‘Milagre estarmos vivos’: família que teve casa destruída por enxurrada mostra o que restou
Família relata momentos de pavor enquanto assistia água da chuva levando parede e móveis para a rua em Campo Grande
Nathália Rabelo, Danielle Errobidarte –
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Paredes demolidas, móveis na rua e ambientes completamente destruídos. Esse é o cenário de completo caos que uma família de Campo Grande foi obrigada a se deparar na manhã desta quinta-feira (5) após rompimento de lagoa de contenção durante temporal que atingiu a Capital na quarta-feira (4) e culminou em diversos estragos em várias regiões da cidade. Após momentos de terror vividos dentro da própria casa, moradores se agarram à esperança de um dia voltar a chamar o local de lar.
A casa destruída fica localizada na Rua Nobres, no bairro Água Limpa Park, numa região de descida em direção à Avenida Tamandaré. Aos fundos da casa destruída, há uma construção que está abaixo do nível do solo na Rua Formosa.
Em frente a esta obra existe a lagoa de contenção que rompeu. No terreno há uma placa da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) e MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) informando que ali tem a nascente 04 do Córrego Segredo.
Durante a chuva torrencial, a água entrou no terreno onde há a obra, se acumulou em um buraco e quebrou o muro da parte de trás da casa, bem como a parede lateral da residência. Em conversa com o Jornal Midiamax na manhã desta quinta-feira (5), a família deu detalhes sobre os momentos de pavor vividos durante a enxurrada e ainda mostrou o que restou da casa.
O dono da casa é um advogado de 56 anos que mora no local há dois anos com a esposa e duas filhas. Tudo começou quando, por volta de 13h de quarta-feira, o casal estava na cozinha, situada na parte dos fundos, preparando o almoço. No momento da chuva, percebeu um risco de água escorrendo pela parede, bem como um furo jorrando água pelo ambiente. Assustados, resolveram ir para a frente da residência.
“Na hora que a gente chegou no canto da garagem, a parede [da cozinha] estourou. Foi questão de minutos”, recorda o morador, que conseguiu escapar da enxurrada com a família.
Ele ainda relatou que assistiu toda a casa sendo levada pela água enquanto ainda estavam lá dentro. O desespero era tão grande que moradores tentaram sair, mas ficaram impedidos.
“A gente tentou sair de onde estávamos, mas a velocidade da água era tão forte que a gente precisou ficar no canto até ela escoar”.
Família ainda ressalta que o volume de água que entrou na residência era tão alto que chegou a atingir 1,20 metro e, em dado momento, até alcançou o capô do carro estacionado na garagem.
Quando os moradores saíram de casa, a água ainda batia no joelho. Felizmente, o veículo não foi arrastado para fora como os demais pertences.
Prejuízo material e emocional
Dentre os prejuízos ocasionados pela tragédia, a família afirma ainda estimar um valor. A esposa do advogado disse à equipe de reportagem que o estrago foi geral, visto que a água barrenta arrastou lavadora de roupas, televisão, blocos de concretos e até uma mesa de jantar de R$ 15 mil – que ela havia acabado de comprar – para a rua. Nem a porta de entrada da residência escapou da enxurrada.
Ela foi arrancada à força pela água e está perdida até o momento. Assim, o único objeto resgatado foi a geladeira.
O Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil prestaram apoio à família na data do acidente. Além disso, Defesa Civil volta na manhã desta quinta com um engenheiro para fazer análise da situação da residência.
Dessa forma, órgão competente vai determinar se a casa pode receber reformas ou está completamente condenada. Moradores ainda aguardam relatório de prejuízos materiais ocasionados pelo acidente, mas afirmam que os emocionais ainda perpetuam.
“Foram momentos de muito desespero. A gente torce para que seja possível fazer a reforma porque não temos para onde ir, é a nossa única casa”, lamentam.
Ao menos um final feliz
Enquanto a família tentava se proteger da enchente que destruiu a casa, ela percebeu que o cachorrinho da família, um Pinscher, havia sumido. Moradores procuraram o animal nos destroços espalhados na rua, mas não o encontraram. Até que, finalmente, viram que o bichinho havia se escondido em um quarto na hora que a água levou a parede.
Dessa forma, em meio a tantas dificuldades, os moradores ao menos relataram um momento feliz. Visto que estavam dentro da casa e conseguiram escapar sem sofrer ferimentos, a proteção é motivo de agradecimento.
“É um milagre estarmos vivos”, disse a moradora, emocionada.
Relembre o caso
Moradores da região relataram que transtornos ocasionados pelo acúmulo de água são constantes na região e que esse foi o ‘estopim’ da falta de drenagem.
“A água desce de um condomínio que tem atrás da lagoa, tem que aumentar a captação da água pluvial e limpar o local da contenção, tem muito mato e entulho que as pessoas jogam”, disse um morador que preferiu não se identificar.
“Eu fui tirar o habite-se e eu pedi para ver o mapa da região para eu ver de onde era a responsabilidade do local. Falaram que não era área de responsabilidade da prefeitura”, disse o bacharel em direito, Nélio Rodrigues, morador do bairro.
“Há muito tempo a gente vem sofrendo com isso, buscamos a prefeitura, já conversamos com o condomínio para ver de quem é a responsabilidade dessa água e até o presente momento ninguém fala nada. Tem que fazer obra de contenção. Tem placa de nascente, os órgãos competentes precisam tomar conta e limpar o local. A gente está sendo visto só com as tragédias, muitas das ruas daqui também não tem esgoto”, diz o presidente do bairro Roger Araújo.
O presidente do bairro lembra que há três anos ocorreu a mesma situação, porém, não houve estragos pelo fato de não haver construções próximas na época. A reportagem também entrou em contato com a prefeitura, condomínio citado e aguarda retorno.
Confira os vídeos do momento em que a enxurrada destrói a casa
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