Venezuelanos vivem ‘mundos’ diferentes em cidade do MS que mais recebe refugiados

Interiorana, Dourados é a quarta do Brasil em acolhimento, com mais de 2.500 estrangeiros

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Na lista de grandes cidades e metrópoles brasileiras que abrigam mais de 50 mil refugiados venezuelanos, que fazem parte do Projeto Acolhida, conforme dados do Ministério da Cidadania, Dourados é a quarta com 2.501, à frente de Porto Alegre (1.868). Em primeiro está Manaus (4.939), seguida por Curitiba (3.352) e São Paulo (3.141).

Por trás dos números, há muitas vidas que se esbarram entre as linhas de produção de grandes frigoríficos que contratam mais de 60% da mão de obra estrangeira e os semáforos de ruas e avenidas da cidade. Esses locais expõem “mendigos temporários” em busca de alguns trocados para encher mamadeiras e garantir a marmita para dividir entre três e até mais pessoas, mesmo que seja no final do dia.

Na luta pela sobrevivência, muitas histórias se cruzam, muitos olhares se perdem no vazio, mas alguns se encontram diante de horizontes promissores. Tem lágrimas que caem, mas também há espaço para semblantes de alegria por novas oportunidades, seja com empregos garantidos, ou na informalidade das vendas de balas e gomas de mascar.

Com sorriso aberto, Wilfor Brizuela, é um exemplo de que o projeto desenvolvido para abrigar refugiados no Brasil, pelo menos em partes, parece funcionar. Em 2019 ele desembarcou em Dourados praticamente com a roupa do corpo. Com a ajuda de mórmons da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos, sua religião, e currículo diferenciado, o venezuelano passou de operário a encarregado de produção.

 “Com certeza minha vida mudou muito desde que cheguei aqui.  O que ganho dá para viver bem e até com conforto. Bem diferente da vida que levava na cidade onde eu morava lá na Venezuela”, conta o imigrante, que já está bem socializado com a realidade do município e se dá ao luxo até de morar sozinho em um quarto alugado.

A situação Wilfor está acima da média em relação aos demais conterrâneo. Aos 23 anos o rapaz que chegou em Dourados no dia 1º de abril de 2019, além do espanhol, sua língua mãe, fala fluentemente português, inglês e francês.  Mesmo com 8 horas diárias de trabalho, ele encontra tempo para cursar, à distância,  Gestão  em Comércio pela Brigham Young University , nos Estados Unidos e ainda praticar atletismo, com destaque para as modalidades de arremesso de peso e de disco.

Wilfor Brizuena tem bom emprego, fala quatro idiomas e faz curso à distância em universidade americana

                                           

Almoço na hora da janta

Se por um lado, Wilfor, ainda solteiro e com um salário que já lhe permitiu enviar algumas economias para a mãe e os irmãos que ainda vivem na cidade litorânea de Puerto de La Cruz. Para outros, que decidem enfrentar os desafios por contra própria, o cenário é bem diferente, como é o caso de uma família recém-chegada em Dourados, para quem os ventos da prosperidade ainda parecem longe de soprarem a favor.   Carlos de 37 anos e a mulher, Ismar de 28, entraram em Dourados na última quarta-feira (21), após uma longa viagem de ônibus de Manaus, com a filha Camila, de apenas 3 anos.

No sábado (24), os três foram para o cruzamento da Avenida Marcelino Pires com a Rua Coronel Ponciano. Com um boné do Corinthians na mão, que ganhou de uma pessoa, Carlos aproveitava o sinal vermelho para tentar garantir pelo menos o leite da pequena Camila.

Família de venezuelanos teve que ir pedir ajuda no semáforo da região central de Dourados
Família teve que ir pedir ajuda no semáforo, em Dourados

“Tivemos que deixar aquele caos que está a nosso Venezuela e vir tentar a sorte aqui nesta cidade. Enquanto ainda não conseguimos arrumar trabalho, a gente cria coragem e pede ajuda. Nossa filha já comeu hoje, mas nosso almoço talvez seja somente na hora da janta, com aconteceu nos outros dias”, conta Ismar, que apesar do olhar triste, esboça uma alegria debaixo da máscara tirada para enxugar o suor do sol de abril que escorre pelo rosto.

Perto dali, em outra avenida da cidade, mais três crianças, de 7, 4 e 3 anos se movimentam sobre o canteiro, enquanto os pais Antônio, de 35 e mulher Rosalina, de 30, vendem balas. ” Hoje não está fácil. Ninguém é obrigado a comprar e nem ajudar, mas não precisa ofender. Tem pessoas que passa aqui, e além de fechar a janela do carro, xinga a gente de vagabundo” conta Antônio, que está há cinco meses sem emprego.

 

 

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