Dois suicídios em um mês reforçam alerta sobre trabalhores da saúde em MS
O suicídio do técnico de enfermagem William Flávio Corrêa Franco, de 37 anos, cujo corpo foi encontrado na madrugada desta sexta-feira (25) no banheiro da CTI da Santa Casa, incrementa uma estatística alarmante e, mesmo assim, pouco ou nada explorada em MS: a de profissionais de saúde que se matam. William é o segundo caso […]
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O suicídio do técnico de enfermagem William Flávio Corrêa Franco, de 37 anos, cujo corpo foi encontrado na madrugada desta sexta-feira (25) no banheiro da CTI da Santa Casa, incrementa uma estatística alarmante e, mesmo assim, pouco ou nada explorada em MS: a de profissionais de saúde que se matam.
William é o segundo caso semelhante somente neste mês, em meio a vários outros informalmente reportados nos últimos anos. Antes de William, o caso mais recente e de maior repercussão ocorreu em 2 de janeiro deste ano, quando Janaína Silva, que era enfermeira do HRMS (Hospital Regional Rosa Pedrossian), também se matou.
Em comum, de acordo com depoimentos de colegas e de pessoas próximas, ambos enfrentavam a depressão. Mas, também compartilhavam a rotina estressante a que profissionais de saúde relatam ser submetidos.
Burnout e depressão
Apesar de alarmante, suicídios de profissionais de saúde costumam ser tratados por gestores como questões isoladas – não há, por exemplo, registros ou estatísticas formais, nas secretarias e no Ministério da Saúde, desses casos, e nem políticas públicas efetivas para promover o autocuidado, sobretudo o emocional.
Por outro lado, são vários estudos acadêmicos que sugerem conexão entre a jornada de trabalho exaustiva, doenças psiquiátricas e o suicídio. Os mais recente apontam que é maior o risco de suicídio entre profissionais de saúde que apresentem sintomas de depressão e da Sindrome de Burnout, uma espécie de depressão atribuída às condições de trabalho – como jornadas exaustivas, pouco descanso, baixos salários e pressões intrínsecas da profissão, no caso, lidar com o sofrimento de pacientes.
Um deles, publicado em 2016 por pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da USP e da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, em Portugal, analisou a existência de relação entre a síndrome de Burnout e a depressão em enfermeiros de uma UTI. Como resultado, 14,29% dos enfermeiros apresentaram Burnout e 10,98% tinham sintomas de depressão.
A pesquisa concluiu o seguinte: quanto maior for o nível de exaustão emocional e menor for a realização profissional desta categoria, maior é a probabilidade de apresentarem sintomas de depressão. E em sendo a depressão um dos elementos que culminam no suicídio, basta juntar os pontos.
Prevenir e tratar
Referência em estudos e políticas preventivas sobre suicídio, o capitão capelão do Corpo de Bombeiros de Mato Grosso do Sul, Edilson dos Reis, reforça o alerta para suicídios entre profissionais de saúde. Em entrevista ao Jornal Midiamax no início do mês, Reis destacou que são vários os casos de
enfermeiros que se suicidam.
“Relaciono isso à carga de trabalho excessiva, à angústia inerente à profissão, às questões familiares e, principalmente, à tentativa de esconder as questões de saúde”, comenta. “A prevenção é a chave, mas só procuramos ajuda quando está descontrolado. Por quê?”, questiona.
O tabu da depressão pode ser a resposta. Segundo Reis, o profissional que sucumbe à depressão ou ao stress pode buscar tratamento e receber atestado para cuidar de si. “Mas, aí vem o assédio. Ele passa a ser considerado preguiçoso, vão dizer que ele não quer trabalhar, que está se aproveitando. Ele também deixa de ganhar adicionais pelos plantões. Então, acaba sendo comum às pessoas submeterem-se para não sofrerem essa discriminação”, afirma.
À frente do Coren-MS (Conselho Regional de Enfermagem de MS), o doutor em enfermagem Sebastião Junior Henrique Duarte sustenta que as condições de trabalho da categoria podem funcionar como os gatilhos mencionados por Reis. Desde a morte de Janaína, o presidente do Coren destaca a mobilização da categoria para cobrar das autoridades melhores condições de trabalho.
“A categoria enfrenta uma dura realidade, na qual a sobrecarga de trabalho se tornou comum. É uma profissão que ao longo dos anos se precarizou. A jornada é longa e exaustiva e a compensação salarial é baixa, o que obriga uma dupla ou tripla jornada”, afirmou Junior ao Midiamax, no início do mês.
Antes mesmo da morte de Willian, estava marcado para este domingo (27) uma mobilização de profissionais de enfermagem pela valorização da categoria e pela redução da jornada de trabalho. Agora, com o segundo caso de suicídio em apenas um mês, espera-se que a mobilização seja ainda maior.
Confira outras reportagens sobre esse tema produzidas pelo Jornal Midiamax:
- Morte de enfermeira é sintoma de condições precárias de trabalho de profissionais de saúde em MS
- Após morte de enfermeira, profissionais se mobilizam pela redução da jornada de trabalho
- Em ato simbólico, enfermeiros choram a morte de Janaína e clamam por visibilidade
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