Prestou depoimento nesta quinta-feira (17) a proprietária da clínica onde um fonoaudiólogo, de 30 anos, foi preso em flagrante no dia 9 de março por estupro de vulnerável. Testemunha no caso, ela apresentou para a delegada da Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente) uma lista de pacientes atendidos pelo acusado em 2022.

Advogado Pitthan (Foto: Marcos Tenório)

Segundo o advogado da proprietária da clínica, Tiago Pitthan, ela está disponível para auxiliar a polícia no que for necessário. “Está chocada como todos nós estamos”, relatou o advogado. Ainda de acordo com ele, a clínica funciona há mais de 10 anos em e por lá já passaram mais de 20 profissionais.

“Ninguém podia prever uma situação dessas”, finalizou. A defesa não deu outras declarações, já que as investigações são sigilosas. A dona da clínica entregou para a delegada Fernanda Félix, titular da Depca, uma lista com nomes de 75 pacientes atendidos pelo profissional neste ano, sendo que ainda haveria outras crianças atendidas em 2021.

Modus operandi

“Preparava as crianças antes dos estupros”, disse a psicóloga Mônica Lourenço da Depca ao Jornal Midiamax, na manhã desta quinta, sobre o fonoaudiólogo. Segundo Mônica, o fonoaudiólogo preparava as crianças de forma que elas não associassem os abusos a algo errado.

Mônica disse que o profissional fazia tipo uma preparação para ganhar a confiança das crianças, sempre menores de 8 anos, já que eram as mais vulneráveis. Geralmente, os abusos ocorriam após a quarta, quinta sessão, quando o fonoaudiólogo já havia ganhado a confiança das vítimas. O modos operandi era parecido em quase todos os abusos: nas primeiras sessões, o profissional pedia para que as crianças repetissem palavras como, barão, helicóptero.

Após ganhar a confiança das vítimas, o profissional passava a dar início aos abusos, sendo que a partir disso pedia para que os meninos deitassem na maca repetindo as palavras ‘sz, sz', isso era feito com as mãos na barriga das vítimas, de pelo menos duas atendidas pela psicóloga. 

Em seguida, o fonoaudiólogo passava as mãos nas partes íntimas dos meninos por dentro dos shorts. Durante os depoimentos especiais das crianças, a psicóloga disse que elas estavam bastante assustadas e nervosas.

Preferência por meninos menores de 8 anos

Investigações da delegada Fernanda Félix apontam que o fonoaudiólogo tinha por preferência crianças menores de 8 anos, e quanto menor a vítima, mais agressivo ele era ao cometer os crimes. Ele também sempre oferecia doces, balas, pirulitos, chicletes como forma de ‘recompensa' para as suas vítimas, sempre meninos.

O acusado também atendia meninas, mas elas contaram que não sofreram nenhum tipo de abuso por parte do fonoaudiólogo. Ainda segundo a delegada, quanto menor a criança e com mais problemas de fala, o autor era mais agressivo. O autor ainda abordava os pais na saída das sessões ou por meio de mensagens, como forma de averiguar se algo havia sido dito sobre o que havia ocorrido dentro do consultório.

Das nove crianças ouvidas na delegacia por psicólogo, foram confirmadas quatro vítimas. O fonoaudiólogo deve ser ouvido na manhã de quinta-feira (17), na delegacia. A psicóloga Vanessa Machado que atendeu as crianças na delegacia relatou que todas as vítimas não conseguiam se expressar direito e não viam a situação como abuso, já que o fonoaudiólogo tratava como uma ‘brincadeira'.

Uma das mães de um menino de 4 anos procurou a delegacia na manhã desta quarta (16), após saber sobre as denúncias de abusos cometidos pelo fonoaudiólogo. Ela ainda em choque contou ao Jornal Midiamax que o filho estava desconfortável desde a última sessão quando saiu chorando do consultório.

Ela ainda contou que o filho passou duas semanas com terror noturno e estavam achando que poderia ter sido algum que o menino havia assistido. A criança fazia acompanhamento com o fonoaudiólogo desde que a outra médica que atendia ele havia mudado de cidade. De acordo com a mãe do menino, nunca passou pela cabeça dela que o profissional pudesse fazer algo do gênero.

Ainda segundo a mãe, o fonoaudiólogo passava atividades para que fizesse em casa, mas na última sessão o profissional não passou nada para a criança. “Sentimento de impotência total”, disse a mãe sobre os abusos cometidos contra o filho enquanto ela aguardava na recepção do consultório.

Outra vítima de 5 anos disse que o fonoaudiólogo mandava ele deitar na maca e passava as mãos nele. Com esta criança, a delegada disse que o autor teria sido mais agressivo. Ele vai responder por estupro de vulnerável individualmente por cada vítima e as penas vão de 5 a 8 anos.

Prisão em flagrante

No fim da tarde do dia 9 de março, o fonoaudiólogo foi preso em em Campo Grande, por estupro de vulnerável no Centro de Campo Grande. Ele foi encaminhado para a Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente).

Para o Jornal Midiamax, o advogado da família da vítima, Silvio de Almeida, relatou que o menino já fazia o tratamento com o fonoaudiólogo há 5 meses. Recentemente, ele teria conversado com o irmão mais velho, de 10 anos, que também já fez sessões de fonoaudiologia.

O caçula então perguntou se era normal que o fonoaudiólogo passasse a mão nos órgãos genitais. O irmão disse que não e orientou a criança, que contou sobre o ocorrido para a mãe. O menino teria um atendimento na quinta-feira, mas como não poderia acompanhar, a mãe adiantou para a quarta.

Ela acompanhou o filho, ficou na recepção e pediu para ele sair correndo da sala e gritar caso alguma coisa acontecesse. Assim, com 15 minutos de sessão o menino saiu chorando, aos prantos, da sala. A mulher foi até a sala do fonoaudiólogo, com uma testemunha, e o deteve até a chegada da polícia.

O profissional teria colocado a criança na maca, passado a mão na barriga do menor e, depois, teria tocado as partes íntimas do garoto. O homem, de 30 anos, foi preso em flagrante, mas tentou negar o crime. ‘Não fiz nada', disse. Já o menino prestou esclarecimentos em depoimento especial, acompanhado de psicóloga, confirmando novamente os abusos.