Indefinição de gênero é principal problema de “Caminhando com Dinossauros”
Promovido como “a maior aventura dos últimos 70 milhões de anos”, “Caminhando com Dinossauros” (2013) é um daqueles filmes cujo trailer deixa em dúvida se é uma animação em estilo documental ou uma simples história para crianças. O pior é que, depois de assisti-lo, a dúvida continua. Embora seja uma animação tecnicamente impressionante, a sensação […]
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Promovido como “a maior aventura dos últimos 70 milhões de anos”, “Caminhando com Dinossauros” (2013) é um daqueles filmes cujo trailer deixa em dúvida se é uma animação em estilo documental ou uma simples história para crianças.
O pior é que, depois de assisti-lo, a dúvida continua. Embora seja uma animação tecnicamente impressionante, a sensação é que o longa-metragem, enquanto estrutura, sofre certa crise de identidade.
O filme é derivado de uma série de documentários homônima da BBC, produzida em 1999, que mostrava os dinossauros através das eras de forma inovadora para a época. Mais de uma década depois, os ingleses da BBC Earth, a empresa do grupo responsável por negociar os produtos da emissora, resolveram trazer esse conteúdo para os cinemas, unindo-se a outras produtoras para realizar o longa.
Para isso, Neil Nightingale, que esteve por trás de vários especiais da emissora, foi colocado na direção, junto com Barry Cook, diretor de “Mulan” (1998) e “Operação Presente” (2011).
Nightingale trouxe do teledocumentário a fotografia contemplativa, de grandes planos que destacam as paisagens naturais. Mas, além desse aspecto e da inserção educativa dos nomes científicos das espécies e algumas de suas características, voltada claramente aos espectadores infantis, há pouca informação de fato.
O tom documental da BBC dá lugar a uma história de ficção sobre a jornada do paquinossauro Patchi, desde quando era o filhote mais fraco do bando, sendo constantemente caçoado pelo irmão Rock, até se confrontar com seu destino heroico ao lado da sua amada Juni.
No entanto, Cook, mais experiente na área da animação, não consegue ser eficiente na tarefa de captar a atenção do público, de qualquer geração que seja. A principal causa disso é o fraco roteiro, que tenta justificar o comportamento dos animais retratados, como os hábitos alimentares e a migração das espécies durante o inverno, mas não dá conta de abarcar tudo isso e, ao mesmo tempo, desenvolver os personagens.
O roteirista John Collee, que criou o simpático Mano de “Happy Feet” (2006), não repete o mesmo feito com Patchi. Além disso, somente o pássaro pré-histórico Alex (John Leguizamo) como alívio cômico não é suficiente para prender o espectador na história.
Outra razão para tal distanciamento é a estranheza causada pela dublagem, que foi adicionada posteriormente na produção. A ideia inicial era deixar apenas os ruídos dos animais e outros sons da natureza, mas, para atingir um público maior, decidiu-se pelo acréscimo dos diálogos.
Voltando ao script, também existe o erro de colocar um prelúdio em live-action desnecessário para introduzir a trama dos dinossauros. Nos dias atuais, o adolescente Ricky (Charlie Rowe), aborrecido por ter de viajar com o tio paleontólogo (Karl Urban), prefere ficar ao celular em vez de aproveitar a viagem, até que Alex o surpreende com a história de Patchi.
Essa parte em live-action mostra-se dispensável porque o melhor trunfo de “Caminhando com Dinossauros” é justamente a animação, de uma perfeição técnica impressionante ao recriar as espécies da época do Cretáceo Superior, e os efeitos especiais aplicados para isso.
Outro problema é que o 3D tão anunciado se apresenta de modo irregular durante o filme, alternando momentos em que a profundidade é bem-utilizada e outros em que se esquece de sua presença.
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