Menos da metade dos municípios de Mato Grosso do Sul conseguiu atingir a meta estabelecida pelo Ministério da Saúde de vacinar pelo menos 95% das crianças contra a . Das 79 cidades, apenas 33 têm 95% ou mais da cobertura e aparecem na faixa verde do ranking. Na sequência, 53 municípios aparecem na faixa amarela com desempenho abaixo do recomendado, outros três (, Bela Vista e Nova Alvorada do Sul) estão na faixa de risco, com menos de 50% da meta alcançada. 

O baixo índice de proteção das crianças deixou em alerta o setor da saúde, no entanto, dados de anos anteriores evidenciam que há pelo menos seis anos Mato Grosso do Sul apresenta queda na procura pela vacina. Segundo dados do Ministério da Saúde, entre 2016 e 2021, somente em 2018 a meta foi atingida, ano em que 96% das crianças foram vacinadas. Em 2020, foram 82% e, no ano passado, apenas 74%.

Preocupada com a situação que se estende por todo o Brasil, a OMS (Organização Mundial da Saúde) emitiu alerta sobre o alto risco de que a Poliomielite volte ao Brasil após 30 anos do último caso ser diagnosticado no País. 

Ranking entre os municípios

Entre as cidades de Mato Grosso do Sul que lideram o ranking de vacinação da Polio, a densidade populacional é fator que chama atenção. Com municípios menores, a busca ativa feita pelas secretarias municipais de saúde se mostra mais eficiente que em regiões com maior porte. Prova disso é que entre os 10 municípios que mais vacinaram (, Eldorado, Novo Horizonte do Sul, Vicentina, Glória de Dourados, Selvíria, Antônio João, Bandeirantes, e Deodápolis), apenas Eldorado tem população que chega a 15 mil habitantes. 

Com 10.771 moradores, Sete Quedas foi quem mais vacinou crianças e tem todo o público-alvo protegido. “Onde tinha criança nós fomos para fazer busca ativa. Investimos muito na comunicação e divulgamos a campanha. Além disso, empenhamos os trabalhadores no e colocamos salas de vacinação com horários estendidos. O diálogo foi muito importante para conscientizar as pessoas sobre os riscos da doença”, destacou o prefeito, Francisco Piroli.

Na outra ponta, Campo Grande se destaca como o que menos vacinou e apresenta desempenho fraco, com apenas 28% da meta alcançada. Veruska Lahdo, superintendente de Vigilância em Saúde da Capital, enumera diversas estratégias desenvolvidas pelo Município para alcançar o público-alvo na cidade. Medidas que, apesar do empenho, não tiveram o efeito esperado. 

“Levamos as vacinas até as escolas infantis para que estivessem mais perto das crianças, divulgamos campanhas na mídia, agentes comunitários fizeram busca ativa nas casas e fomos até a shoppings para oportunizar o acesso aos pais. Além disso, fizemos campanhas aos fins de semana, estendemos horários e ainda temos 73 unidades de saúde com acesso facilitado. Infelizmente, com todas essas tentativas, a procura foi muito abaixo do esperado”.

Na avaliação da superintendente, onda de informações falsas e movimentos antivacina, que ganharam força durante a pandemia da covid-19, são apontados como justificativas para a queda na procura pelo imunizante.

“Esses movimentos estão crescendo e ficaram maiores por conta da vacina da covid-19. Tudo isso, aliado às fake news, atrapalham muito o trabalho desenvolvido pela secretaria”, finaliza. 

Poliomielite no Brasil

O Brasil não tem relatos de infecções desde 1989 e é considerado livre de circulação do poliovírus desde 1994, segundo certificação da OMS. Mas o vírus ainda circula no planeta e o risco é real. Dados de 2021 revelam que a primeira dose da vacina chegou a apenas 67% do público alvo no Brasil. Quando o assunto são as doses de reforço, o desempenho foi ainda pior e apenas 52% das crianças foram vacinadas. 

Transmissão e sintomas

Além dos baixos índices de imunização, pesa para o Brasil a falta de saneamento básico. Quase metade da população não tem coleta de e 35 milhões não têm água tratada.

A poliomielite é transmitida principalmente pela boca por meio do contato com fezes contaminadas ou com gotículas de uma pessoa infectada. Água e alimentos podem ser meios de propagação. Para o Brasil, pesa o fato de que metade da população não tem coleta de esgoto e 35 milhões não têm acesso à água tratada.

Conforme nota da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), depois que o vírus entra na corrente sanguínea, o caminho está aberto para que ele chegue ao sistema nervoso. Os sintomas mais leves são febre, dor de garganta, náusea, vômito e constipação. Mas, nas formas graves da doença, que atingem principalmente crianças com menos de cinco anos, a doença causa paralisia, geralmente nas pernas.