Em menos de um mês, 5 suicídios e uma pergunta: como ajudar a evitar?

O quinto caso foi registrado nesta segunda-feira 

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O quinto caso foi registrado nesta segunda-feira 

Uma atendente de telemarketing de 34 anos foi encontrada morta na tarde desta segunda-feira (12) em sua casa, no Jardim Noroeste, em Campo Grande. Ela foi encontrada pela namorada ajoelhada no chão, com o corpo debruçado na cama, já sem vida. Equipes da 3ª Delegacia de Polícia Civil foram acionadas e encontraram fortes indícios de que ela pode ter se matado.

De acordo com a ocorrência, a namorada da vítima relatou que há cerca de um ano a vítima vinha se tratando de depressão, chegando a ficar internada em uma clínica especializada na Capital. Conforme o boletim de ocorrência, não era a primeira vez a atendente tentava suicídio. No celular da vítima, os policiais ainda encontraram três áudios deixados por ela, explicando as dificuldades que passava, os motivos para desistir da vida e também de desculpando com os familiares. O caso foi registrado como morte a esclarecer.

Em menos de um mês, este seria o quinto caso registrado na Capital. E como todo episódio de quem tenta contra a própria vida, vem a reboque um fantasma, no caso, o falso tabu de que não se deve falar sobre pessoas que se matam. No entanto, a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda o oposto disso. Não é a toa que o mês de setembro é inteiramente dedicado ao debate, à prevenção e ao tratamento do suicídio como uma questão de saúde pública

A dor espalhada pela cidade

Dados fornecidos pelo Capelão e Professor Edilson dos Reis, que é coordenador do Curso de Prevenção ao Suicídio do HU/UFMS, apontam que em Campo Grande foram notificadas 4019 tentativas de suicídio 2010 a 2015. Destes, 280 vieram a óbito. Somente no primeiro semestre 2016 foram registradas 360 tentativas (121 em homens e 293 em mulheres). Em menos de um mês, quatro casos ganharam destaques em Campo Grande – em todos eles, as vítimas deixaram cartas, recados e pedidos de desculpa para os familiares, por não aguentarem mais sofrer.

No dia 18 de Novembro, uma empresária se matou com um tiro no peito, dentro de sua casa, na Rua Ceará. A mulher sofria de depressão e foi encontrada ainda com vida, mas não resistiu. Seis dias depois, um estudante de odontologia de apenas 19 anos morreu ao jogar-se de um viaduto da  Capital. Populares tentaram impedir, mas ainda assim o rapaz morreu depois de cair de uma altura de aproximadamente 25 metros.

Já no dia 2 de dezembro, a esposa de um homem de 42 anos encontrou o marido morto com um tiro na cabeça, no apartamento do casal localizado em um na região norte de Campo Grande. Ao chegar em casa, ela se deparou com uma espécie de altar na sala com fotos e vela, além de mensagem de despedida. A vítima foi encontrada trancada no quarto, já sem vida.

Por fim, o último caso aconteceu neste fim de semana, quando a médica Valquíria Feitosa Patrício Gomes, 31 anos, e o filho de dois anos, foram encontrados mortos na noite de sábado (10), no Bairro Itanhangá. Os corpos estavam em uma cama, e ao lado havia uma bacia de carvão e uma embalagem com uma tarja de cuidado: monóxido de carbono – daí a ideia de que morreram por asfixia. Em outro cômodo da residência, a polícia encontrou um celular sobre uma carta escrita por Valquíria.

Precisamos falar sobre suicídio

Segundo estudos, grande parte das pessoas que se matam não querem morrer, querem apenas deixar de sofrer. Segundo ele, além dos que sofrem de depressão, qualquer pessoa portadora de doença mental tem potencial suicida. De acordo com o psiquiatra Juberti Antônio de Souza, quadros depressivos são a principal causa identificada entre pessoas que se matam. “A pessoa sofre tanto que tenta de todas as formas sair da situação e se pergunta se vale a pena continuar a viver”, explica o médico.

Ele também alerta para os sinais que sempre são visíveis. “Se a pessoa fica deprimida e desanimada, deixar de ter gosto pela vida, tem dificuldade em realizar as atividades que habitualmente realizava, devem ser acompanhadas com atenção. Por outro lado, pessoas que de repente começam a fechar os negócios, pagar dívidas, se reaproximar de familiares ou desafetos, como se estivesse fazendo um testamento, podem estar preparando sua morte, se despedindo da vida. Querem sair da vida sem deixar problemas”, alerta o psiquiatra.

Em entrevista ao Jornal Midiamax, o coordenador de divulgação do GAV (Grupo Amor Vida), antes conhecido por CVV (Centro de Valorização da Vida), Roberto Sinai, alertou que sinais em suicidas são muito claros: “mais de 90% dos suicídios poderiam ser evitados se as famílias percebessem antecipadamente os sinais”.

De acordo com as estatísticas, que tem como fonte SINAN/SIM/SESAU, a faixa etária com maior incidência de tentativas e suicídios e de 15 a 49 anos. Neste contexto, em Campo Grande, as mulheres protagonizam cerca de 66% das tentativas de suicídio, porém os homens efetuam a própria morte três vezes mais que as mulheres.

Ao longo do mês de setembro, o Jornal Midiamax preparou uma série de reportagens para promover o debate sobre o suicídio. Confira:

MS tem segunda maior taxa de suicídio entre jovens
Famílias usam a fé para superar a dor da perda
Como identificar e ajudar quem apresenta tendências suicidas
Campanha na internet oferece ‘ombro virtual’ e divide opiniões


Crise financeira pode elevar risco de suicídio, diz psiquiatra
Confinamento cultural’ reflete altas taxas de suicídio
Deixar de falar sobre suicídio aumenta ainda mais o tabu’, afirma voluntária do CVV.

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