Tratado como mendigo no mercado por causa da roupa de trabalho, ele descobriu o preconceito

Negro, com a camiseta rasgada e sujo de graxa, um mecânico foi abordado pelo funcionário de um supermercado na noite desta quarta-feira (11), no bairro Tijuca, em Campo Grande, por ser confundido com um mendigo. A reportagem do MidiaMAIS soube do ocorrido através das redes sociais, onde a filha dele escreveu sobre a indignação que sentiu diante […]

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Negro, com a camiseta rasgada e sujo de graxa, um mecânico foi abordado pelo funcionário de um supermercado na noite desta quarta-feira (11), no bairro Tijuca, em Campo Grande, por ser confundido com um mendigo.

A reportagem do MidiaMAIS soube do ocorrido através das redes sociais, onde a filha dele escreveu sobre a indignação que sentiu diante do preconceito e da discriminação que atingiram o pai dela. Então, fomos até a oficina conversar com o mecânico e saber o que tinha acontecido de fato.

Fomos recebidos por um homem de 49 anos, negro, uniforme surrado, botina, com mãos, braços e roupas sujos de graxa e segurando uma ferramenta. Quando me identifiquei como repórter, ele olhou desconfiado, mirou o chão e disse com a voz tímida que tinha passado por uma situação muito ruim, mas que só queria esquecer.

Um cliente que esperava na oficina o carro ficar pronto entrou na conversa e disse que o que aconteceu era um absurdo. “E se fosse um mendigo? Não teria o direito de também entrar no supermercado e comprar algo?”

Aos poucos, ganhamos a confiança dele. Mais confortável, o mecânico contou todo o constrangimento que passou.

“Eu estava entrando no mercado e o cara veio pro meu lado perguntando o que eu queria lá. O lugar estava cheio, ficou todo mundo me olhando, não sabia nem o que fazer, foi um trem esquisito. Fiquei morrendo de vergonha e fui embora”, desabafou o mecânico, enquanto mexia em um dos carros estacionados na oficina dele.

Quando chegou em casa, triste com a situação que havia passado, conversou com um amigo que é guarda municipal e que imediatamente o levou de novo ao supermercado. “Eu não queria mexer com isso, queria deixar pra lá, mas ele tomou minhas dores e disse que um preconceito desses não poderia ficar assim”, contou.

Quando os dois chegaram ao supermercado, procuraram o funcionário envolvido para esclarecer a situação. E a “justificativa” dele foi de que confundiu o mecânico com um mendigo e que o estabelecimento já havia tido muitos problemas com “essas pessoas”, por isso a “precaução”. “Daí ele me pediu desculpas e fomos embora”, completou.

O ato cometido pelo funcionário do supermercado caracteriza crime de discriminação, o que pode até gerar danos morais por ter afetado a honra íntima da vítima.

O proprietário do supermercado, que pediu para não ter o nome identificado, disse que lamenta a situação e que o funcionário se precipitou em abordar o cliente. Ele também pontuou que o empregado exerce a função “tipo de um segurança” e que apenas se dirigiu ao mecânico porque achou que ele estava indo ao SAC (Serviço de Atendimento ao Cliente). O comerciante ainda relatou que o funcionário só perguntou se ele precisava de ajuda.

“Acho que por estar sujo, ele mesmo se sentiu mal e foi embora. Não tiramos ninguém daqui”, disse. O proprietário também confirmou a situação de mendigos no entorno do supermercado e reafirmou que já tiveram muitos problemas ocorridos por conta disso. Contudo, garantiu que não proíbe a entrada de ninguém no local.

Infelizmente, esse mecânico – que preservamos o nome para não expô-lo ainda mais – foi mais uma vítima do preconceito que atinge muito mais pessoas do que sequer podemos imaginar. E muitas vezes, ele chega assim, camuflado por um “mal entendido”.


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