Alvo de briga de sindicatos, trabalhadores de construção bilionária de indústria paralisam em MS

Diferença salarial entre funcionários também é um dos motivos da insatisfação no local

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Trabalhadores durante paralisação na manhã desta quarta-feira (23)
Trabalhadores durante paralisação na manhã desta quarta-feira (23)

A data-base da maior parte dos trabalhadores que se encontra em Ribas do Rio Pardo, precisamente na construção da nova fábrica de celulose da Suzano, será em 1º de março e os ânimos estão acirrados pela disputa de quem vai conduzir as negociações salariais deste ano. O centro da disputa é o contingente de cerca de 1.200 funcionários da Tucumann Engenharia e Empreendimentos, que é uma das empresas que prestam serviços à Suzano.

Parte dos trabalhadores da Tucumam iniciou uma paralisação na última segunda-feira (21), e o ato só deve ser suspenso quando a diretoria da empresa receber os colaboradores para uma negociação. O líder da paralisação é Bruno Guimarães Gonçalves, que completou 36 anos nesta quarta-feira (23) e recebeu – de presente aniversário – a barração na porta da empresa. De acordo com Bruno Guimarães, que não foi demitido da empresa, a paralisação prossegue nesta quinta-feira (24) a partir das 5h da manhã.

Para o sindicalista e funcionário da Tucumann, a sociedade precisa saber o que a empresa vem fazendo com os funcionários. Ele alega que, como as reivindicações anteriores não foram cumpridas, os trabalhadores querem fundar um novo sindicato tendo como origem o município de Ribas do Rio Pardo. “Esse sindicato de Campo Grande não faz nada por nós aqui. Na nossa paralisação não houve nenhum tipo de ato de violência”, disse Bruno Guimarães, que ainda não memorizou o nome do novo sindicato, no qual ele é cotado para ser presidente.

Entre as reivindicações do sindicato, Bruno Guimarães destaca o aumento do vale-refeição, que hoje é de R$ 200, para R$ 600. Outro ponto importante está relacionando ao pagamento das horas extras, cujo percentual hoje é de 50%, e os trabalhadores almejam que suba para 70%. Outro ponto-chave da negociação vem da cozinha. Isso porque os funcionários da Tucumann não suportam mais a alimentação que é fornecida no refeitório da obra. “A comida é mal feita e às vezes vêm com moscas varejeiras. Tem dia que o restaurante está com um cheiro insuportável de comida podre – é um odor muito ruim, terrível”, criticou Bruno Guimarães.

Mais uma questão reclamada pelos trabalhadores da Tucumann vem dos banheiros dos alojamentos, que agora são considerados pontos de imundícies. “Se você precisar usar o banheiro do alojamento, você não vai aguentar o cheiro. O banheiro está imundo porque é muita gente para poucos sanitários e a limpeza demora a ser feita. Para completar, os ônibus fazem com que todo mundo chegue atrasado e, no fim do mês, o salário vem menor”, detalhou Bruno Guimarães.

As reclamações do sindicalista quanto à Tucumann não param por aí. Segundo Bruno Guimarães, até o holerite da empresa não está da forma correta. Ele diz que o limite de horas trabalhadas ao mês, que seria de 220 horas, está em 176 horas. Isso significa que o salário-base, que seria de R$ 1.752,51, fica em apenas R$ 1.291,84, e o Descanso Semanal Remunerado – que nos holerites aparece com a sigla DSR – está vindo em apenas R$ 376,76 e esse valor – de acordo com Bruno Guimarães – está incorreto. Até a chamada “baixada”, que é um intervalo de cinco dias a cada dois meses para que o funcionário possa ver sua família, vem sendo desrespeitado, na visão do sindicalista, por incluir o domingo na conta.

Os funcionários da Tucumann contrataram advogados de Ribas do Rio Pardo para que recebessem conselhos eficientes de como mudar essa realidade. Agora, eles aguardam a presença do MPT (Ministério Público do Trabalho) para que o conjunto de críticas apresentadas, assim como de reivindicações não cumpridas, possam ser comprovadas – seja na parte referente às remunerações, como também na questão da alimentação, limpeza e higiene do refeitório e banheiros do alojamento.

Em nota oficial, Tucumann declara que paralisação dos trabalhadores é ilegal

“A Tucumann Engenharia e Empreendimentos informa que, na manhã desta quarta-feira (23/2), cerca de 10% dos seus colaboradores iniciaram um movimento de paralisação e apresentaram uma pauta de reivindicações. A Tucumann esclarece que tal movimento é ilegal, visto que não foram cumpridos nenhum dos requisitos legais necessários. A empresa informa ainda que segue rigorosamente a convenção coletiva da categoria, bem como todas as normas e exigências de saúde e de segurança dentro do canteiro de obras e também em seus alojamentos”.

Suzano destaca que demais empresas contratadas trabalham normalmente

A Suzano informa que, na manhã desta quarta-feira (23/2), alguns trabalhadores da empresa Tucumann Engenharia e Empreendimentos iniciaram um movimento de paralisação de suas atividades, o que está sendo tratado diretamente pela Tucumann. A Suzano esclarece ainda que as demais empresas e colaboradores que atuam na construção de sua nova fábrica em Ribas do Rio Pardo seguem normalmente com suas atividades.

Mais de 1 mil trabalhadores paralisam obra da Suzano por disputa salarial e briga de sindicato from Jornal Midiamax on Vimeo.

Presidente do Sinticop-MS diz que grupos políticos querem enfraquecer categoria

O presidente do Sintcop-MS (Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil Pesada de Mato Grosso do Sul), Walter Vieira dos Santos, que atende aos colaboradores da maior parte das empresas contratadas pela Suzano na construção da nova fábrica de celulose em Ribas do Rio Pardo, destacou que esse movimento de criar um novo sindicato só vai enfraquecer a categoria. “A maior [parte] dos trabalhadores vai embora da cidade quando a obra de construção acabar. Quem vai ficar serão aqueles que vão trabalhar na industrialização da celulose”, explicou Walter Vieira.

Para o sindicalista, criou-se uma grande expectativa de que a obra pode demorar mais que o previsto, o que é ilusório por se tratar de um investimento bilionário de cerca de R$ 14,7 bilhões. Hoje, segundo Walter Vieira, 80% dos trabalhadores nesta etapa da obra vêm de outras regiões do país, principalmente sudeste e nordeste. “Nossa categoria não tem um piso nacional. Cada Estado tem um piso diferenciado, de acordo com a economia de cada unidade da federação e isso é fato”, informou Walter Vieira. Um pedreiro vindo de São Paulo recebe, por mês, R$ 2.024,00, enquanto um de Mato Grosso do Sul é remunerado com R$ 1.614,80.  

Toda essa briga, na avaliação do sindicalista, começou quando ficou constatado que trabalhadores oriundos de São Paulo ganham mais que os demais. Walter Vieira frisou que isso não pode ser modificado do dia para a noite, pois se trataram de negociações estaduais e que foram estabelecidas em dissídios coletivos. Entretanto, ele não se coloca contra a isonomia salarial, mas entende – e defende – que esse processo seja reflexo de negociações que evoluam ano a ano. “Eles querem criar um sindicato só de Ribas do Rio Pardo e pensam que vão enquadrar as empresas em padrões de outros Estados, que, no caso, têm custos de vida mais elevados e cestas básicas mais caras”, salientou.

Segundo Walter Vieira, todos os benefícios que hoje esses trabalhadores desfrutam – inclusive aqueles que são do quadro de colaboradores de Tucumann – são originários das negociações do Sintcop-MS, com a participação decisiva deles. De acordo com Vieira, eles estão lutando em duas frentes: uma para conseguir uma melhor negociação sozinhos e outra para tentar retirar o Sintcop-MS da mesa. Para Vieira, não vão conseguir nada deste jeito e estão sendo usados – politicamente – como massa de manobra de política sindical.

Walter Vieira destacou que o vale-alimentação, que hoje é uma das reivindicações de reajuste, já está na pauta e o que está em vigor hoje veio de lutas do Sintcop-MS. No entanto, Vieira disse que ‘esses sindicalistas’ não estão revelando outras conquistas importantes, como, por exemplo, a Participação sobre Lucro Real (PLR), que é um 14º salário e que já está garantido. A “baixada”, a visita a cada 60 dias para quem está distante dos parentes, é outra conquista. No transporte durante a “baixada”, a alimentação é paga pela empresa. Fora isso, o principal: o reajuste salarial, que é composto pelo percentual do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) dos últimos 12 meses, que, por enquanto, está em 10,23%, além do aumento real, que também será pleiteado. Segundo Walter Vieira, o Sintcop-MS também conseguiu um prêmio de 50% para os trabalhadores que não têm 12 meses completos no período de Natal tendo equivalência proporcional de PLR, além de um prêmio no valor de R$ 150 de “vale-Natal”.

Decreto da Prefeitura de Ribas do Rio Pardo não vai permitir aglomerações

Na última segunda-feira (21), a prefeitura de Ribas do Rio Pardo publicou um novo decreto de enfrentamento à pandemia da Covid-19, estabelecendo um novo toque de recolher até 2 de março. Pelo decreto, o toque de recolher de segunda à quinta-feira será das 23h às 5h e de sexta-feira ao domingo das 00h às 5h. O uso de máscara de proteção individual em ambientes abertos e fechados, com ou sem aglomeração continua mantido.

Bares, restaurantes, lanchonetes, padarias e congêneres devem respeitar as medidas de biossegurança aplicáveis ao segmento, vedando-se shows ou música ao vivo. Durante o horário das atividades religiosas, deve-se respeitar as medidas de biossegurança aplicáveis ao segmento, ainda devendo promover o controle de acesso ao público, mediante higienização de mãos, aferição de temperatura, não podendo ultrapassar 50% da capacidade instalada de assentos, cadeiras ou bancos, devidamente sinalizados aqueles preventivamente interditados.     

Polícia Militar confirma, em nota, que decreto da Prefeitura tem que ser respeitado

“Havia a previsão da realização de uma assembleia sindicalista no pátio de acesso ao canteiro de obras da fábrica da Suzano a ser realizado na data de hoje (22/02/22) no intuito de realização de ato para instituição de um sindicato.

Porém, diante da vigência do decreto municipal n. 23 com medidas restritivas de combate ao COVID-19, foi comunicado por meio da vigilância sanitária e Polícia Militar que qualquer ato que gerasse aglomeração era ilegal, bem como posicionado pelo comitê municipal de enfrentamento ao COVID-19 e formalizado em reunião um comunicado aos representantes jurídicos do sindicato sobre a ilegalidade do ato em razão de possíveis aglomerações.

Porém, na data de 21/02/22 (segunda-feira) foi recebido diversas informações de que haviam alguns trabalhadores ligados a obra querendo realizar o ato programado, com ameaças de até fazerem o bloqueio da BR 262 impedindo seu tráfego.

Diante das suspeitas, a Polícia Militar mobilizou forças, bem como parceria da PRF e houve uma ação preventiva em conjunto das forças de segurança no intuito de impedir qualquer ato ilegal no local.

As ações começaram por volta das 04h30mim e através de um planejamento operacional preventivo, foi empregado medidas com intermédio e apoio da Suzano que possibilitou que até o presente momento não houvesse no local nenhum ato ilegal, violento ou manifestação que trouxesse danos ou fechamento da rodovia.

As forças de segurança pública permanecem em alerta e contam com a ajuda e conscientização de todos os envolvidos no sentido de haver respeito às leis e ao decreto em vigência, e espera que nenhum ato de descontrole venha acontecer. Em resumo, até o presente momento, não há mais nenhuma alteração no local”.

    

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