Justiça acata pedido de mulher que nasceu Dário e hoje se chama Ana Gabrielli

Hoje, Ana tem 24 anos de idade, moradora de Campo Grande; problemas da transexualidade surgiu aos 12 anos de idade. No início, família buscou ajuda da igreja, que considerou caso como ‘coisa’ do inimigo. Ela fez cirurgia e conseguiu trocar o nome no cartório. Ana prepara-se para casar.

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar

Hoje, Ana tem 24 anos de idade, moradora de Campo Grande; problemas da transexualidade surgiu aos 12 anos de idade. No início, família buscou ajuda da igreja, que considerou caso como ‘coisa’ do inimigo. Ela fez cirurgia e conseguiu trocar o nome no cartório. Ana prepara-se para casar.

A transexual Ana Gabrielli da Silva Lima Guimarães, de 24 anos, é a segunda em Mato Grosso do Sul a ter o direito de trocar o nome. Ela que fez a cirurgia para a mudança de sexo recorreu a Defensoria Pública para dar entrada no processo para mudança de nome. O primeiro caso registrado no Estado foi há dez anos atrás. O documento foi deferido e deve chegar na próxima semana, enquanto isso ela começa a fazer os preparativos para o casamento.

Ana Gabrielli realizou o seu maior sonho em fevereiro de 2010, quando conseguiu fazer a cirurgia pela rede particular em Campo Grande. A cirurgia aconteceu na Maternidade Candido Mariano e custou cerca de R$ 3,5 mil.

”Sempre quis fazer isso, depois que eu consegui realizar a minha operação e tive o direito de mudar meu nome, me senti a pessoa mais realizada do mundo. Agora eu só falto me casar”, conta Ana.

Segundo a mãe, Ana Bete da Silva Lima, de 49 anos, desde os 12 anos de idade notou que o seu filho “Dário”, tinha algo de diferente.

“Desde bebê que eu notei que o meu filho era diferente. Mas aos 12 anos começaram os problemas. A Ana sempre voltava da escola chorando, começou a apresentar um quadro de depressão e então comecei a conversar e a perguntar, até que um dia ela me falou sobre o seu caso e a partir daí fomos procurar ajuda”, explica a mãe.

Os pais no início procuraram ajuda na Igreja Evangélica para a “curar” o filho. “Muitos pastores falaram que isso que acontecia com ela era coisa do “inimigo”. Fomos a diversas igrejas até que um dia resolvemos levá-la a um médico especialista”.

Durante esta consulta foi diagnosticado que Ana tinha mais hormônios femininos do que masculino. A mãe conta que esperou a filha completar 21 anos para pode realizar a operação. “A Ana sempre teve o nosso total apoio e eu esperei que ela completasse a maioridade para que ela tomasse esta decisão que seria muito importante para ela”, diz a mãe.

Operação

No inicio ela foi para São Jose do Rio Preto, interior de Sâo Paulo, onde se submeteu a diversos exames que constataram que tinha pseudo-hermafrodita. Ela deu continuidade ao seu tratamento pelo Sistema Único de Saúde em São Paulo, depois de realizados, chegou a ir para o Rio de Janeiro. “A fila estava muito grande e desisti de fazer a cirurgia lá”, afirma.

De volta a Campo Grande, Ana que trabalha como Agente de Saúde pela Prefeitura de Campo Grande resolveu fazer a cirurgia pela rede particular. “No dia 25 de fevereiro de 2010, realizei a minha operação que duraram sete horas na Maternidade Candido Mariano. Eles retiraram o pênis e construíram um canal vaginal. Neste dia, o hospital parou, e me avisaram que toda a imprensa queria falar comigo, mas na ocasião eu não quis falar, pois achei que ainda não era o momento”.

Segundo Ana, o pós-operatório durou quatro meses, e ela teve que usar uma sonda, mas depois de passado o período retirou os pontos e “ficou normal igual a de uma mulher”.

Assim que ela se recuperou no dia 11 de abril do ano passado, ela deu entrada na Defensoria Publica para ter o direito de trocar de nome. “O tempo que eu levei para fazer tudo isso não foi grande e recebi muito apoio. Mas só deu certo porque eu fiz todos os exames necessários que a lei pede”, explica.

Logo depois de se recuperar de tudo que passou Ana Gabrielli conheceu o noivo, o pintor Renato Alexandre Camargo, de 28 anos. “Desde do inicio eu contei toda a minha história e ele aceitou. Agora eu não vejo a hora de pegar os meu documentos para casar logo com ele no civil”, diz Ana.

Para Renato, por ele já casava logo. “Eu respeito muito a minha mulher, e não vejo à hora de eu pode ficar casado com ela no papel”, finaliza.

Preconceito

Durante uma das viagens que Ana Gabrielli fez ao Rio de Janeiro ela foi acusada de falsidade ideológica por uma atendente no Aeroporto Internacional de Campo Grande. “Eu só consegui embarcar depois de mostrar o laudo médico, porque ela dizia que o nome da minha identidade era diferente do que ela via na frente dela”.

A mãe de Ana também disse que sofreu muito preconceito. “Sofri muito, porque as pessoas achavam que eu era conivente com ela. Muitos viraram a cara para mim. Mas eu fui forte e resisti. Hoje eu tenho uma filha linda, inteligente e que eu amo muito”.

Ana que sempre teve os traços femininos, conta que “hoje me considero uma mulher completamente realizada. Agora quando me olho no espelho sinto que eu tenho uma identidade”, finaliza. O total investido para a mudança de sexo e os tratamentos realizados na adolescência chegam a mais de R$ 18 mil.

Conteúdos relacionados