Filho de Dener largou carreira por comparações com o pai

Foi em 19 de abril de 1994. Dener, uma das maiores revelações do futebol brasileiro dos anos 90, viajava de carro de São Paulo, onde negociou com a Portuguesa uma transferência para a Alemanha, para o Rio de Janeiro, cidade na qual atuava pelo Vasco, mas nunca chegou ao destino final. Na Lagoa Rodrigo de Freitas, acidentou-se e perdeu a vida, deixando Denis Gabino, então com 4 anos, Felipe Gabino, 2 anos, e Dener Gabino, 4 meses. Apesar de não terem memória do pai vivo, os três são influenciados até hoje pelo legado do jogador.

Embalados pelo ambiente em que foram criados e pelas histórias que ouviam do pai, Denis e Felipe chegaram a ficar perto de se profissionalizar no futebol. Atuaram nas categorias de base da Portuguesa por três anos, mas abandonaram o sonho. Para Denis, as excessivas comparações com o pai, que causaram problemas para o jogador no elenco do time rubro-verde, contribuíram para o fim prematuro da carreira.

“Parei de jogar por causa das comparações. Eu queria fazer a minha trajetória. Eu tinha que jogar igual a ele, na época os meninos do grupo do elenco também achavam que só por causa do meu pai eu estava ali. Tinha aquela panela contra, poucos moleques ali conversavam comigo. Isso foi chateando, me deixou triste, até o dia em que eu parei mesmo”, contou ao Terra Denis, que atuava como atacante.

“Lógico que eu queria ser igual a ele (Dener), ou o mais próximo. É igual você ver o Neymar, os moleques querem ser o Neymar. Eu tentava ser igual a ele, era uma influência. Mas queria fazer o meu caminho”, afirmou Denis.

Desempregado há três meses, quando largou emprego em uma rede de cama, mesa e banho, Denis deixou o sonho de ser jogador de futebol, mas mantém a vontade de seguir carreira no meio do esporte. O desejo é ainda maior por Denis achar que pode contar com o nome do pai para conseguir vencer na carreira – atualmente, o garoto de 24 anos faz um cursinho para entrar na faculdade.

“Eu pretendo ir para o meio do futebol, fazer uma faculdade. Acho que, com o nome do meu pai, eu tenho portas abertas em clubes, porque eu aprendi a gostar de futebol, mas não por causa dele”, disse Denis, que partilha o sonho do irmão. “Estou vendo o que eu vou fazer, mas quero algo com o futebol. Sempre me interessei muito, estou estudando para fazer algo na área”, disse ao Terra Felipe.

Filhos “descobrem” pai pelo YouTube

Apesar de nenhum dos três filhos terem memória do pai, os jovens dizem ter total consciência da representatividade de Dener para o futebol brasileiro. Além da imprensa, os meninos encontraram uma forma moderna, que não existia na época de Dener, para saberem mais sobre o pai: o YouTube, site de vídeos na internet.

“A gente não lembra nada, eu tinha quatro anos e eles dois, o mais novo tinha quatro meses. Vimos sobre ele na internet, eu procurava bastante. Foi por aí que a gente começou a ter noção de quem era o nosso pai. Hoje eu tenho bastante noção. Pelos vídeos que eu vejo, acho que ele era um craque, um gênio”, afirmou Denis, filho mais velho dos três.

O mesmo ponto de vista é compartilhado por Felipe. Para o jovem de 22 anos, o fato de as lembranças da carreira do jogador continuarem após 20 anos da morte de Dener já diz muito sobre o que seu pai significou para o futebol brasileiro.

“Consigo (ter a noção) pelos lances, também pelo que as pessoas falam dele. Não tem nem o que falar. Até hoje em dia a imprensa fala sobre ele. A gente sempre fica acompanhando, não tem como, muita gente fala. A gente sempre coloca no YouTube para ver. Estamos sempre tentando ir atrás do que ele era”, contou.

Apesar de contarem com o legado da paixão do futebol, os filhos de Dener não foram influenciados para torcer pela Portuguesa, clube no qual o ex-jogador iniciou sua trajetória curta, mas de sucesso no futebol. Denis, mais velho, torce para o Corinthians, enquanto os outros dois irmãos são são-paulinos. A admiração pelo pai, contudo, é igual não só para os três, como para o resto da família.