Ajudando pedreiro e pedalando 18 km: aos 15, Jorge trabalha dobrado para realizar sonho em Campo Grande
Jorge trabalha como servente e em uma conveniência para custear gastos com viagens de competições; Sonho é da aulas gratuitas para crianças e chegar no UFC
Fábio Oruê –
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Seis títulos, oito medalhas, um cinturão e um troféu. Em pouco menos de dois anos de treino intenso no Kickboxing, o lutador Jorge Verá Denguez, de 15 anos, já acumula campeonatos importantes da modalidade. Porém, todas essas conquistas são fruto do esforço dobrado – talvez até triplicado – de um jovem lutador correndo atrás de seu sonho.
O adolescente divide sua rotina entre o trabalho em uma conveniência e como ajudante de pedreiro, os treinos e os estudos. A última recompensa do árduo esforço aconteceu recentemente com a conquista do vice-campeonato na Copa Brasil de Kickboxing.
“A sensação de ganhar uma competição é sensacional e ainda mais quando competido com tantos atletas bons e dedicados, como os que temos aqui no Brasil”, descreve ele ao Jornal Midiamax. No campeonato, Jorge participou de duas modalidades (Kick Light e Light Contato), vencendo 4 lutas – uma por nocaute – e tendo apenas duas derrotas.
Em 1 ano e 9 meses na modalidade, o adolescente já acumula títulos e o conquistado na Copa Brasil se junta a uma lista de outros:
- Campeão Sul-americano de Kickboxing 2021
- Vice Campeão Brasileiro 2021
- Tri Campeão da Copa MS
- Campeão Estadual de Kickboxing 2022
- 4° lugar Light Contato Copa Brasil 2022
Jorge foi um dos medalhistas de MS que tiveram vitórias na Copa Brasil de Kickboxing. A delegação do Estado voltou do Paraná, onde aconteceu a competição, com 25 medalhas.
18 km na bicicleta
Jorge mora no bairro Santa Luzia, em Campo Grande, e vai até o Caiçara todos os dias para treinar. “Eu vou de bicicleta ao local onde eu treino, que fica a mais ou menos 18 km da minha casa”, conta o jovem atleta, que está no 9º ano.
“Eu treino duas horas [16h às 18h] todos os dias e com a distância do local, eu pedalo e já me aquece por 18 km diariamente”, detalha. Do treino, Jorge volta para o Santa Luzia e vai para a escola. Porém, segundo ele, o dia começa bem antes do treino.
“No começo eu trabalhava em uma conveniência na parte da manhã, mas para esta viagem tive que trabalhar de servente também para eu conseguir o dinheiro para os custos”, revela ele, que garante que essa rotina vai continuar, por conta de mais dois campeonatos até o fim do ano.
O lutador ainda vai participar do Campeonato Centro-Oeste e Campeonato Metropolitano de Kickboxing e, por isso, ainda vai continuar trabalhando dobrado. Mas não por muito tempo, já que no mês passado Jorge foi contemplado com o Bolsa-Atleta, programa de incentivo ao esporte coordenado pela Fundesporte (Fundação de Desporto e Lazer de MS).
Apoio da família
Jorge já se esforça bastante para conseguir manter a chama do seu sonho acessa e também conta com uma “super rede de apoio”, como o próprio denomina.
“Minha família e amigos. Minha mãe trabalha o dia todo e quando estamos perto dos campeonatos ela dobra no serviço. Meu irmão custeou vários campeonatos meus e minha irmã também”, diz ele, se referindo aos irmãos Antônio Iago, de 18 anos, e Elisa, de 21.
Para a mãe de Jorge, Analina Denguez, de 38 anos, qualquer esforço é pouco para ver o filho trilhar seu sonho. “Ele por ser o caçula e pensar tanto no futuro, com apenas 15 anos de idade, me mostra que cumpri meu papel como mãe e pai tendo criado meu filho em uma comunidade violenta e sem oportunidades para quem não é voltado ao futebol”, diz ela ao Jornal Midiamax.
Analina esteve incentivando Jorge desde o começo de sua carreira, quando começou treinar Jiu Jitsu aos 11 anos. “Incentivo ele a não desistir dos sonhos, pois ele ainda vai longe. No começo eu levava ele de moto para treinar, porém não pude continuar, pois precisava trabalhar. Foi quando ele, com sua dedicação, começou a ir de bicicleta”, conta.
Futuro de Jorge
O jovem atleta estuda no colégio Elizabel Maria Gomes Salles, no Bairro Santa Luzia, e apesar de cursar o 9º do Ensino Fundamental, já sabe o que quer fazer da vida. Jorge quer terminar os estudos e fazer o curso de Educação Física.
“Meu pensamento agora é estudar, terminar meus estudos e fazer faculdade para eu poder ser mestre futuramente. Quero dar aulas gratuitas para crianças como eu, que venho de uma família humilde e sonha em ser alguém na vida e só dar orgulho”, explica.
“Creio que para tudo o que formos fazer na vida é preciso persistência, dedicação e, claro, o apoio e amparo familiar para a realização dos seus sonhos. Humildemente penso e sonho em chegar no UFC”, finaliza Jorge.
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