O município de irá ganhar uma estátua em tamanho real do músico Zacarias Mourão. Victor Henrique Woitschach ou Ique, como gosta de ser chamado, esteve em Coxim na semana passada nos dias 24 e 25, visitando o Pé de Cedro. Ele é o artista e escultor que está fazendo a estátua de bronze, e esteve na praça que leva o nome do homenageado, para acertar os últimos detalhes, quanto localização e harmonização em que a estátua será fixada.

A estátua, que já está quase pronta, entrando agora no processo de fundição do metal, será entregue no dia 30 de setembro, quando haverá shows com os cantores Almir Sater e Sérgio Reis, no mesmo local.

De acordo com Ique, a estátua é a peça de mais alto nível técnico até então realizada, ele fez estátuas como a de Martinho da Vila, Pixinguinha e Manoel de Barros, dentre outros trabalhos.

“É um desafio muito grande, porque as informações fotográficas de registros históricos que não auxiliam muito o trabalho de detalhamento. E para mim é uma honra muito grande de receber esse convite do governador de fazer esse presente e agradeço o convite porque é um privilégio, não só por fazer um ícone tão importante da cultura brasileira, mas porque faz parte da minha história, eu sou de e quantas e quantas vezes na minha juventude, eu cantava Pé de Cedro para encantar as moças da minha época, fez parte da minha história”. Disse Ique em entrevista concedida a rádio Vale FM, na praça.

Além do dom do artista, para criar a estátua, foi preciso um trabalho longo e técnico, que inclui desde estudos e referências, passando pelo desenho, confecção de miniaturas, modelagem da peça em tamanho natural em platina, retoque de cera, fundição em bronze, montagem, soldagem, acabamento final e pátina, para então ser transportada e fixada em Coxim.

A assinatura do convênio do Governo do Estado com a Prefeitura de Coxim para construir a estátua, aconteceu em junho deste ano, nas presenças do governador Reinaldo Azambuja, do prefeito Edilson Magro, do então secretário de Estado de Cidadania e Cultura Eduardo Romero, vereadores e demais autoridades.

Quem foi Zacarias Mourão

Zacarias dos Santos Mourão, o Zacarias Mourão, nasceu em 15 de março de 1928 na cidade de Coxim, no estado de . Passou a na igreja, onde se tornou coroinha ao lado de Padre Chico, que o apelidou de Tió, nome de um pássaro danado. Aos 15 anos, o menino decidiu ser padre e mudou-se para Campo Grande, onde fez dois anos de seminário, mas percebeu que não tinha vocação para o sacerdócio e resolveu deixar de lado a batina.

Na capital, Zacarias entrou para a Aeronáutica e depois, aos 21 anos, foi estudar em Petrópolis/RJ, mas a vida por lá não agradou. O rapaz passava a maior parte do tempo trancado em um quarto, escrevendo sobre Coxim. Resolveu morar em São Paulo, onde entrou para o DER (Departamento de Estradas e Rodagem); responsável pela construção, manutenção de vigilância das estradas; como operador de máquina. Fez carreira até sair como Policial Rodoviário Federal.

Em 1959, aos 31 anos, Zacarias retorna à cidade sul-mato-grossense, visita o pé de cedro que havia plantado quando criança, conversa com Padre Chico e volta à capital paulista com a letra da música, sobre a árvore, já escrita. Foi quando pediu a Goiá, outro compositor, que musicasse a canção que viria a marcar sua carreira.

No período em que trabalhou no Departamento de Rodagem, o compositor continuou mexendo com produções artísticas e cursou jornalismo pela Cásper Líbero.

O Zacarias radialista, produtor, empresário, diretor de gravadora e compositor começa a surgir nesta época, no rádio, quando ele venceu um concurso de poesia na Rádio e ganhou um programa para fazer.

Zacarias Mourão também recebeu diversos prêmios no Festival de Música Sertaneja da Rádio Record de São Paulo. Além de compositor, Zacarias Mourão foi também radialista, tendo trabalhado na Bandeirantes, na Excelsior e também na Nacional. Na Bandeirantes, por sinal, também foi diretor artístico sertanejo e, com essa função, descobriu vários novos talentos na música caipira. Zacarias também foi diretor artístico e produtor de diversas gravadoras, tais como Polygram (hoje Universal), Chantecler (hoje Warner Music) e RCA (hoje BMG).

Além de comandar o programa de rádio, ele era colaborador de revistas em São Paulo, como a “Melodias” e a “Moda e Viola”, na qual assinava a coluna “Venenos do Zacarias”, onde retratava, com humor, o mundo artístico da época.

Suas composições foram gravadas por renomados intérpretes, como as Primas Miranda, Tião Carreiro e Pardinho, Irmãs Galvão, Tibagi e Miltinho, Zilo e Zalo, entre outros.

Zacarias retornou ao Mato Grosso do Sul no ano de 1981, e passou a residir em Campo Grande, onde trabalhou na Assembléia Legislativa, sem no entanto abandonar o meio artístico. Participou também como jurado do programa “Nossa Terra Nossa Gente”, que ia ao ar pela TV Campo Grande, além do programa “Porteira Velha” que apresentava na Rádio Cultura.

Brigava constantemente pela valorização dos artistas regionais. Chegou a ser proprietário da ZN Produções.

A vida de Zacarias Mourão foi interrompida na madrugada de uma terça-feira, em 23 de maio de 1989. O compositor, na época com 61 anos, sofreu atentado na casa que residia, localizada no Jardim TV Morena, em Campo Grande. Ele recebeu uma facada na altura do coração e chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos e morreu durante uma cirurgia de emergência na Santa Casa. O assassinato, até hoje, não foi esclarecido.

E, com a morte trágica de Zacarias Mourão, o sonho de fazer a praça pública no lugar do pé-de-cedro passou a ser um desafio ainda maior para os amigos e familiares. Foi erguido no local um busto em homenagem ao compositor, o que deu início à construção do espaço público com o qual ele sempre sonhou. (Com informações da ).