A casa da Dona Cida, no Jardim Tarumã, em Campo Grande, nunca mais foi a mesma. Reunidos, os cinco irmãos deram o abraço esperado por anos e que preencheu uma grande lacuna de suas vidas, com a perda precoce da mãe e um sonho do pai, de vê-los todos estudando e bem criados. No entanto, como isso nunca aconteceu, se dispersaram por quatro estados brasileiros. Mas, quis o destino que se unissem novamente, no último domingo (24), com muita confraternização entre os seis – incluindo o irmão que participou lá de Porto Velho, em Rondônia. Veja o reencontro no final da matéria.

São eles: Maria Aparecida Gomes, de 70 anos, costureira, Jonas Gomes da Silva, de 60 anos, pedreiro que veio de São Gonçalo do Rio Abaixo, em Minas Gerais, Helena Teodoro da Silva, de 65 anos, costureira, Rosalina Gomes da Silva, de 62 anos, também costureira, Antônio Gomes da Silva, de 58 anos, comerciante que veio de Fundão, no Espírito Santo e José Gomes da Silva, de 52 anos, mecânico hidráulico que está em Porto Velho Rondônia.

Quem começou a procurar os irmãos?

Dona Cida, que possui apenas 1,39 metro, mas, uma força imensa, é quem passou muitos anos falando do desejo em reencontrar os irmãos. Sabendo apenas o nome e um pouco da sua história em Coxim, onde tudo começou, disse que o pai trouxe os filhos para Capital, já que pessoas se comprometeram em “acabar de criar”, dando estudo e emprego. No entanto, a verdade é que eles se tornaram serviçais desde muito jovens e acabaram perdendo contato.

“A minha mãe e as irmãs dela se reencontraram há 26 anos, mas, minha mãe continuava falando que queria ver os irmãos, que não via há 50 anos. E foi aí que eu fui lendo muitas histórias de pessoas desaparecidas e conheci o trabalho da Renata Arce, que procura pessoas desaparecidas em geral e me tocou muito uma história que ela publicou e falou que achou os filhos para uma senhora que não os vi há 50 anos. Passei os dados da minha família e ela localizou os meus tios desaparecidos”, contou Mariléia Gomes do Nascimento, de 43 anos, uma das filhas da Dona Cida.

Assim, no dia 20 de janeiro deste ano, todos passaram a conversar por celular e planejar a viagem para Campo Grande, onde os irmãos homens viriam para Mato Grosso do Sul, direto para casa da Dona Cida. “Eu vivi momentos muito difíceis antes de encontrar os meus irmãos. Minha vida nunca foi um mar de rosas. Mandava cartas, voltava. Mandava de novo, voltava de novo. E foi aí que eu voltei a estudar com 45 anos. Fiz o ensino médio e uma diretora da escola me ajudou, me encaminhando para assistente social para que eu pudesse manter contato com meus irmãos”, disse Jonas.

“Dava um livro minha fia, dava um livro”

Helena rodeada da filha e um dos irmãos; dona Cida ao lado das filhas (Graziela Rezende/Jornal Midiamax)

Cida, ao falar da história da família, até brinca: “Dava um livro, minha fia, dava um livro. Eu casei muito novinha, quando meu pai trouxe as filhas mulheres para a Capital. Foi uma em um canto, outra em outro, dizendo que era gente rica, que prometeu dar estudo pra gente, mas, com o perdão da palavra, nós sofremos mais que sovaco de aleijado. E minha mãe morreu crente que estávamos empregadas até hoje, morreu assim”, relembrou.

Antônio, ao falar do passado, disse que quase não se lembrava dos irmãos, pois, era muito novinho quando a mãe faleceu e o pai não falava dos outros filhos. “Eu tinha uns três para quatro anos quando perdi a minha mãe. Foi ele, eu, minha mãe e uma irmã que faleceu para o Espírito Santo. Era por conta do serviço do meu pai, que na época chamava de bombeiro a pessoa que abastecia os caminhões da firma, então, ele ficava um ano em um lugar, um ano e meio em outro. E nisso fomos para o Paraná, depois o Espírito Santo”, comentou.

Ao chegar na cidade, Antônio disse que a família logo fez amizade com os vizinhos. “Tinha um casal de idosos, com cinco filhos, que começamos a chamar de avós. Foi criando esse laço e eles se tornaram minha família do coração. Minha mãe faleceu eu tinha nove anos, mas, antes, ela disse para essa senhora, Dona Carlota, tomar conta da gente. E assim foi. E logo depois meu pai foi pra Minas, fui junto, mas, fiz birra um tempo depois e voltei para o Espírito Santo. Fiquei com a vó do coração e perdi o contato deles”, contou.

No ano de 2015, porém, uma assistente social de Minas Gerais o localizou por lá. “Meu irmão estava por lá e, até então, eu não sabia das minhas irmãs. O papai não comentava delas, cresci pensando que eu não tinha irmãs. Depois, soube da Cida, que é a mais velha. Tinha uma vaga lembrança”, afirmou.

Helena, que também compartilhou da mesma dor ao perder o contato da família, disse que se casou e permaneceu em Água Clara, no interior do Estado.

“Eles me deram, vim morar aqui. Lembro que o Jonas era pequeno, tinha um aninho. Estava falando no celular com ele agorinha. Ele é de Porto Velho. Eu nunca mais tive notícia dos meus pais quando foram para Minas e depois soube que ele casou novamente. Agora, que estamos juntos, pretendemos nos reunir de novo, na casa de um e de outro, sempre que puder”, finalizou.

Veja o encontro nesse domingo (24):