Réu é condenado a 25 anos por morte no ‘Tribunal do Crime’ do PCC e outro é absolvido

Sidney usou como estratégia de defesa a alegação de que Sandro Lucas era mais alto e forte do que ele

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Éder, à esquerda, e Sidney, à direita, durante Tribunal do Júri. (Foto: Henrique Arakaki – Jornal Midiamax)

Sidney Jesus Rerostuk, levado a júri popular nesta quarta-feira (8), acusado da morte de Sandro Lucas de Oliveira, de 24 anos, durante Tribunal do Crime do PCC (Primeiro Comando da Capital), em dezembro de 2019, foi condenado a 25 anos de prisão. Éder Barros Vieira foi absolvido de todas as acusações, assim como outros três réus do mesmo processo que foram inocentados no mês de abril, depois que o processo foi desmembrado.

A sentença saiu na tarde desta quarta, Sidney foi condenado a 18 anos pelo homicídio duplamente qualificado, pela ocultação de cadáver foram mais 4 anos e 2 anos pela organização criminosa, mais 1 ano pela reincidência. No total, a pena ficou em 25 anos de reclusão.

Durante o julgamento

Éder de Barros Vieira, relatou que havia comprado um celular de um desconhecido que vendia aparelhos na conveniência dele, e pagou a quantia de R$ 300. Ele negou envolvimento com facções criminosas e disse ter sido torturado durante a fase de investigação policial, para que assumisse o crime. “Deram choque nas minhas partes íntimas e na minha cabeça. Um policial falou que todo mundo já tinha falado e eu fiquei como cagueta quando cheguei na Máxima, sem visitas ou cartas, na cela forte”, alega.

Já Sidney de Jesus Rerostuk negou conhecer a vítima ou os outros acusados, e usou como estratégia de defesa a alegação de que Sandro Lucas era mais alto e forte do que ele, o que o impediria de colocar a vítima em um carro e cometer o homicídio. “Nunca tive veículo. Eu não tenho porte para pegar aquele cara. Me acusaram de ser pistoleiro do PCC, mas eu só andava drogado, sou usuário de cocaína, tanto que na minha casa não acharam arma”, afirma.

Outros três absolvidos

Durante depoimento no plenário, Rafael Aquino de Queiroz (vulgo professor) e Eliezer Nunes Romero (vulgo maldade) usaram o direito constitucional de manter o silêncio. Já Adson Vitor Farias (vulgo Ítalo, ladrão de almas ou pititi) negou envolvimento no homicídio e que tenha feito ‘casinha’ para a vítima. Sobre o interrogatório feito na fase policial, na DEH (Delegacia Especializada em Homicídios) — gravado na presença de um advogado — disse que confessou a participação “por medo” e que foi “alvo de tortura” para que fornecesse informações.

Segundo relevado pelo promotor do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) Douglas Oldergado, a mãe da vítima foi procurada por uma mulher no dia 16 de dezembro de 2019 afirmando que Sandro estava morto e que um amigo dele — que frequentava a casa da família — teria o traído e armado ‘casinha’ para que ele fosse capturado. Conforme depoimentos de testemunhas, Sandro era acusado de integrar a facção CV (Comando Vermelho) e teria oferecido pó em uma festa para membros da facção rival, PCC (Primeiro Comando da Capital).

Testemunhas ainda revelaram que os três estavam no dia do crime na cantoneira — local utilizado nos homicídios de facções onde as vítimas permanecem em cárcere privado antes de serem executadas — localizada em uma favela da Capital. Após três dias, ele foi morto e o corpo colocado em um poço, aos fundos de uma chácara abandonada no anel rodoviário da BR-163, entre as saídas de Três Lagoas e Cuiabá. O corpo já estava em estado avançado de decomposição, e não possuía mais tecidos, apenas o esqueleto.

Desaparecimento e morte

Sandro Lucas de Oliveira, de 24 anos, que desapareceu em dezembro de 2019, foi decapitado por Sidney de Jesus Rerostuk, de 27 anos, preso por equipes da DEH (Delegacia Especializada de Homicídios). O ‘Missionário’, como era conhecido dentro da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), foi encontrado em sua casa no Jardim Bálsamo.

O assassinato de Sandro teria sido ordenado pelo PCC porque o rapaz era da facção rival CV (Comando Vermelho). A vítima foi decapitada e os restos mortais encontrados em uma chácara, no bairro Chácara dos Poderes. A indicação do local onde estava o corpo foi feita por Sidney.

Sidney estava na companhia da esposa quando foi preso em sua casa. Na residência, os policiais encontraram dentro de uma caixa porções de cocaína. A mulher de Sidney contou que o marido é faccionado há 9 anos e que dentro do PCC tem o cargo de missionário, o responsável por ‘finalizar a vítima’. O membro da facção estava em liberdade condicional e tinha passagens por roubo, tráfico de drogas, receptação e homicídio.

Em junho de 2020, a polícia havia feito uma operação que capturou oito suspeitos do envolvimento com o desaparecimento de Sandro, em Campo Grande, ocorrido em dezembro de 2019. Foram cumpridos seis mandados de busca e apreensão domiciliar, quatro mandados de prisão temporária e um mandado de busca e apreensão de adolescente.

Durante os trabalhos, outras três pessoas que não eram alvos imediatos foram presas em flagrante por tráfico de drogas, sendo que, dessas, duas eram foragidas do sistema penitenciário. Com eles, foi encontrada droga destinada à comercialização e petrechos para preparação do entorpecente.

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