Guardas municipais de estão preocupados com o comportamento de colegas escalados como condutores das viaturas. Segundo os relatos, superiores já foram alertados sobre os abusos, que seriam resultado de destempero emocional e total despreparo técnico.

“É uma tragédia anunciada. Até entre os colegas rola desconforto. Para ser condutor de viatura tem que ter formação e treino. Mas o principal é ter temperança emocional. Hoje muitos colegas de farda atuam por espírito de emulação no volante das VTRs quatro rodas”, denuncia membro da Guarda Civil Metropolitana de Campo Grande.

São comuns os relatos de manobras totalmente desnecessárias e exibicionistas das viaturas até mesmo na região central de Campo Grande.

Guardas municipais destreinados e ‘pagando de rambo'

“Semanas atrás, descendo a Afonso Pena abaixo da Calógeras, a viatura subiu até na calçada e deu um cavalo de pau na esquina com a Ernesto Geisel”, diz policial militar que também dirige viatura quatro rodas, como são chamados os veículos policiais.

O policial conta que chegou a se preparar para ajudar os colegas, caso houvesse uma situação condizente com a urgência aplicada no deslocamento. “Como fizeram tanta estripulia, cheguei a preparar a pistola para ir em apoio. Pensei que seria uma situação grave”, relata.

No entanto, ao chegar onde a viatura da GCM parou após quase bater em veículos que seguiam na principal avenida de Campo Grande, o policial diz que até riu.

“Quando cheguei lá, o condutor emocionado estava metendo o louco só para chegar em apoio a outra viatura que tinha abordado um único bebinho. O cara já estava imobilizado, mas os guardas municipais chegaram igual o rambo”, ironiza.

Guardas Municipais se queimam com população

Porém, na maioria das situações não há graça alguma. Nesta semana, câmeras de segurança flagraram quando uma viatura oficial da GCM de Campo Grande foi, aparentemente, jogada contra um motociclista que empinava uma moto.

Segundo testemunhas, o carro oficial invadiu a pista contrária e derrubou o motoqueiro ‘do nada'. Não houve uma abordagem prévia, nada.

“Também tenho ódio desses imbecis que ficam empinando moto e fazendo barulho na rua. Mas daí a jogar uma viatura contra o rapaz, acho que os guardas municipais perderam a razão. Isso não é nem coisa de cristão”, comenta comerciante que assistiu, incrédula, vídeo da presepada.

“Se o moleque estivesse fugindo, ou tivesse atirado neles, tudo bem. Mas nem os documentos da moto estavam atrasados. Erraram feio e queimou eles aqui no bairro”, relata morador.

‘É bonito nas redes sociais, mas a Bíblia condena'

Assim, a decisão do condutor da viatura, de supostamente invadir a pista contrária e usar a viatura para derrubar o arruaceiro que empinava uma moto, foi exagerada.

Além disso, colocou todos no entorno e os colegas dentro do carro oficial em risco, avaliam policiais militares com experiência na condução tática.

O episódio remete a uma prática que tem ganhado palco nas redes sociais nos últimos meses: atropelar e matar bandidos ou, temerariamente, suspeitos de cometer crimes como furtos ou roubos.

“Sou PM e até entendo. Todo mundo já torceu para um babaca desses que ficam fazendo ran-dan-dan se espatifar num grau desses. Mas, não é nem uma questão tática. É de princípios. Eu sou cristão, vou na igreja. Não vou deliberadamente matar alguém sem motivo. A Bíblia condena”, ensina policial militar que também atua como pastor de uma igreja em bairro de Campo Grande.

Segundo ele, além da falta de amor ao próximo, o episódio seria indicativo grave de que há condutores de viatura agindo por ‘espírito de emulação‘.

Desta forma, com o termo jurídico, o policial equipara, aos olhos da lei, o motorista da viatura que se exibe sem necessidade com manobras arriscadas, e um motoqueiro que empina moto para chamar a atenção.

Pilotagem operacional zero entre guardas municipais

Segundo colegas ‘de farda' (a Guarda Civil Metropolitana de Campo Grande adota táticas, embora não tenha nada a ver com uma unidade militar), muitos guardas municipais não possuiriam condições de portar uma viatura tanto quanto não possuem condições de portar armas letais.

“Para você conduzir uma viatura com segurança para a equipe e para a população ao redor, é preciso ter antes de tudo, a cabeça no lugar. Além disso, tem que ter treinamento em técnicas de pilotagem operacional, que preservam antes de tudo a segurança de todos. Só se usa uma VTR ofensivamente quando a integridade da guarnição ou de populares estiver sob grave ameaça”, ensina.

Em nota oficial, GCM diz que intenção era apenas ‘abordagem'

Ao Jornal Midiamax, a GCM (Guarda Civil Metropolitana) de Campo Grande garante que já abriu um PAD (Processo Administrativo Disciplinar) para investigar os inúmeros erros operacionais flagrados no episódio.

No entanto, a corporação já antecipa uma defesa para a medida do condutor que até colegas guardas municipais condenam: “Todavia, ressaltamos que o condutor da motocicleta praticava direção perigosa, uma infração de trânsito gravíssima”, tenta justificar.

Oficialmente, devem alegar que a intenção não era usar um carro oficial como arma no trânsito, mas ‘apenas' realizar uma abordagem: “A viatura foi em direção do condutor para efetuar a abordagem, contudo, não houve tempo suficiente para que o mesmo efetuasse a parada, tendo como resultado a colisão com a viatura”.

Onde denunciar abusos de guardas municipais em Campo Grande?

A atuação da Guarda Civil Metropolitana de Campo Grande é regulamentada por uma lei municipal aprovada pelos vereadores em 2019.

Segundo as informações da carta de serviços da (Secretaria Especial de Segurança e Defesa Social de Campo Grande), os canais oficiais de denúncias sobre a atuação dos guardas municipais campo-grandenses são:

  • Pessoalmente na Superintendência do Comando da GCM
    • Rua Usi Tomi, S/N, Carandá Bosque I
  • Pelos e-mails da Sesdes:
    • segurancapublica@sesde.campogrande.ms.gov.br
    • comandogcm@sesde.campogrande.ms.gov.br
  • Pelo email da Ouvidoria:
    • ouvidoria@sesde.campogrande.ms.gov.br
  • Pelos telefones:
    • 153 ou 156
  • Pelo telefone da Superintendência do Comando da Guarda Civil Metropolitana:
    • (67) 4042-0588 ramal 4806
  • Pelo telefone da Secretaria Especial de Segurança e Defesa Social:
    • (67) 4042-0588 ramal 4800
  • Pelo telefone da Ouvidoria da Sesdes:
    • (67) 4042-0588 – ramal 4831
  • Pelo site www.campogrande.ms.gov.br/sesdes/ouvidoria

No entanto, no site oficial da Guarda Civil Metropolitana de Campo Grande, na parte da Ouvidoria, onde deveria haver informações sobre como denunciar eventuais abusos de guardas municipais, está disponível apenas um trecho da legislação que regulamenta a atuação do órgão.

Assim, o meio mais prático de fazer chegar aos canais oficiais uma denúncia, crítica ou reclamação sobre a atuação da GCM é a Ouvidoria da Prefeitura Municipal de Campo Grande.

Também é possível acionar o Ministério Público Estadual de Mato Grosso do Sul e esperar para ver se abrem algum procedimento com base na denúncia.

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