Obra de Cleir, arara azul ‘cartão-postal’ da cidade ganha vida após revitalização
Obra passa por restauro depois de mais de duas décadas
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Obra passa por restauro depois de mais de duas décadas
Cleir é nome conhecido na cidade. Refere-se a Cleir Avila Ferreira Junior, a autor de grandes painéis espalhados em edifícios da Capital, artista cuja obra costumeiramente representa a fauna sul-mato-grossense, seja por meio das pinturas ou das esculturas. E de tão antigas – algumas delas com 25 anos desde sua criação – acabaram ganhando cara de cartão-postal da cidade.
Não é à toa, portanto, que a possibilidade de restaurar alguns dos painéis icônicos tenha trazido um sorriso largo no rosto do artista. Cleir foi convidado pelo Sicredi para restaurar dois painéis em Dourados. E após parcerias, conseguiu que o patrocinador estendesse o apoio também para uma das obras de Campo Grande.
A conversa com o artista aconteceu a cerca de 30 metros de altura, bem no ‘olho’ da arara azul que Cleir restaura, atualmente. Conduzidos por um balancim motorizado que faz o trabalho de ‘sobe e desce’ para as demãos de tinta, Cleir falou sobre a carreira e a satisfação de poder restaurar obras.
A arara azul está há 22 anos numa das faces do Bristol Exceller Plazar Hotel, na Avenida Afonso Pena, e é um dos mais famosos painéis de Campo Grande. Tal qual essa obra, ainda restam outras duas em Campo Grande: um tuiuiú e uma arara vermelha, pintados em outros prédios da região central. A onça que deu o pontapé inicial na série foi, infelizmente, pintada de branco após mais de 20 anos alimentando o imaginário e sendo referência física para campo-grandenses.
“Não vou mentir que fiquei chateado quando apagaram meu trabalho da onça, que foi o meu primeiro trabalho. A gente tentou como pode fazer uma vaquinha para bancar a restauração, mas não deu, desistiram de ter a onça no prédio. Eu ouvi relatos de pessoas que tinham uma história com ela. Uma senhora me falou, uma vez, que comprou o apartamento no prédio por causa da onça. Ela vive lá até hoje. E quando apagaram eu confesso que eu me desestimulei muito. Só que eu não esperava, francamente, que eu fosse ter essa possibilidade de fazer o restauro”, revela o artista.
Tecnologia
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O projeto que permitiu o restauro das obras em Dourados e em Campo Grande conta com tecnologia bem mais avançada que quando as pinturas foram feitas. As pinceladas continuam da mesma maneira, mas o ‘sobre e desce’ ganhou um ‘upgrade’, que permite mais rapidez e segurança. Cleir utiliza um balancim com motores, bem diferente dos andaimes manuais que lhe serviram há duas décadas.
“Quando eu fiz a onça, em 1995, eram três catracas. Era um sufoco, precisava ter dois ajudantes para poder subir. Agora eu consigo subir sozinho. Naquele tempo, a gente começava cedo, subia fazendo aquele esforço e descia só no final da tarde. Os caras não queriam descer porque usar a catraca era difícil. A gente subia com almoço e tudo, para passar o dia no balancim. E teve um dia que a gente subiu sem água, logo o primeiro dia… Pensa no sufoco”, conta o artista.
Trabalhar nas alturas também é lidar com um pouco de adrenalina. “Um professor de pintura meu falou uma vez que a arte tem que estar em contato com o povo. Acho que foi daí que tive essa ideia de fazer os painéis. E eu tive que vencer o medo, né? Se eu precisasse subir aqui sem equipamento de segurança, eu não subiria. Eu procuro sempre trabalhar checando o equipamento, vou lá em cima e aperto os parafusos e não cometo atos de imprudências. Às vezes bate um vento e balança tudo, então não tem como subir sem o cinto de segurança e a corda de apoio”, explica.
O prazer de pintar
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A 30 metros, Cleir consegue concentrar-se na paz das alturas e focar-se na criatividade. É quando munido da tinta e dos pincéis faz a obra surgir a cada toque na parede. A facilidade de subir e descer com o balancim moderno também proporciona uma técnica mais apurada. “Tenho mais facilidade de dar volume, de dar profundidade, trabalhar melhor o contraste das cores, porque faço tudo por etapas”, conta.
E a pergunta de ouro: o que fazer para manter a proporção e evitar o aspecto deformado em obras tão grandes, como os painéis? Cleir responde com segurança. “O restauro é bem mais fácil, porque o desenho está ali. Quando eu estou trabalhando numa faixa, não penso muito na outra. Mas se fosse uma obra ‘do zero’, eu precisaria quadricular tudo, não dá para fazer no olho. Eu tenho essa técnica do ‘observar e comparar’. E de tempo em tempo eu sempre gosto de olhar de longe, para ver o efeito, se está bom”, afirma.
Segundo o artista, o restauro fica pronto até o fim de abril. “Aqui está tudo andando bem rápido. E vai ser um prazer devolver esta obra a cidade, vai ser uma satisfação”, conclui.
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