é vaidosa demais. Só quer usar o cabelo preso. Eu tenho trauma de orelha porque toda vida eu sofri bullying na escola, não quero que passe pelo que passei na adolescência”, comenta.

Assim, ela aguarda futuras tratativas entre Estado e Município para tentar incluir a filha na lista de pessoas aptas a receberem a cirurgia reparadora.

Estrabismo

Aos 20 anos de idade, Sarah Helena Maia Machado também se sentiu esperançosa com a possibilidade de ter a cirurgia para correção de estrabismo – também inclusa no ‘pacotão' de cirurgias eletivas do MS Saúde – bancada pelo governo. Trabalhadora autônoma, sente os reflexos do distúrbio.

“Eu nunca fiz cirurgia para correção. Quando era mais nova eu usava óculos, mas como o estrabismo é de nascença, o óculos nunca deu conta. Eu fiquei bem animada com isso [projeto MS Saúde]”.

Ela detalha que apenas um olho tem desvio, o que dificulta a sua visão de longe e letras pequenas. Por sempre precisar forçar a visão, vive constantemente com dores de cabeça. “Tive que aprender a conviver com a dor de cabeça porque sempre tive que estudar, mexer com o celular e hoje trabalho com o celular, então acaba sendo ainda mais difícil”, explica.

Fila de espera de cirurgias reparadoras

Atualmente, 208 pacientes estão na fila de espera das três cirurgias reparadoras e podem ser beneficiados pela iniciativa.

Vale lembrar que o Estado, em parceria com as secretarias de Estado de Saúde e Educação, poderá oferecer as seguintes cirurgias reparadoras: cirurgia mamária feminina não estética; plástica mamária masculina; e tratamento cirúrgico não estético da orelha.

Conforme a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), no momento, há 61 solicitações de pacientes aguardando por cirurgia de correção de orelha de abano, 34 de ginecosmastia masculina e 113 para cirurgia mamária feminina não estética em Campo Grande. A secretaria ainda ressalta que o sistema de dados traz somente o número de pacientes na fila, não especificando faixa-etária e sexo.

“A indicação varia de acordo com o quadro do paciente e avaliação do profissional médico. No caso da cirurgia para correção de orelha de abano, por exemplo, o procedimento pode ser executado em crianças a partir de 7 anos de idade”, explica.

Porém, o Governo de MS já informou que possui cadastro de crianças e adolescentes vítimas de bullying e identificados pela Secretaria de Justiça e encaminhadas para a rede pública de saúde.

“Esse é o público que já está na fila dos procedimentos: crianças com orelha de abano, nariz adunco, crescimento excessivo das mamas e problemas oftalmológicos, como estrabismo e alto grau de miopia”, explicou a assessoria.

MS Saúde – Mais Saúde, Menos Fila 

Lançado na última segunda-feira (8), o Projeto MS Saúde: Mais Saúde, Menos Fila pretende reduzir as filas de espera de consultas, exames e cirurgias dos municípios de Mato Grosso do Sul. Serão investidos no programa R$ 45 milhões em recursos estaduais e R$ 7,9 milhões em recursos federais.

Conforme o Estado, a população poderá contar com a oferta de cirurgias eletivas nas especialidades de oftalmologia, otorrinolaringologia, cirurgia vascular, cirurgia geral, ortopedia, ginecologia, urologia e cirurgia reparadora. Em meio aos exames diagnósticos estão a ressonância magnética com contraste, ressonância magnética (sedação), tomografia computadorizada, endoscopia, densitometria, eletrocardiograma, ecocardiograma transtorácico, ultrassonografia, entre outros.

Valores das cirurgias

Como visto anteriormente, várias cirurgias, exames e procedimentos médicos se enquadram no programa. O menor benefício até o momento já previsto é para procedimento cirúrgico de pterígio – condição conhecida popularmente como ‘carne no olho' – no valor de R$ 500.

Já o maior incentivo, previsto em R$ 30.516,28 de incentivo estadual, é a cirurgia para correção de quadril. Para tratamento de varizes, por exemplo, custeio da modalidade bilateral chega a R$ 2.910.20, enquanto a cirurgia para artrodese da lombar anterior pode ser bancada em R$ 26.810,56.

Confira a lista completa das cirurgias e valores de incentivos abaixo:

Os municípios considerarão procedimentos entre o período dos meses de maio de 2023 a abril de 2024. Por fim, o prazo de manifestação de interesse por parte dos municípios é de até cinco dias úteis a contar do dia 9 de maio.

142 registros de bullying em 2022

A iniciativa para prevenir o bullying nas escolas não é à toa, afinal, episódios de bullying são frequentes e desafiam a organização das escolas, tanto na rede pública quanto na privada. Conforme pesquisa feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) a falta de segurança, inclusive, é uma das razões para a evasão escolar. Em Mato Grosso do Sul, 142 casos foram registrados em 2022.

No Estado, a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar revelou que 13,4% dos estudantes deixaram o ambiente escolar por não se sentirem seguros, índice que fez com o que o Estado ficasse em segundo lugar no ranking, atrás apenas de Roraima. O mesmo levantamento apontou que 29,2% dos estudantes de Campo Grande sofreram provocações mais de uma vez no intervalo de 30 dias.

A realidade de violência se repetiu também no ambiente virtual. Ao todo, 18,1% dos alunos da Capital ouvidos confirmaram as humilhações pelas redes sociais.

Segundo informações da Polícia Civil, são quase diárias as ocorrências envolvendo violência entre estudantes que chegam até a DEPCA (Delegacia Especializada de à Criança e ao Adolescente).

“O bullying não é um crime específico e pode ser enquadrado em inúmeros delitos. Para que a conduta seja punida, tem de estar tipificada no código penal ou criminal. Com isso, os registros vão desde um caso de ameaça ou injúria, até um ato infracional mais grave, como lesão corporal”, explica a delegada Anne Karine Trevisan, titular da DEPCA.