Rastro de sexo existe? Pode ser detectado? Até quando depois do ato os resíduos biológicos são detectáveis? Estas são algumas das perguntas ouvidas entre servidores públicos em desde terça-feira (9), quando mandados de busca foram cumpridos na sede da Prefeitura.

Com direito a várias viaturas, e status de ‘operação policial', o cumprimento do mandado judicial no procedimento, que teoricamente corre em sigilo, acabou divertindo alguns servidores.

Segundo quem acompanhou, passado o susto, tudo acabou evoluindo para piada.

“Como a ordem cita uma perícia no gabinete principal da Prefeitura, especificamente no banheiro, começaram a perguntar se iam procurar vestígios dos supostos atos sexuais lá dentro. A gente acabou achando graça em tudo, porque depois desse tempo todo, não sei se ainda fica esse rastro de sexo que os peritos poderiam procurar”, contou concursado que tem mais de 15 anos no Paço e garante ‘já ter visto de tudo por lá'.

“É só mais um capítulo das coisas estranhas que já vi por aqui. Quem trabalha com políticos, meio que já espera de tudo, né?”

Luminol brilha com rastro de sexo?

Em grupos restritos de troca de mensagens entre servidores, mais gozação: “Rapaz, se começarem a seguir rastro de sexo com aquela substância que acende no escuro, avisa os policiais para colocarem óculos escuro que o negócio vai brilhar, hein”, disse um.

A brincadeira se refere ao luminol, substância usada pela ciência forense para criar provas irrefutáveis em crimes violentos, pois determina presença de sangue em superfícies até seis anos depois, e mesmo que o local tenha sido lavado. Mas, não funciona com fluídos sexuais como sêmen, por exemplo.

Em 2020, o Instituto de Pesquisas e Perícias em Genética Forense da Polícia Civil do , junto com a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), anunciaram o desenvolvimento da fenolftaleína bifosfato tetrassódio, produto para ajudar a desvendar crimes sexuais com a detecção comprovada de sêmen em ambiente controlado.

Políticos, empreiteiros e servidores da Sejusp citados

As buscas foram autorizadas pela juíza Eucélia Moreira Cassal, da 3ª Vara Criminal Residual de Campo Grande, após pedido da delegada Maíra Pacheco, titular da DEAM (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher).

O inquérito investiga, teoricamente sob sigilo, desde o começo do mês passado, a existência de suposta rede de aliciamento e prostituição para atender políticos, empreiteiros e até mesmo servidores públicos da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública).

Além disso, já teria 12 mulheres implicando o ex-prefeito de Campo Grande, Trad (PSD) em supostos crimes sexuais no Paço Municipal.

Marquinhos admitiu que teve sexo consensual com ao menos duas das denunciantes dois anos atrás, mas nega que tenha havido crimes. Segundo o ex-prefeito, que agora é o pré-candidato do PSD ao Governo de Mato Grosso do Sul, tudo seria parte de uma ‘armação política' para prejudicar ele nas eleições de 2022.

Adultério e briga com Carlos Videira

Sobre as buscas da terça-feira (9) no Gabinete que ocupou até renunciar para concorrer à sucessão de Reinaldo Azambuja (PSDB), Marquinhos disse que ajudariam a desmascarar a ‘baixaria dessa farsa eleitoral'.

A Prefeitura Municipal de Campo Grande, em nota sem assinatura da prefeita Adriane Lopes (Patriota), reclamou do que chamou de ‘caráter midiático' no cumprimento dos mandados e acusou a Polícia Civil de desrespeitar recomendação da juíza.

Marquinhos Trad tem dito em público que, apesar do adultério que já admitiu, estaria sendo alvo de retaliação por parte do titular da Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública), o delegado de polícia civil Carlos Videira.

Para Marquinhos, com a proximidade das eleições, adversários com acesso a tudo que ocorre na Sejusp estariam supostamente usando os fatos para prejudicar ele eleitoralmente.

Caso arquivado em 2018 teve ‘sigilo de verdade'

No entanto, além dos casos de sexo consensual com as ‘amantes', que seriam aliciadas por uma mulher para ‘agradar ao prefeito', Trad foi alvo de uma denúncia por crime sexual já em 2018. Na ocasião, ele teria forçado um beijo em uma adolescente que trabalhava como mirim (espécie de menor aprendiz) na Prefeitura.

Na época, o inquérito de fato correu no mais absoluto sigilo, não teve vazamentos e deu em nada. Conforme apurado pelo Jornal Midiamax, após desistir da denúncia, a jovem ganhou cargo sem concurso na Prefeitura Municipal de Campo Grande.

Marquinhos divulgou prints de conversa no em que Videira ‘lembra' o ex-prefeito do caso arquivado e alega que seria prova de como foi ameaçado antes de aparecerem os casos de agora.

Apesar do inquérito ter tido o sigilo decretado pela delegada que preside o feito, a Sejusp chegou a convocar uma entrevista coletiva para a titular da DEAM confirmar à imprensa a existência do inquérito e detalhar até o número de vítimas na ocasião. Carlos Videira disse que não comentaria as acusações de Marquinhos Trad.

Sem rastro de sexo, com rastro de visitas

Segundo apurado pela equipe do Jornal Midiamax, o objetivo principal da busca não teria sido achar algum ‘rastro de sexo', e sim recuperar nos computadores ou circuito de vídeo do Paço registros de entradas e saídas das supostas vítimas no gabinete nos períodos quando Marquinhos Trad era prefeito.

Ninguém detalhou ainda o que seriam os trabalhos periciais no gabinete e no banheiro do gabinete da Prefeitura de Campo Grande. No entanto, policiais que atuam em núcleos especializados de investigação duvidam da eficácia das diligências.

“Além de render as fotos, pode ser que essa diligência dê em nada, ou resulte em evidências indiretas muito fracas. Muita gente entra num gabinete de político num dia, mas nem por isso todos tiveram sexo, entende? Circunstancialmente, acho um indício fraco”, pondera.

Segundo o servidor, há outras formas, mais discretas, que poderiam colocar supostas vítimas e autores exatamente na cena do eventual ilícito. “Num caso de abuso sexual, o tal rastro de sexo nem é o principal. A palavra das vítimas é mais relevante. Por isso, é importante o inquérito achar provas que sustentem ou derrubem o depoimento”, explica.

“Além disso, a quebra de sigilo telemático poderia gerar relatório resgatando a localização exata dos envolvidos no momento quando os ilícitos teriam se desdobrado. Muitas investigações locais já usaram essa técnica para colocar implicados até em casos de pagamento de propina. Assim, pericialmente, não tem como o autor e a vítima negarem que estavam em determinado local ao mesmo tempo, por exemplo”, conclui.

Sabe de algo que o público precisa saber? Fala pro Midiamax!

Se você está por dentro de alguma informação que acha importante o público saber, fale com jornalistas do Jornal Midiamax!

E você pode ficar tranquilo, porque nós garantimos total sigilo da fonte, conforme a Constituição Brasileira.

Fala Povo: O leitor pode falar direto no WhatsApp do Jornal Midiamax pelo número (67) 99207-4330. O canal de comunicação serve para os leitores falarem com os jornalistas. Se preferir, você também pode falar com o Jornal direto no Messenger do Facebook.