Risco para saúde: Venda de chás emagrecedores na internet dificulta fiscalização em Campo Grande
Em grupos nas redes sociais, chás e pílulas ‘naturais’ são vendidos com facilidade por R$ 20
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‘Milagroso’, ‘emagreça sem dieta’, ‘solução para perda de peso’. São alguns dos anúncios de chás e pílulas emagrecedoras encontradas para venda em grupos nas redes sociais em Campo Grande. Os produtos, que prometem emagrecimento rápido e sem atividade física, se apoiam em uma série de ervas naturais na composição e garantem que não fazem mal. No entanto, podem causar problemas à saúde.
Na Capital, basta pesquisar em grupos e plataformas de vendas dos produtos, onde muitos sofrem restrições da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
O assunto veio à tona após a morte da enfermeira Mara Abreu, que consumiu o composto “50 Ervas” e sofreu uma hepatite fulminante. Ela conseguiu um órgão para transplante de emergência, mas seu corpo rejeitou o novo fígado e a paulista não resistiu. O produto está na lista de remédios proibidos pela Anvisa desde 2020.
Em Campo Grande, um anúncio diz que o emagrecedor natural é “milagroso” e que quem o consumir pode perder até 15 quilos por mês sem qualquer alimentação específica. O vendedor também pontua que o produto é autorizado pela Anvisa, mas a própria imagem do anúncio não revela qual é o emagrecedor.
Outro anúncio recomenda que o consumidor deve ingerir pouco produto, pois “emagrece demais”. Também em grupos nas redes sociais o anúncio apenas diz para o internauta “chamar no inbox” para ter mais detalhes, mas não revela os compostos ou qual produto específico se trata a venda. A reportagem tentou contato com alguns dos vendedores, mas até o fechamento deste material, não havia sido respondida.
“A diferença entre o remédio e o veneno é a dose”
Em Campo Grande, a médica Flávia Tortul, endocrinologista e metabologista explica que é rotineiro os pacientes chegarem para a consulta com alterações nos exames laboratoriais, pois fazem automedicação, inclusive com os compostos emagrecedores “naturais”.
“É muito comum vermos alterações nos exames laboratoriais de pacientes que fazem automedicação, seja com chás, cápsulas de ervas, etc. É importante ressaltar e lembrar que não é porque algo é natural que é inofensivo ao organismo. A diferença entre o remédio e o veneno é a dose”, comenta a médica com o Midiamax.
A especialista diz que existem inúmeras ervas tóxicas para o organismo, principalmente para o fígado, podendo levar a casos de hepatite fulminante, assim como no caso da enfermeira Mara Abreu.
“Pode existir a falência do fígado, com risco de vida caso não seja feito o transplante. Nesses chás e fórmulas, que não possuem registro na Anvisa, é muito difícil saber a quantidade e, muitas vezes, os componentes dos mesmos. Por isso é muito arriscado. Temos inúmeros casos de mortes por uso de noz da Índia para tentativa de emagrecimento e, ainda assim, as pessoas continuam comprando e usando tal substância”, pontua,
Como no caso da enfermeira que morreu de hepatite fulminante, Tortul explica que se trata de um quadro de inflamação grave do fígado em pessoas que possuem o fígado normal ou doença hepática controlada, na qual o fígado deixa de ser funcional, podendo resultar em óbito em poucos dias.
“Os sintomas são semelhantes aos de uma hepatite comum: mal-estar, febre baixa, náuseas e dor na parte superior direita do abdômen, no entanto, os sintomas desse tipo de hepatite podem progredir rapidamente, havendo urina escura constantemente, pele e olhos amarelados, febre baixa e mal estar geral. Esses sintomas evoluem de forma rápida devido ao comprometimento progressivo do fígado”, diz a médica.
Por fim, orienta os moradores a procurarem um médico antes de ingerir qualquer chá emagrecedor ou pílula com promessa de perda de peso imediata. “Por isso sempre devemos consultar o médico antes de iniciar qualquer tratamento, para que seja prescrito algo seguro e eficaz, pois esses chás e ervas além de não emagrecerem trazem risco à saúde”, finaliza.
Fiscalização em Campo Grande
A Vigilância Sanitária de Campo Grande disse, por meio de nota, que fiscaliza os medicamentos regulares registrados na Anvisa, ou daqueles que não têm registro e são vendidos como medicamento em estabelecimentos comerciais e que alguns dos produtos não têm registro em nenhum órgão ou somente no MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) como alimento.
O órgão diz que a venda online desses produtos acaba dificultando a fiscalização sanitária. “A comercialização pela internet ou por fornecedores terceirizados dificulta a fiscalização. Não há registro de nenhuma denúncia ou apreensão deste tipo de produto realizada. A Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) reforça a orientação para que as pessoas evitem o consumo de medicações sem prescrição médica”, pontua.
Alerta à sociedade
A Anvisa publicou nota no dia 4 de fevereiro relatando que o ’50 ervas’, chá tomado pela enfermeira que faleceu, era proibido no Brasil desde 2020. A agência explicou que produtos para emagrecimento só podem ser comercializados no país com autorização da mesma, e a venda só deve acontecer em farmácias ou drogarias. Produtos sem registro “não oferecem garantia de eficácia, segurança e qualidade exigida para produtos sob vigilância sanitária. Sem esses requisitos mínimos, os produtos irregulares representam um alto risco de dano e ameaça à saúde das pessoas”.
O órgão pede que a população desconfie de produtos com promessas milagrosas, como o emagrecimento fácil. “Todo produto com ação terapêutica precisa estar regularizado na Anvisa como medicamento”, reforça a nota.
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