Cenas de angústia foram protagonizadas pelos comerciantes das lojas afetadas pelo incêndio que atingiu ao menos quatro edifícios e uma igreja na região da 25 de Março, no centro de São Paulo, entre a noite deste domingo, 10, e a manhã desta segunda-feira, 11. Alguns empresários se sentiram mal, choraram e foram amparados pelos familiares. Outros ficaram apenas olhando, incrédulos, para os prédios enegrecidos pela fumaça. As chamas foram controladas somente pela manhã.

Carmen, que se identifica apenas pelo primeiro nome, pediu para ir embora após ver o estado em que se encontrava o prédio. A filha, Daniela, levou-a de volta ao carro e achou melhor que ela não desse entrevista. O Estadão tentou contato com Waldir Bertoni, proprietário das Lojas Matsumoto, cuja loja física foi destruída pelo incêndio, mas ele não quis se pronunciar. Outros comerciantes disseram que “não tinham cabeça para falar” e que “queriam esperar” para calcular os prejuízos. “Estão todos arrasados e preocupados como será a liberação de tudo para tentar voltar ao normal”, diz Claudia Hurias, diretora executiva da União dos Lojistas da 25 de Março.

O artesão Fabio Rodrigues, de 40 anos, praticamente não conseguia falar na esquina da praça Ragueb Chohfi. Ele olhava emocionado para o 2º andar do prédio da Cavalheiro Basílio Jafet, onde tem uma loja de artesanato chamada Fabi Rodrigues há cinco anos. Por causa das restrições de segurança impostas pelo e pela Defesa Civil, ele não conseguiu se aproximar do prédio. Embora o andar mostrasse uma fachada completamente escurecida pela fumaça, ele tem esperanças. “Pelas imagens que vi das câmeras de segurança, o prejuízo não foi grande. O problema é que não tenho certeza de quando são essas imagens, se são antigas”, diz o empresário, que ainda não consegue estimar o tamanho da perda financeira.

Até quem não teve seu negócio diretamente afetado acaba se solidarizando com os vizinhos. É o caso da empresária Marlene Silva, de 48 anos, que possui duas lojas de aviamentos na rua do incêndio e que não foram afetadas. “Estávamos tentando nos reestruturar, renegociando aluguel, por exemplo. A gente sente a dor dos outros como se fosse a nossa. É uma história”, diz. Nesse contexto, a União dos Lojistas cogita pedir que os outros estabelecimentos também fechem mais cedo como forma de solidariedade.

Outra preocupação se refere ao tempo para a liberação das ruas. A recomendação dos bombeiros é para que as lojas permaneçam fechadas e não há previsão de liberação para abertura. Fabio Domingues se lembra de um incêndio anterior, quatro anos atrás, em que precisou de pelo menos três dias para voltar ao trabalho. “Vou embora e volto depois. Não faz bem ficar olhando para isso e ficar nesse expectativa”, diz Fabio.

Ficou difícil respirar pelas ruas próximas do incêndio na manhã desta segunda-feira. A fumaça escura que podia ser vista em vários pontos do centros causava coceira nos olhos e até tosse. Os bombeiros alertam que ela pode ser tóxica. O vendedor autônomo Carlos Augusto Santos, de 62 anos, decidiu voltar a usar a máscara que, originalmente, era para evitar a transmissão da covid-19. “Não é o ideal, mas protege um pouco. Tenho de ficar aqui o dia todo e não vai ser fácil.

A rua 25 de Março está fechada. Por outro lado, o incêndio não afetou a circulação na rua Ladeira Porto Geral, outro importante endereço de compras populares no centro. Na altura do São Bento, da Linha 1 – Azul, o movimento continua normal, com lojas abertas e vendedores nas ruas e calçadas.

De acordo o capitão André Elias, do Corpo de Bombeiros, o fogo está controlado, mas os bombeiros devem trabalhar durante todo o dia para apagar totalmente as chamas. “Não há mais risco de propagação do fogo para outros edifícios ou lojas”, diz ele, que também descartou o risco de desabamento.