IPOs brasileiros devem encontrar ambiente hostil com incertezas persistentes
As ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) de empresas brasileiras engatilhadas para acontecer em meados de outubro podem não ter recepção amistosa de investidores, diante do cenário econômico adverso e do quadro eleitoral indefinido. Três companhias devem precificar suas operações no próximo mês –JBS Foods, T4U Holding e Ouro Fino Saúde Animal. […]
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As ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) de empresas brasileiras engatilhadas para acontecer em meados de outubro podem não ter recepção amistosa de investidores, diante do cenário econômico adverso e do quadro eleitoral indefinido.
Três companhias devem precificar suas operações no próximo mês –JBS Foods, T4U Holding e Ouro Fino Saúde Animal.
Executivos de bancos de investimento envolvidos em algumas das operações falaram à Reuters que não há mais volta, com ou sem mudanças nas intenções de voto em pesquisas eleitorais.
Mas o rali na Bovespa nos últimos meses, motivado em parte pela perspectiva de alternância do governo federal, pode não se provar uma janela de oportunidade, resultando na exigência de descontos elevados nos preços das ofertas, com alguns gestores demandando mais do que preço atrativo para aportar capital.
“Eu não vejo por quê entrar em um IPO (no Brasil) agora”, disse o gestor sênior de fundos de investimentos da BlackRock Will Landers, que administra a partir de Nova York um portfólio de 4 bilhões de dólares de ações na América Latina. “Não vamos investir apenas porque a ‘valuation’ está interessante”, acrescentou, destacando o ambiente macroeconômico.
O panorama eleitoral tem exigido cautela, com gestores ainda aguardando sinais concretos sobre o país mostrar políticas econômicas que permitam maior claridade quanto à rentabilidade futura das companhias. O rigor tende a ser maior com empresas mais novas, que ainda não mostraram como se comportam no longo prazo.
“Por causa das eleições, estou com a cabeça de mercado no curto prazo mesmo”, admitiu o gestor Eduardo Roche, que administra 55 milhões de reais na Canepa Asset Management.
Executivos de bancos de investimento afirmaram que há investidores olhando os IPOs na mesa, e trabalham com o potencial impacto no preço se a operação sair em um ambiente muito negativo e volátil, mesmo se tratando de uma tese de investimento sólida e aparentemente imune ao quadro político –no qual as três companhias citadas se enquadrariam.
“Sempre há demanda para boas empresas no preço correto, independentemente do cenário macroeconômico e do momento político”, disse o sócio e diretor de análise da Leblon Equities Gestão de Recursos, Marcelo Mesquita, que administra 550 milhões de reais.
Mas caberá ao momento do mercado o nível de prêmio exigido para o investidor participar da operação.
Para o diretor-geral da Fator Administração de Recursos, Fabio Moser, convencer potenciais compradores não será fácil. “Investidores vão jogar duro e evitar IPOs com ‘valuations’ que não sejam realistas”, afirmou Moser, que supervisiona um time de gestores que administra 5,9 bilhões de reais em ações.
“As companhias precisam encarar uma nova realidade de prêmios de risco mais elevados”, disse Landers, da BlackRock.
Tidos durante parte da última década como símbolos do pujante mercado de capitais no Brasil, os IPOs diminuíram nos últimos anos, com os preços afundando em muitos casos. E enquanto a maioria dos segmentos do mercado de capitais têm se recuperado gradualmente da crise financeira global de 2008, os IPOs permanecem de lado.
Machucados por uma série de ofertas iniciais de ações de empresas que não conseguiram entregar retornos prometidos, investidores passaram a tomar um cuidado adicional. Apenas cerca de um terço dos quase 120 IPOs de empresas brasileiras desde 2005 produziu retornos acima da taxa de referência CDI, com o restante perdendo metade do montante investido, disse o Credit Suisse no ano passado.
Esse cenário reduz o interesse dos estrangeiros, que têm sido os maiores compradores de IPOs do Brasil. Entre 2006 e 2008, esse grupo abocanhou 70 por cento de ofertas de ações no Brasil, participação que caiu para 41 por cento no ano passado, segundo dados da Thomson.
A última estreia na Bovespa foi em dezembro passado, quando a agência de viagens CVC Brasil estreou na bolsa paulista com uma oferta secundária que movimentou 621 milhões de reais, segundo dados disponíveis na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
No ano até agora, 2014 é o pior ano para IPOs em pelo menos uma década.
A JBS Foods, uma unidade da empresa de alimentos JBS, mira buscar 4 bilhões de reais em seu IPO, conforme fonte a par do assunto. Bancos envolvidos na operação querem começar reuniões com investidores logo que possível, disse recentemente à Reuters uma fonte com conhecimento direto do negócio.
Outro executivo ligado a duas das operações em andamento destacou que há disposição de investidores em olhar os negócios e que a demanda está equilibrada entre estrangeiros e locais.
A operadora de torres de telecomunicações T4U e a fabricante de produtos veterinários Ouro Fino operam em setores menos suscetíves a uma recessão ou volatilidade do mercado.
“Aproveitar-se oportunisticamente de um rali (na bolsa) é um pouco arriscado em um momento que não é o melhor para comprar IPOs”, disse o gestor Julian Mayo, que administra 3 bilhões de dólares em ações de mercados emergentes para a Charlemagne Capital, em Londres.
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