Com a pandemia de coronavírus, o uso do medicamento cloroquina tem sido motivo de discussões e polêmicas. O medicamento foi motivo da demissão do ex-ministro da Saúde Nelson Teich e na última semana foi até receitado a um paciente sem exame confirmado para coronavírus em uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de . Para proteger pacientes e profissionais da saúde, o Sinmed-MS (Sindicato dos Médicos de ) defende a criação de um protocolo para uso da cloroquina. 

O presidente do Sinmed, Marcelo Santana Silveira, explica que a cloroquina foi indicada como uma possível medicação para o coronavírus, mas que ainda não houve tempo hábil para realizar todos os estudos sobre os efeitos da substância. Em Mato Grosso do Sul, não há um consenso sobre o uso da cloroquina, logo cada médico define com o paciente se o medicamento será usado ou não no tratamento do coronavírus. “Existe ainda o uso compassivo, quando você não tem mais o que fazer pelo paciente. Diante da situação, você usa a medicação para ver se o salva”.

Santana pontua que ainda faltam estudos, mas é preciso definir como a medicação deve ser utilizada em Mato Grosso do Sul. “Temos que ter uma visão criteriosa. A Secretaria de Saúde poderia montar um grupo de ética para estabelecer um protocolo e assim tirar a responsabilidade individual do profissional”. 

Segundo o presidente do sindicato, o protocolo deve ser organizado e validado por entidades médicas e secretarias de Saúde do estado. Ele opina que, como não há estudos completos sobre o assunto, é uma responsabilidade pesada receitar a cloroquina. “A gente entende que a prescrição é de competência médica, mas estamos em estado de exceção. Não há consenso, as opiniões são divergentes”, diz.

Para ele, o protocolo pode liberar o uso de cloroquina para casos leves ou moderados com exame positivo para o coronavírus. “Pacientes sintomáticos com exames positivos iniciariam tratamento, mas de forma colegiada. Entendemos é de extrema incerteza, a decisão individual expõe injustamente o profissional”.

O médico cita ainda uso irresponsável do medicamento. Em entrevista, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, chegou a afirmar que faz uso da hidroxicloroquina “há semanas” para se prevenir de uma possível contaminação pelo coronavírus, de acordo com o site da NBC. “Existem afirmações de que ele usa profilaticamente, é um absurdo”.

Riscos do uso da cloroquina

São vários os possíveis efeitos colaterais do uso da cloroquina. O principal problema apontado é o efeito cardiovascular, que causa principalmente arritmias cardíacas, ou seja, o coração começa a bater de forma irregular. 

O efeito foi lembrado pelo ex-ministro nesta semana, em entrevista à Folha de São Paulo. “ Se todos os velhinhos tiverem arritmia, vão lotar o CTI, porque têm muito mais casos de arritmia que (derivam de) complicação de Covid. E vou ter que arrumar CTI para isso, e pode ser que morra muita gente em casa com arritmia”.

O presidente do sindicato dos médicos em MS cita ainda outros sintomas, como problemas no sistema nervoso central (convulsões), cefaleia (dor de cabeça), distúrbios visuais, coceira no corpo ou até sangramentos. “Pode acontecer. Na maior parte das vezes, não acontece, mas é uma probabilidade”, frisa.

Paciente sem coronavírus recebe receita de cloroquina

Na última semana, uma médica receitou hidroxicloroquina para um paciente com suspeita de coronavírus em uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Campo Grande e a paciente, de 32 anos, alega ter apresentado apenas sintomas leves de gripe. Ela reclamou da situação ao Jornal Midiamax no domingo (17).

Após a suspeita, o exame deu negativo para o novo coronavírus, o . Ela teria tido apenas uma gripe, mas a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) recomenda que o teste para coronavírus seja refeito. A paciente conta que ficou com medo de tomar o medicamento sem ter certeza sobre o diagnóstico e que decidiu esperar o resultado do exame.