Holanda paga com cerveja alcoólatras que catam lixo nas ruas
Um grupo de alcoólatras em Amsterdã, capital da Holanda, está recolhendo lixo das ruas e recebendo cerveja como pagamento, em um projeto parcialmente financiado pelo governo do país. A iniciativa, encabeçada pelo grupo Rainbow, uma empresa privada que conta com verbas estatais, visa a proporcionar melhor qualidade de vida aos alcoólatras, ao mesmo tempo em […]
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Um grupo de alcoólatras em Amsterdã, capital da Holanda, está recolhendo lixo das ruas e recebendo cerveja como pagamento, em um projeto parcialmente financiado pelo governo do país.
A iniciativa, encabeçada pelo grupo Rainbow, uma empresa privada que conta com verbas estatais, visa a proporcionar melhor qualidade de vida aos alcoólatras, ao mesmo tempo em que lhes estimula a contribuir para a sociedade.
“É muito difícil tirar essas pessoas do álcool completamente. Nós já tentamos de tudo e isso é a única coisa que funciona. Podemos não fazer deles pessoas melhores, mas agora eles têm uma vida melhor e também é bom para cidade, porque estão contribuindo para o meio onde vivem”, afirma Janet van de Noord, coordenadora do projeto.
A Rainbow não divulga exatamente quanto o governo gasta provendo cerveja de graça para os participantes do projeto, temendo que uma eventual uma repercussão negativa possa prejudicar o financiamento.
Mas Van de Noord defende que a iniciativa é uma maneira eficaz de lutar contra o impacto do alcoolismo na sociedade holandesa.
“Se as pessoas estão sendo presas, isso também custa dinheiro à sociedade. Então esse projeto só pode ser uma coisa boa e não vejo porque outros países não poderiam fazer o mesmo”, sugere.
Orgulho
Rene, de 52 anos, percorre as ruas catando lixo. Seus movimentos refletem um certo orgulho que ele agora tem de si mesmo. Um sentimento nada comum para um homem que já pagou tão caro por causa do vício.
“Eu tenho quatro filhos e três ex-mulheres, mas o álcool acabou com tudo”, resume.
“Eu não os vejo mais, eles não sabem onde estou e nem se estou vivo. Agora eu só tenho ele. Ele está aqui há 30 anos, nas horas boas e ruins”, diz ele, em referência ao hábito de beber.
Seu olhar afetuoso navega para baixo e repousa sobre uma lata de alumínio.
Os alcoólatras se reúnem em um salão comunitário, administrado pela Rainbow. A organização ainda presta assistência aos moradores de rua e viciados em drogas, além dos alcoólatras.
Rene acaba de abrir sua terceira cerveja do dia. São apenas 11h30 da manhã.
Ele e outros 19 colegas de trabalho chegam às 9h e catam lixo até às 15h. Eles fazem pausas para tomar cerveja, fumar e almoçar. Tudo de graça.
O inconfundível aroma de stamppot, um traditional ensopado de legumes holandês, predomina na cozinha.
“Eles gostam de cozinhar e acabam descobrindo qualidades que nem sabiam que tinham”, diz Van de Noord.
Quando perguntei a alguns holandeses o que achavam do projeto, todos disseram que apoiavam a iniciativa inusitada do governo.
Queda na criminalidade
A dez minutos de ruas agora sem lixo está o parque Oosterpark.
Desde que o programa de limpeza por alcoólatras começou, há ano, a polícia diz ter recebido menos ocorrências de esfaqueamentos e roubos no local.
A Rainbow está otimista de que o sucesso obtido até agora vá atrair mais financiamentos para que possam incluir mais pessoas no esquema. Outras cidades no país cogitam implantar projetos semelhantes.
Floor van Bakkum, da clínica antinarcóticos de Amsterdã, diz que a iniciativa é uma boa forma de lidar com um grupo muito problemático e associa a estratégia à prática de administrar doses controladas de heroína em viciados na droga.
“Ter um trabalho pode ajudá-los a fazer outra coisa com suas vidas”, afirmou Bakkum, alertando que este tipo de iniciativa deve ser monitorada de perto para que não se torne um “convite aberto para beber no parque”.
“Este esquema não é indicado para alcoólatras que ainda moram em casa e têm emprego”, adverte.
Os fundadores do projeto encaram o alcoolismo como uma “realidade imutável” e resolveram enfrentá-lo com o único artifício que pode agradar os beneficiados pelo projeto.
“Eu venho aqui por causa da cerveja. Se não tivesse a cerveja, por que viria aqui?”, indaga Rene.
Independentemente de suas razões, o fato é que Rene e seus amigos estão fazendo uma diferença na comunidade onde vivem e que um dia os marginalizava.
“É verdade”, concorda Rene, reconhecendo a ironia. “Eles antes nos tratavam como lixo, e agora nós estamos recolhendo o lixo deles e, como consequência, não somos mais o lixo”.
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