Em homenagem a  foi instituído o dia 13 de novembro como o Dia Municipal da Poesia

Ileides Muller, 56 anos, é poeta. Publicou seu primeiro livro “Pétalas de amor” em 1990. De lá pra cá, a produção, da também professora, não parou. Em 24 anos são nove livros publicados, destes, sete foram concebidos de forma independente. Tudo em nome de sua maior paixão: a poesia.

Os outros dois livros foram financiados pelo  FMIC (Fundo Municipal de Investimentos Culturais). Investimento que,  com o Fomteatro (Fundo Municipal do Teatro), deixou de ser repassado pela Prefeitura de Campo Grande em 2014. A mesma gestão que na última terça-feira (16) instituiu o dia 13 de novembro de cada ano como o Dia Municipal da Poesia, uma bela homenagem ao poeta Manoel de Barros.

O Projeto de Lei nº 7.905/14 de autoria do vereador Otávio Trad (PMDB) foi aprovado por unanimidade na Câmara Municipal em maio de 2015. E foi sancionada pelo prefeito Gilmar Olarte (PP) pouco mais de um mês depois. A publicação foi feita no Diário Oficial na última terça-feira.

“Para mim como poeta essa notícia é muito importante e fico muito feliz. O poeta precisa ser valorizado no seu trabalho, precisa ser reconhecido. Além de instituir uma data, que é um passo muito importante. Ele precisa ter espaço de divulgação do seu trabalho. O escritor é um solitário, muitas vezes não tem para quem, nem onde mostrar o seu trabalho”, explica ao contar que suas obras são distribuídas e doadas para bibliotecas públicas da cidade.

Samuel Medeiros, presidente da UBE-MS (União Brasileira de Escritores de Mato Grosso do Sul) também aprovou a medida e afirmou estar contente com o reconhecimento “Isso é importante para nós. É um reconhecimento e também um incentivo a esse segmento da literatura. Mas esperamos mais ações em torno dessa data”, afirma.

Ainda segundo Samuel, de toda produção literária de Mato Grosso do Sul, cerca de 80% é poesia. “É um segmento muito forte no nosso Estado. Por isso, homenagear é importante, sim. Mas dar mais prestígio, abrir novos editais e remunerar melhor também são medidas fundamentais”, diz.  

Para o poeta Elias Borges, 54 anos, a poder público não pode terceirizar a responsabilidade de educar e, portanto, deve incentivar a produção cultural que é uma das mais importantes formas de se educar.  “O principal trabalho do poeta é educar. O poeta é acima de tudo educador e por isso incentivar seu trabalho é um dever do poder público”, salienta.

Elias é autor de dois livros publicados, um de poesias e outro de microcontos minimalista – uma explosão em palavras – como define. “É preciso mostrar os poetas do Estado e o que eles produzem. Isso é muito importante.”

Rubenio Marcelo, escritor e poeta com mais de 10 obras publicadas, também vê com bons olhos a iniciativa. “No tocante à data, é também louvável a deferência ao nosso saudoso Manoel de Barros, que foi meu confrade da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras e que é referência para todos nós. Assim, que este dia represente mais do que apenas uma mera lembrança, mas efetivamente um reconhecimento de que a sociedade precisa da poesia e que está viva, como uma das mais antigas formas de expressão do ser humano”, explica o secretário-geral da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras.

Novos leitores

Em recente pesquisa patrocinada pelo Instituto Pró-Livro, intitulada Retratos da Leitura no Brasil, ficou constatado que mais de 26 milhões de pessoas estão lendo livros de poesia no Brasil. E a faixa etária dos 11 aos 17 anos de idade, novos leitores, têm consumido muita poesia. Para Rubenio, esse novo interesse geral, especialmente pela poesia se dá entre outros motivos, pela inserção natural da arte poética nos currículos escolares e nas bases da educação. 

“A conscientização de que precisamos da Poesia deve começar dentro da nossa casa. O interesse pela leitura em geral e pela poesia deve começar bem cedo, na infância, dentro da família, e especialmente na escola. A família e o universo escolar são, a meu ver, os principais vetores para o efetivo hábito da leitura.” Que o Dia Municipal da Poesia venha acompanhado de outras ações de incentivo à poesia. Afinal, quem não gosta de beleza?