VÍDEO: superlotado e faltando funcionários, pacientes ficam no corredor do HR
Desde dezembro, situação é crítica no hospital
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Desde dezembro, situação é crítica no hospital
Superlotado e com deficit de funcionários, os pacientes que chegam ao PAM (Pronto Atendimento Médico) do Hospital Regional Rosa Pedrossian, estão passando os dias internados nos corredores da unidade. Com capacidade para 77 pacientes, na manhã desta segunda-feira (18), há pelo menos 120 pessoas no PAM. Já os técnicos de enfermagem, que deveriam ser pelo menos 23, estão em 18 servidores.
Há pacientes que ficam até cinco dias no corredor, enquanto alguns que deveriam estar na ala verde permanecem internados há 15 dias na ala azul [local que em até 24 horas deveria o caso resolvido e encaminhado para outra ala].
Segundo os funcionários, a situação está crítica desde dezembro de 2015 e pode estar relacionada à epidemia de dengue enfrentada pela Capital. Eles dizem que alguns dos pacientes que estão aguardando por um leito nos corredores poderiam estar nas UPAs (Unidade de Pronto Atendimento), mas por conta da lotação causada pelas doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, tiveram que procurar atendimento no Hospital Regional.
Os pacientes são unânimes em afirmar que os técnicos de enfermagem fazem tudo o que é possível, mas não dão conta de atender a todos. Eles inclusive, extrapolam a competência do serviço para levar o mínimo de conforto aos internados.
Por conta da falta de pessoas, os remédios são ministrados pelos técnicos, mas atendimentos como os banhos ficam prejudicados. Há relatos de quem ficou cinco dias sem tomar banho, de forros de maca que não são trocados, dificuldade em trocar curativos entre outros problemas causados pela superlotação.
Outro problema é que o setor dos técnicos de enfermagem está localizado longe do corredor onde ficam os pacientes. Corredor este, que dá acesso ao CTI (Centro de Terapia Intensiva) e, quando alguém tem que ser levado de maca para o CTI, tem que passar pelo corredor apertado e lotado de pacientes.
Os profissionais de saúde da unidade reclamam que há diversos buracos na escala que para dar jeito, é um “tapa aqui, descobre ali”. Segundo eles, apesar da situação de flagrante lotação, ainda não foram tomadas medidas pela direção para amenizar o ‘caos’.
Para dar conta da demanda nesta semana, funcionários da endoscopia tiveram que passar para o PAM, o que segundo eles, vai acabar atrasando e suspendendo procedimentos de imagem por pelo menos uma semana.
Já que as reclamações feitas à direção do hospital não foram atendidas e nem foi dada uma previsão para a normalização, os funcionários do PAM decidiram fazer uma paralisação de uma hora nesta segunda. Eles lamentam a situação dos pacientes e a deles próprio, de trabalhar sem condições.
“Não podemos negligenciar os pacientes e queremos dar uma assistência digna, mas deste jeito não dá. Trabalhamos todos os dias esgotados, com defasagem de pessoal. Exigimos [da direção do hospital] que tome uma atitude, diz uma das funcionárias.
Como o serviço é essencial, eles não podem fazer uma paralisação longa. Mas, prometem parar o serviço por uma hora, todos os dias até que o problema seja resolvido. O que eles queriam realmente, é que o diretor do hospital Justiniano Barbosa Vavas descesse ao PAM e olhasse para eles e para os pacientes e desse uma resposta e uma previsão de quando ao caos vai ter fim.
De acordo com Eder Lima, secretário geral do Sintss-MS (Sindicato dos Trabalhos em Seguridade Social em Mato Grosso do Sul), que representa a categoria, os funcionários entregaram um abaixo assinado sobre as condições de serviço.
Sobre a falta de técnicos de enfermagem, o sindicalista revela que houve concurso, porém muitos dos aprovados no pleito também foram aceitos em outro concurso, da Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), que selecionou profissionais para o Hospital Universitário, o que ‘esvaziou’ novos técnicos no Hospital Regional.
“A direção informou que está realizando uma reunião com a diretoria clínica e técnicos para tentar trazer uma solução e depois disso dar uma resposta aos funcionários”, disse Lima.
O problema de pacientes internados nos corredores de hospitais é antigo e o MPE (Ministério Público Estadual) já ajuizou ação civil pública, que teve decisão favorável da Justiça, mandando que os hospitais se abstivessem manter pacientes internados nos corredores.
Pelos corredores
Enquanto aguardam um leito digno, os pacientes leem revista, conversam, mas nada tira da cabeça a indignação de não tem uma vaga decente no hospital. Para os acompanhantes a situação dói tanto quanto em quem está inferno. Pais, filhos, maridos, mulheres que veem seus entes queridos jogados em uma maca de corredor, sem banho, sem um atendimento adequado.
Juliana Nogueira da Silva, 39 anos, está há dois dias acompanhando a mãe, Eva Nogueira, 59 anos, que está com pneumonia, internada no corredor e com uma goteira quase ao lado. “Como deixa uma pessoa com pneumonia assim. Vê a situação, tudo úmido e com a água escorrendo”, diz. A peregrinação das duas começou há mais de uma semana na UPA do Coophavilla, com suspeita de dengue.
Depois, dona Eva começou a apresentar sangramentos e foi encaminhada ao Hospital Regional. Lá, ela ficou por dois dias aguardando uma maca, internada em uma cadeira de ferro e plástico. Há dois dias ela conseguiu uma maca para ficar no corredor. As duas ainda aguardam o resultado de exames. Segundo Juliana, nem termômetro para medir a temperatura tem. “Eles [os funcionários] pediram que se tivesse era para trazer”.
Margareth Alves Rodrigues reclama do poder público. Nenhum dos governantes escapa da ira de uma mãe que vê a filha doente por dias “sendo constrangida”. “Quando é para pedir votos eles pedem, mas agora, fica nessa situação”, desabafa. A mãe reclama do governador Reinaldo Azambuja (PSDB), do prefeito Alcides Bernal (PP) e até do vice-prefeito afastado Gilmar Olarte. Segundo ela, os funcionários fazem o que podem, mas não é o suficiente para garantir o tratamento dos pacientes.
“Ela ficou no corredor e agora, levaram para o isolamento, com suspeita de H1N1, mas eu tenho certeza que ela não tem isso, porque moramos todo mundo junto e ninguém mais teve”, disse a mãe da paciente. A reclamação dela é que depois que foi para o isolamento, a filha não teve mais alimentação. “Não levaram comida para ela e também não deixaram que eu levasse. Ela está sozinha, porque eu não posso ficar lá e passando fome”.
José Amílton Ferreira está há 15 dias com o pai, de 70 anos, internado na área azul dos hospital, sendo que já deveria estar na área verde. Segundo ele, o pai tem cirrose e já há a suspeita de câncer, mesmo assim, ainda não há atendimento especializado. “As enfermeiras dão medicamento, mas não ajudam a dar banho. Estamos esperando a vaga para tomografia e enquanto isso, eu fico aqui acompanhando nessa cadeira de plástico).
Na área verde, onde o pai de José Amílton deveria estar são 24 pacientes internados e três funcionários, quando deveriam estar em pelo menos quatro.
Respostas
O Jornal Midiamax procurou o diretor do hospital, Justiniano Barbosa Vavas, que não aceitou conceder uma entrevista. Por telefone, ele confirmou a reunião para resolver a questão. “Estamos fazendo o possível para não deixar todas as pessoas sem atendimento. Inclusive estou comum problema com relação à enfermagem, por conta de equipes não totalmente completas. A gente está se reunindo agora cedo para saber o que pode ser feito para minimizar isso”.
Segundo diretor, o problema seria conjuntural em todo o Estado e não, é um problema específico do Hospital Regional. Sobre data para por fim aos problemas, Vavas diz que ainda não é possível definir. “Não tem data. Eu vou me inteirar da situação agora cedo e depois de inteirado a situação e visto o ponto nevrálgico, é que vamos definir. Data para resolver os problemas de saúde pública, que não são do hospital Regional, que são Município, do Estado, que são do Brasil na verdade é muito complicado. A gente tem que usar a nossa criatividade para minimizar os problemas na casa da gente”.
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