Relatos de causar revolta e embrulhar o estômago das mães que tiveram seus filhos torturados e dopados em uma creche em Naviraí, a 359 quilômetros de Campo Grande, pela dona do local e uma cuidadora.

Bebês e crianças eram agredidos com tapas no rosto, dopados com remédios para dormir durante todo o tempo em que ficavam no local. A proprietária acabou presa pela polícia.

Uma das mães de um dos bebês agredidos relatou que a filha chegava em casa muito sonolenta, a comida que mandava sempre voltava e quando questionava a cuidadora, ela dizia que a não estava gostando da comida, o que causou estranheza na mãe, já que a filha sempre gostou das frutas que mandava para a creche.

A mãe ainda relatou na delegacia que em uma das vezes em que buscou a filha percebeu que a bebê estava com machucados na lateral do corpo, arranhões, e a cuidadora teria dito que poderia ter se machucado já que engatinhava muito pelo local.

Em outra ocasião, a bebê apareceu com bolhas de sangue na sola dos pés. A bebê estava na creche havia 4 meses, e segundo a mãe a mensalidade era de R$ 200.

Sobre medicamentos ministrados a bebê, a mãe disse que nunca autorizou a cuidadora a fazê-lo e que mandava remédios indicados pelo pediatra para a filha tomar em caso de alguma dor ou febre. 

Outra mãe disse na delegacia que o filho de 2 anos sempre chegava sonolento da creche e chorava muito quando era a hora de ir para o local, mas acreditava que seria porque ele queria ficar com ela e não que estava sendo torturado. A criança ficou durante uma semana no local e a mãe não o levou mais.

Uma das crianças de 5 anos, que frequentava a creche contou à mãe, que as cuidadoras batiam nas bocas dos bebês e que um dos meninos em uma ocasião fez xixi na calça e a dona do local o puxou pelo cabelo até o banheiro e deu tapas no rosto do menino. Ainda segundo o relato, a dona do local fez com que outras crianças o chamassem de ‘mijão' e caso não o fizessem seriam colocados de joelhos no até sangrar.

Uma das crianças torturadas disse à mãe que não queria ir mais à creche porque a ‘tia é má, bate e puxa o cabelo'. O menino ainda disse para a mãe: “Tia falou que meu cabelo é ruim”. Neste dia a criança chegou em casa bem triste. 

Remédio para dopar bebês

Segundo a delegada Sayara Baetz, responsável pelo caso, foi apreendido um medicamento indicado para náusea e vomito, proibido para menores de dois anos.

O medicamento seria utilizado para ‘dopar' as crianças da creche e fazer com que elas passassem a maior parte do tempo dormindo, pois esse é um dos efeitos colaterais da medicação.

No momento da prisão, a dona da creche afirmou que o medicamento apreendido era de uso pessoal, mas ela tinha autorização dos pais para ministrar remédios. Uma funcionária, de 26 anos, também foi presa por dar o remédio para as crianças.

“No local não havia brinquedos, até porque as crianças passavam a maior parte do tempo dormindo. Alguns pais relataram que as crianças ficavam sonolentas o dia todo e tinham dificuldade de acordar até mesmo no outro dia”, explicou a delegada. A dona da creche irá responder por tortura e a funcionária por omissão.

Colocava pano na boca das crianças

A polícia ficou sabendo do caso após uma criança contar que presenciou a dona do local agredir crianças e bebês batendo suas cabeças contra um sofá, colocando pano na boca de uma delas, para que a autora pudesse assistir televisão.

Em outros casos, dava remédios para as crianças dormirem, quando estavam chorando. O caso configura os delitos de tortura qualificada e exposição da vida e saúde a risco, além de maus-tratos.

Durante diligências, foram feitas medidas de interceptação/captação ambiental na creche e instalado, pelo Departamento de Inteligência da Polícia Civil, monitoramento por áudio e vídeo. Através do monitoramento, policiais constataram que uma bebê de 11 meses foi agredida pela mulher às 11h.

A criança estava em um colchão no chão, sozinha e havia saído do travesseiro em que estava. A mulher brutalmente tirou a criança do colchão e a jogou no mesmo lugar. Em seguida, a bebê voltou a chorar, momento em que a suspeita novamente a pegou e jogou no colchão, além de dar alguns tapas no corpo da bebê, nitidamente como castigo em virtude do choro.

A mulher ainda chamava a bebê de ‘sem vergonha' e dizia que quando a criança começasse a andar estavam lascadas.

Como as imagens visualizadas pela polícia eram vistas em tempo real, uma equipe se deslocou até a creche enquanto outra permanecia fiscalizando pelo monitoramento.

Na creche, os investigadores estranharam o fato da bebê não se levantar do colchão e ficar no local por horas, sem se arrastar, engatinhar ou andar, aparentando estar sob efeito de algum medicamento.