Gaeco prende policiais que fraudavam boletins de ocorrência para favorecer envolvidos

Operação envolveu também a delegacia contra crime organizado e corregedoria da Polícia Civil. Os presos alteravam os boletins para que os “supostos” criminosos não respondessem na Justiça posteriormente

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Operação envolveu também a delegacia contra crime organizado e corregedoria da Polícia Civil. Os presos alteravam os boletins para que os “supostos” criminosos não respondessem na Justiça posteriormente

Uma operação conjunta desencadeada pelo GAECO (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público de Mato Grosso do Sul, a DECO (Delegacia Especial de Combate ao Crime Organizado) e a Corregedoria da Polícia Civil do Estado, com respaldo da 1ª Promotoria da Comarca de Amambai, prendeu na manhã desta sexta-feira (7), em Coronel Sapucaia, três policiais civis acusados de fraudar boletins de ocorrência em troca de subornos.

O coordenador do GAECO em MS, o Promotor de Justiça, Dr. Marcos Alex Vera de Oliveira, que comandou pessoalmente a ação, disse que a operação foi resultado de aproximadamente cinco meses de investigações, inclusive com gravação de vídeo, com autorização da Justiça, que, segundo o promotor, comprova a ação criminosa praticada pelos policiais presos.

Segundo o GAECO, os policiais presos, os investigadores, José Adão Correa, Oclécio José de Farias e Ronieri Isael Adomaitis de Araujo, todos lotados na Delegacia de Polícia Civil de Coronel Sapucaia, modificavam nos boletins de ocorrências registrados na Delegacia, as versões ou até deixavam de dar continuidades nos boletins registrados pela Polícia Militar.

No caso dos BOs modificados, ao registrarem o boletim de ocorrência da Polícia Civil, cuja versão deveria ser idêntica ao conteúdo apresentando no BO da PM, os policiais colocavam os autores de delitos e infrações como testemunhas e em troca das mudanças, que livrava os acusados de responderem judicialmente pelos atos praticados, os policiais recebiam quantias em dinheiro que variavam dependendo o tipo de transgressão praticada pelo infrator.

Segundo o Promotor, Dr. Marcos Alex, além da prisão dos policiais em Coronel Sapucaia, durante essa sexta-feira as equipes também cumpriram diversos mandados de busca e apreensão em residências em Coronel Sapucaia e também em Amambai, onde várias das pessoas que supostamente teriam pagado pelas mudanças de versões nos boletins de ocorrência residem.

Investigações

De acordo com o coordenador do GAECO/MS, Dr. Marcos Alex Vera de Oliveira, as investigações do caso vão continuar.

Segundo o Promotor de Justiça, pelo menos 14 pessoas, entre acusados e testemunhas, serão ouvidas durante o curso das investigações e parte dessas pessoas, principalmente as que supostamente “subornaram” os policiais para terem dados do boletim de ocorrência modificados, poderão ser indiciadas e responder criminalmente, caso a fraude seja comprovada.

De acordo com o coordenador do GAECO, no curso das investigações também poderão surgir novas informações sobre o “esquema” e não está descartada a hipótese de envolvimento de policiais militares nos atos ilícitos. “Existem indícios e serão apurados”, disse Dr. Marcos Alex, ao informar que a operação conjunta continua e mais pessoas serão ouvidas no decorrer deste sábado, 8 de dezembro, em Amambai.

Policiais presos foram levados para Campo Grande

De acordo com o GAECO, os três policiais presos durante a operação, que foi denominada “Nhu-Verá”, foram levados para a capital do Estado, Campo Grande, onde permanecerão presos no 3º Distrito Policial à disposição da Justiça.

Segundo o Ministério Público Estadual, os policiais, que foram presos por força de mandados de prisão expedidos pela Justiça da Comarca de Amambai, poderão responder pelos crimes de peculato, corrupção passiva, inserção de dados falsos em banco de dados da Administração Pública e de formação de quadrilha, tipificados nos arts. 288, 312. 313-A e 317, todos do Código Penal Brasileiro.

Um dos policiais presos na operação, Ronieri Isael Adomaitis de Araujo, também responderá por outro delito, o crime de posse ilegal de arma e munição de uso permitido.

Durante cumprimento de mandados de busca e apreensão, as equipes do GAECO e da DECO encontram na residência de Ronieri um revólver marca Rossi, calibre 38, segundo a polícia, sem a documentação legal, e munições do mesmo calibre.

Ronieri foi autuado em flagrante pelo crime de posse ilegal de arma na Delegacia de Polícia Civil de Amambai e segundo o delegado titular local, Dr. Marcius Geraldo Cordeiro, apesar do crime prevê fiança, a fiança não foi arbitrada nesse caso tendo em vista o mandado de prisão que já pesava em desfavor do policial.

Policiais poderão ser exonerados

De acordo com o delegado regional de Polícia Civil de Ponta Porã, unidade a qual a Delegacia de Coronel Sapucaia é subordinada, Dr. Sandro Márcio, que esteve em Amambai, onde os organismos envolvidos na operação montaram base, acompanhando a ação, caso se comprove, com condenação na Justiça, o envolvimento dos policiais nos crimes nos quais estão sendo acusados, eles poderão até ser exonerados da Polícia Civil.

Coronel Sapucaia ficou sem policiamento

A ação conjunta que resultou na prisão dos três policiais nessa sexta-feira deixou o município de Coronel Sapucaia praticamente sem policiais civis.

Contando com a delegada titular, Dra. Marina Lemos Monteiro, a Delegacia de Polícia Civil local, que fica na linha internacional que separa Brasil e Paraguai, contava com seis policiais.

Com três investigadores presos e uma investigadora de férias, o município passou a contar com apenas dois policiais, a delegada e um escrivão.

O delegado regional de Polícia Civil, Dr. Sandro Márcio não apontou uma solução imediata para o problema, já que todas as delegacias da região já trabalham com efetivo reduzido.

De acordo com o delegado regional, até a situação dos investigadores presos se resolverem, ou seja, alocados outros policiais para preencherem as vagas, a Delegacia de Coronel Sapucaia manterá expediente durante o dia e permanecerá fechada, ou seja, sem plantão, durante as noites e aos finais de semana.

“No caso de algum registro de flagrante fora de horário de expediente, iremos pedir o apoio Polícia Militar no sentido de acionar o escrivão, que permanecerá sobre aviso permanente até que a questão de efetivo seja resolvida”, informou o delegado regional.

Além de patrimônios públicos como computadores, por exemplo, também existe na Delegacia de Polícia Civil de Coronel Sapucaia, drogas e veículos apreendidos, além de armas pertencentes à carga da Polícia Civil local.

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