Entre desafios e lutas, mães de prematuros contam sobre rotina na UTI: ‘não temos controle’

Esta quinta (17) é o Dia Mundial da Prematuridade

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Novembro Roxo
Novembro roxo mês de sensibilização sobre a prematuridade (Foto: Arquivo Pessoal)

Toda mãe se identifica no anseio de sentir o calor e o cheiro do bebê nos segundos após o nascimento. Mas em muitos casos, a prematuridade tira a expectativa do primeiro contato pele a pele e dá lugar aos primeiros dias de luta pelo desenvolvimento do recém-nascido. Nesta quinta-feira (17), Dia Mundial da Prematuridade, mães contam ao Jornal Midiamax a experiência do nascimento antes do previsto. Só em Campo Grande, no ano passado quase 10% dos bebês nascidos na Capital foram prematuros.

Gisele Mendonza estava na 25ª semana da gestação quando Carlos Augusto nasceu na Santa Casa de Campo Grande, com 750g. Foram dois meses de internação na incubadora, em constantes ganho e perda de peso.

“Um aprendizado de ficar na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), é que não temos controle de nada. Nós sonhamos com um parto, acima de 37 semanas, em tirar fotos com o bebê saindo e ter ele nos braços. Não vi meu bebê, só via ele pela incubadora, via ele todo furadinho, exames sem fim, transfusões de sangue, medicações, leite, sonda. É muita coisa, Carlos Augusto, muito guerreiro”, conta.

Já com sete meses, a rotina de idas e vindas em consultas não cessaram, já que Carlinhos precisa de acompanhamento de fonoaudiologia, fisioterapia e atualmente está na corrida contra o tempo para operar duas hérnias e a catarata.

“Carlos Augusto teve alta em junho [deste ano] e só agora novembro marcaram para iniciar a fisioterapia, sendo que para eles é muito importante eles se desenvolverem”, desabafa.

Carlos Augusto
Carlos Augusto está com sete meses (Foto: Arquivo Pessoal)

Primeiro filho

Quem vê o sorridente Theo, de 2 anos, nem imagina que ele nasceu prematuro, com 1,7 kg e com 42 centímetros. O pequeno é primogênito de Jéssica Silveira Campos e Marcell Carvalho da Costa Rezende.

Jéssica se recuperava de um quadro de anorexia, passou a maior parte da gravidez no hospital, tomando soro e vitaminas. Em mais uma das dores que sentiu no processo, procurou a maternidade, acreditando que seria mais uma rotina, tomaria soro na veia e voltaria para casa.

“Fui para o hospital com 31 semanas sentindo fortes dores, eu tive uma gestação complicada, tensa e de risco. Minha sorte é que o Marcell estava em casa, estava com dores fortes, fraqueza, fui para o hospital não esperando estar em trabalho de parto. A médica disse que eu estava com 2 centímetros de dilatação, que precisava me internar, ficar em repouso e tentar segurar bebê”.

O pulmão do filho não estava formado por completo, a pediatra que acompanha aplicou medicamentos e Jéssica ficou internada por uma semana. A empresária conta que foram os dias mais tensos da vida.

“Fiquei bem desesperada, comecei a chorar, entrei em pânico, não estava me sentindo pronta. Segurei por uma semana. No dia que a gente teve alta, Marcell ligou para meu pai, o pai estacionou, desci da cama para ir para o carro quando minha bolsa rompeu. Fiquei 20 horas tentando o parto normal, mas não consegui passar de 3 cm de dilatação, o colo estava rígido. Meu marido interviu e tive cesária, com 32 semanas”.

Theo
Theo nasceu com 42 cm e hoje esbanja sorriso (Foto: Arquivo Pessoal)

Theo foi direto para UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Aquele momento do bebê nos braços da mãe deu lugar a vontade de acelerar o relógio, de ter a alta o mais rápido possível junto do bebê saudável.

Cada evolução é comemorada

Foram dois meses de acompanhamento com comemoração a cada evolução do crescimento, por exemplo, a primeira fralda e a primeira amamentação, mesmo que por sonda. Theo nasceu no auge da pandemia, até o primeiro contato com a mãe precisou ter como proteção roupas hospitalares, máscaras e touca.

“O momento mais emocionante foi quando pegamos ele pela primeira vez, porque desde que ele nasceu não encostamos. Foram 11 dias na incubadora sem pegar nem nada, só vendo e interagindo por voz. A gente chorou, foi ali que sentimos a pele, cabelinho, cheiro”, relembra.

Após a alta, o casal ainda redobrou os cuidados com a higiene do prematuro e risco da Covid-19. Jéssica até brinca que foram taxados de chatos, pois regravam os cuidados de lavar as mãos, não encostar nas partes vitais, etc.

“A gente tinha medo, eu também estava no quadro de risco. Meus pais e nós éramos cuidadosos, então pedíamos para passar álcool, porque a higiene dele era minuciosa, como eles são sensíveis, qualquer coisa da rua poderia afetar ele. Pedíamos porque a gente sabe o que passou na UTI e não queríamos voltar para lá”.

Novembro roxo

É celebrado todo dia 17 de novembro, Dia Mundial da Prematuridade. O mês é um reforço na sensibilização do nascimento prematuro, que a principal causa da mortalidade infantil no mundo. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), todo bebê que nasce com menos de 37 semanas de gestação é considerado prematuro.

Em Campo Grande, são, ao todo, 49 leitos de UTI Neonatal contratualizados pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Nesta semana, todos os leitos estavam ocupados, de acordo com o levantamento da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde).

Mas não é possível afirmar que todos estes pacientes são crianças prematuras, uma vez que também integram o registro as crianças nascidas a termo, mas que apresentem a necessidade de internação em leito de UTI. Também não é possível informar quantas destas crianças são oriundas de cidades do interior do Estado.

No ano de 2021, 12.738 crianças nasceram na Capital, sendo que 9,42% delas prematuramente, ou seja, foram 1,2 mil partos antes das 37 semanas de gestação no município. Até junho do corrente ano, o número total de nascidos vivos é de 6,504, sendo 12,88% prematuros, correspondendo a 838 gestações interrompidas antes da 37ª semana.

Como os dados só serão consolidados ao final do ano, neste momento não há como avaliar se houve ou não um aumento no nascimento de prematuros na Capital em 2022.

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